04 Janeiro 2024
A reportagem é de Jean-Charles Putzolu e Francesca Sabatinelli, publicada por Religión Digital, 03-01-2023.
Há seis meses, a assistência alimentar à Síria foi reduzida pela metade e desde 1º de janeiro foi totalmente cancelada. O plano de ajuda do Programa Mundial de Alimentos, a agência da ONU encarregada da assistência alimentar global, foi interrompido.
Mais de cinco milhões de pessoas dependiam da entrega de alimentos e itens essenciais em um país que se aproxima do 13º ano de guerra (março de 2024) e foi ainda mais enfraquecido em fevereiro de 2023 por um dramático terremoto nas áreas fronteiriças com a Turquia.
A falta de fundos, ameaçada pela epidemia de Covid, a guerra na Ucrânia e agora também a de Gaza, levaram à decisão, explica o PMA, esgotando o orçamento disponível. Agora, o número estimado de pessoas sofrendo insegurança alimentar grave ultrapassa os 12 milhões.
"O povo sírio está condenado a morrer sem poder dizer nada", declara Dom Jacques Mourad, arcebispo de Homs, a terceira maior cidade da Síria em extensão há um ano. "É uma decisão terrível e injusta", continua o religioso, questionando por que a situação chegou a esse ponto. "Para nós, é como se o mundo dissesse ao povo sírio: 'Estão condenados a morrer, sem levantar a voz, sem dizer nada'. E por quê? Qual é a culpa do povo sírio?"
Suas palavras refletem o sofrimento que o povo suportou ao longo dos anos, gerado por uma guerra aparentemente interminável que continua a eliminar qualquer esperança. Mourad afirma que a decisão foi tomada para lançar o povo sírio à completa desesperança, apagar qualquer luz que pudesse permanecer acesa graças à fé e à esperança. "Mas nessa situação, estamos verdadeiramente derrotados".
Diante da interrupção da ajuda humanitária, que até agora beneficiava quase dois terços da população, surge a dúvida se ainda há esperança para evitar que as pessoas morram de fome.
Organizações não governamentais e a Igreja católica fizeram milagres na Síria nos últimos anos, apoiando a população de diversas maneiras. Contudo, diante da interrupção da ajuda humanitária, que atendia quase dois terços da população, surge a dúvida se ainda há esperança de evitar a fome.
A Igreja, assim como as organizações não governamentais, não pode atender a todas as necessidades do povo sírio, pois sua capacidade de financiamento é limitada. Além disso, enviar dinheiro para a Síria é impossível devido às sanções impostas pelos Estados Unidos e pela ONU. Como o povo sírio pode sobreviver? Já existem muitas famílias sírias que comem apenas uma vez por dia. "Esquecemos o que é o aquecimento, porque não podemos comprar diesel ou lenha; esquecemos o que é água quente, esquecemos o que é viver em sociedade. E vivemos na escuridão total, as cidades da Síria estão sem luz; certamente, os bairros ricos, representando apenas 5% da população, não refletem a situação do povo sírio".
Para Dom Jacques Mourad, a solução não está apenas na Igreja Católica, mas também na União Europeia. Ele espera que a UE adote uma posição clara, ditada por uma "sensibilidade humana e sincera". O apelo do arcebispo de Homs é angustiante. "Por que querem fazer este povo morrer?" é a pergunta atroz que ele lança ao mundo: "Não é possível que o mundo inteiro abandone o povo sírio. O que fizemos de errado para sermos condenados à morte?"
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Síria. Arcebispo de Homs: “A retirada da ajuda humanitária da AMP e o bloqueio condenam o povo sírio à morte” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU