08 Janeiro 2024
"O movimento Vida Além do Trabalho – VAT iniciado nas redes sociais ganha crescente adesão na luta pela revisão da CLT pela extinção da escala 6×1. O movimento iniciado por um jovem negro está conseguindo fazer mais barulho que as Centrais Sindicais na luta pela redução da jornada de trabalho", escreve Cesar Sanson, professor na área da Sociologia do Trabalho na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Embora pouco conhecido, o movimento Vida Além do Trabalho – VAT vem recebendo grande adesão. O movimento iniciado pelo jovem influenciador Rick Azevedo no TikTok e ampliado para outras redes sociais questiona a jornada de trabalho 6x1, seis dias de trabalho e um de descanso e sugere uma “jornada de trabalho mais equilibrada, permitindo que os trabalhadores desfrutem de tempo para suas vidas pessoais e familiares”.
@rickazzevedo Até quando essa escravidão?? ? #clt #escala6x1 #fy ♬ som original - Rick Azevedo
Criado há quatro meses, o VAT já supera 1 milhão de curtidas no TikTok e tem mais de 130 mil seguidores. Em mensagens curtas, o influenciador manifesta a sua indignação com a falta de tempo para o lazer e descanso e sugere que a classe trabalhadora faça uma revolução pela redução da jornada de trabalho. Em um vídeo recente, Rick Azevedo afirma: “eu quero saber quando é que nós, a classe trabalhadora, iremos fazer uma revolução nesse país relacionada à escala 6×1”.
O Movimento lançou um abaixo-assinado que pede a alteração da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e já conta com mais de 500 mil assinaturas.
O abaixo-assinado destaca que “é de conhecimento geral que a jornada de trabalho no Brasil frequentemente ultrapassa os limites razoáveis, com a escala de trabalho 6×1 sendo uma das principais causas de exaustão física e mental dos trabalhadores. A carga horária abusiva imposta por essa escala de trabalho afeta negativamente a qualidade de vida dos empregados, comprometendo sua saúde, bem-estar e relações familiares”.
O movimento pede revisão na escala 6x1. Segundo Azevedo, a “pessoa tem que se doar para a empresa 6 dias na semana e folgar um dia só para ganhar salário-mínimo? Não dá. Se a gente não se revoltar e meter o pé na porta, as coisas não vão mudar. É escravidão”.
Movimentos que questionam jornadas padronizadas de trabalho associadas à subordinação vêm crescendo em todo o mundo. Uma dessas manifestações foi o movimento conhecido como “Grande Renúncia” em que 4,3 milhões de americanos pediram demissão de seus empregos no pós-pandemia. Há uma tendência a ser confirmada por pesquisas de que particularmente os jovens não veem sentido em ficarem seis dias por semana trabalhando oito horas por dia. A sensação é da vida se esvaindo em detrimento ao tempo de lazer, convivência com amigos e família.
A resistência a jornadas padronizadas pode ser uma das explicações para a adesão ao trabalho flexível como se vê nas plataformas ao contrário do trabalho formal com carteira assinada. Há inúmeros relatos de trabalhadores de aplicativos que largaram o seu emprego formal. Ao contrário do que se possa pensar, não se trata de trabalhadores que foram seduzidos pela ideologia do empreendedorismo, de que agora são donos do seu negócio. São conscientes das condições deletérias do trabalho a que estão submetidos, porém argumentam que ao menos têm a liberdade de logar e deslogar privilegiando assim o uso do tempo livre.
O que há de interessante no movimento Vida Além do Trabalho – VAT é que, aparentemente, ele não é favorável à flexibilização dos direitos, mas defende a redução da jornada com garantia de salário e o conjunto de direitos da CLT.
Outro aspecto revelado pelo movimento é o fato de que a centralidade que o trabalho ocupa na vida é uma exigência do capital e não uma reivindicação dos trabalhadores. Os que esses jovens parecem querer dizer é que a destinação humana ao trabalho em seu enquadramento capitalista não tem nenhum sentido porque se apresenta como ausência de sentido.
Ironicamente vem de um jovem negro a retomada pela luta na redução da jornada de trabalho. "Sozinho" está conseguindo fazer mais barulho que as Centrais Sindicais e o Ministério do Trabalho tendo à frente agora um ex-sindicalista.
O movimento pode ser seguindo nas redes sociais como TikTok, Twitter, instagram, Facebook e WhatsApp. Basta digitar "Vida Além do Trabalho" para acessar e seguir.
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Movimento ‘Vida Além do Trabalho’ viraliza nas redes sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU