15 Novembro 2023
A missão ad gentes se concretiza na vida, no sair de homens e mulheres que enviados pela Igreja anunciam o Evangelho nos confins do mundo. Na Igreja do Brasil existem testemunhos dessa concretude da missão, como foi relatado por Victória Holzbach, coordenadora do Conselho Missionário Regional Sul 3 e a Ir. Eliane Santana, religiosa da Congregação de São José de Chambery e assessora da Comissão Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no 5º Congresso Missionário Nacional que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
É a Igreja que envia, enfatizou a Ir. Eliane Santana, dizendo que “a Igreja local é responsável por cada comunidade que foi enviada”. Essa Igreja local tem que se sentir parte, ter empatia, pois “a missão é forte se ela está dentro de uma proposta eclesial”, lembrando que ela foi enviada pela CNBB e a CRB para a missão em Timor Leste.
Uma responsabilidade da Igreja local que segundo Victória Holzbach precisa de madurez para compreender essa responsabilidade, “uma Igreja que se coloca em saída, mas que também precisa acolher”, falando do missionário que volta da missão com a sacola cheia dos frutos que colheu no caminho e traz uma novidade para sua terra. Uma Igreja que envia para a missão o melhor que ela tem, que mesmo em sua pobreza não partilha a roupa rasgada e manchada, e sim a roupa de ir à missa no domingo, enfatizou a missionária leiga.
Victória Holzbach, coordenadora do Conselho Missionário Regional Sul 3. (Foto: enviada por Luis Miguel Modino)
Victória, que foi missionária em Moçambique no projeto missionário do Regional Sul 3, que em 29 anos já enviou 70 missionários e missionárias, contou a experiência de uma missão em sinodalidade, da qual fazem parte leigas, leigos, religiosos, religiosas e padres. O fato de viver em uma única casa, como equipe missionária, “é um sinal profético de uma Igreja disposta efetivamente à missão, onde se unem forças”, destacou. Isso porque uma Igreja sinodal não acontece por acaso, e sim a partir de estruturas para isso. Nessa missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista dos processos de tomadas de decisão, em pé de igualdade, destacando a importâncias das leigas nesse tempo de missão como Regional Sul 3. Uma perspectiva sinodal na missão que incomoda, “o protagonismo laical é desconfortante, especialmente se feminino”, ressaltou.
Um protagonismo laical feminino que também foi enfatizado pela Ir. Eliane Santana, que insistiu em que a presença missionária não é só para os cristãos católicos e sim para todos, o que ela experimentou na missão em Moçambique, em uma região onde 80 por cento da população eram muçulmanos, algo que viveu como “uma partilha constante de vivência, de respeito, de integração, de luta por mais vida em conjunto”, afirmando que a pobreza do islâmico é a mesma do que a do cristão, e testemunhando que era bem melhor partilhar do que fazer pequenos guetos.
Uma missão desafiada a se inserir nas periferias, e que tem que levar a descobrir que “somos enviados para amar aqueles que não se sentem amados, incluir aqueles que não são incluídos e chorar com aqueles que precisam chorar”, segundo a assessora da Comissão Missionária da CNBB. Ela chamou a ter a humildade de descobrir juntos, a não cair na resposta fácil, a buscar a unidade, que não é ser todo mundo igual e sim aceitar o diferente como ele é. Um desafio que tem a ver com a inclusão dos pobres, chamando a dar uma perspectiva de esperança para todos e para todas.
Partindo da ideia de que Deus é ser em relação, Holzbach vê isso como algo que tem que levar a entender que “não existe missão só comigo”, o que demanda “se colocar como caminhante ou como aprendente”, que renuncia aos seus saberes para compreender que “o povo é que nos ensina”. Isso se aprende sentando-se com o povo, esquecendo do relógio, pois “não é o tempo que regula a missão”. Segundo a assessora de comunicação do Regional Sul 3, “é a vulnerabilidade que nos permite compreender e viver a experiência da providência”, superando a autossuficiência que impossibilita a providência agir.
Uma missão que é mais ser do que fazer, ressaltou Vitória, que destacou a importância de “estar junto com o povo e compreender o dia a dia”, algo que o fato de ser leiga lhe facilita, pois tem mais liberdade para passar um dia com uma família conversando, dado que o fato de ser leiga leva a conhecer mais as histórias do povo, dado que os padres muitas vezes têm que se dedicar a celebrar.
Uma experiência do ser que é o que “também mais nos toca como consagradas”, segundo a Ir. Eliane. O que o povo recorda “é aquele momento que a gente estava chorando junto, ou que a gente simplesmente se sentou, abraçou e acolheu o sofrimento”, de viver momentos em que “a presença faz a pessoa se sentir importante, se sentir gente”, pois “ser Igreja é acolher”.
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Victória Holzbach: “Na missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista na tomada de decisões” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU