22 Novembro 2023
Carta de Francisco em resposta à missiva de quatro mulheres alemãs ex-delegadas do Sínodo na Alemanha: "Porções desta Igreja local continuam ameaçando se afastar cada vez mais do caminho comum da Igreja universal. Oração, penitência e adoração são necessárias, e é preciso abrir-se aos irmãos."
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 21-11-2023.
Às "preocupações" expressas por quatro mulheres, teólogas e filósofas, sobre os desenvolvimentos do Synodale Weg, o caminho sinodal da Igreja na Alemanha, do qual foram delegadas e depois decidiram sair, o Papa responde em uma carta que também ele está preocupado "com os muitos passos concretos com os quais grandes porções desta Igreja local continuam ameaçando se afastar cada vez mais do caminho comum da Igreja universal".
Francisco coloca suas apreensões por escrito, já expressadas em outras ocasiões anteriores, em uma carta assinada por ele, datada de 10 de novembro, endereçada à teóloga moral Katharina Westerhorstmann, à teóloga Marianne Schlosser, à filósofa Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz e à publicista Dorothea Schmidt. As quatro estudiosas haviam enviado uma carta ao Pontífice em 6 de novembro para expressar dúvidas e receios sobre os resultados do caminho sinodal alemão concluído nos últimos meses. Um percurso que envolveu 230 delegados, entre bispos, padres, leigos e leigas, divididos em grupos de trabalho e concentrados em discutir temas como a bênção de casais do mesmo sexo, mudanças na moral sexual, celibato sacerdotal, poder clerical, combate ao mal dos abusos, papel das mulheres, com especial atenção ao diaconato feminino e à possibilidade da ordenação sacerdotal das mulheres. Todos os temas foram incluídos nos quatro documentos apresentados em março.
O que preocupa as quatro ex-delegadas do Synodale Weg é especialmente a ideia da constituição de um comitê sinodal "com o objetivo de preparar a introdução de um conselho diretivo e decisório". O Papa, referindo-se a isso em sua carta, destaca que esse organismo "na forma delineada no texto da decisão, não pode ser harmonizado com a estrutura sacramental da Igreja Católica". Ele lembra que sua constituição "foi proibida pela Santa Sé com carta de 16 de janeiro de 2023, aprovada por mim de forma específica", escreve Francisco.
No documento, ele também lembra de sua Carta ao Povo de Deus que está em caminho na Alemanha, publicada em 29 de junho de 2019: cerca de dez páginas divididas em treze pontos, onde o Bispo de Roma chamava os líderes da Igreja na Alemanha a caminhar na direção certa, a do Evangelho, sem se desviar para funcionalismos ou reducionismos ideológicos. A carta também foi mencionada na declaração da Santa Sé em 21 de julho de 2021, na qual foi esclarecido que o caminho sinodal não pode tomar decisões doutrinárias. Ou seja, não tem "a faculdade de obrigar os bispos e os fiéis" a "novos modos de governo e novas abordagens de doutrina e moral", dizia o texto, que terminava com a esperança de que as propostas do caminho na Alemanha pudessem se integrar ao caminho sinodal da Igreja universal.
Lembrando seu importante documento, o Papa escreve na carta às quatro mulheres: "Em vez de procurar a 'salvação' em comitês sempre novos e, com certa autorreferencialidade, discutindo sempre os mesmos temas, na minha Carta ao Povo de Deus que está em caminho na Alemanha, quis lembrar a necessidade da oração, penitência e adoração, e convidar a se abrir e sair ao encontro de nossos irmãos, especialmente daqueles que estão abandonados nas portas de nossas igrejas, nas ruas, nas prisões e hospitais, praças e cidades". "Estou convencido: lá o Senhor nos indicará o caminho", afirma o Papa Francisco.
Ele conclui agradecendo a Westerhorstmann, Schlosser, Gerl-Falkovitz e Schmidt pelo trabalho teológico e filosófico realizado e por sua "testemunha de fé": "Por favor, continuem a rezar por mim e por nossa preocupação comum pela unidade".
Em relação ao caminho sinodal, uma reunião entre o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, e alguns chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, e representantes da Conferência Episcopal Alemã, ocorreu em 26 de julho no Vaticano. Isso foi uma continuação do diálogo iniciado com a visita ad limina dos bispos alemães em novembro de 2022, durante a qual foram discutidas questões teológicas e disciplinares que surgiram no Synodale Weg. Exatamente um ano atrás, como mencionado, 62 prelados da Alemanha haviam se reunido com o Papa por cerca de uma semana; ao mesmo tempo, encontraram-se com o cardeal Parolin e outros chefes dos Dicastérios para uma reunião interdicasterial inédita, definida pelo presidente da Conferência Episcopal Alemã, monsenhor Georg Bätzing, como um "caso de emergência de sinodalidade".
O próprio Bätzing, ao falar com a imprensa no Instituto Augustinianum em Roma para relatar os trabalhos, disse estar "aliviado" com esses diálogos nos quais - enfatizou - "tudo, absolutamente tudo" foi colocado sobre a mesa: críticas, demandas, propostas, reservas "de Roma" e perplexidades. Sobretudo, os encontros, com o Papa e com a Cúria, foram uma oportunidade para esclarecer que por parte dos bispos alemães não há intenção de criar um "cisma". "Somos católicos", disse Bätzing, "e queremos continuar sendo assim".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa: compartilho as preocupações sobre os desenvolvimentos da Igreja na Alemanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU