30 Outubro 2023
O termo LGBT+ desaparece do texto final e parece não haver abertura ao sacerdócio feminino, como muitos católicos na Alemanha esperavam. No entanto, tem havido um tímido lampejo de esperança para futuras pesquisas teológicas “sobre o acesso das mulheres ao diaconato, aproveitando os resultados das comissões especificamente estabelecidas pelo Papa. A questão das mulheres analisada e votada no Sínodo acabou por ser a parte sobre a qual houve maior batalha na Sala Nervi, com o risco de divisões, mesmo que todo o documento, sobre quarenta páginas, aprovadas por ampla maioria, submetidas à votação de cada artigo. O texto diz então que "muitas mulheres falaram de uma Igreja que dói. O clericalismo, o chauvinismo e o uso inadequado da autoridade continuam a desfigurar o rosto da Igreja e a prejudicar a comunhão”.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 29-10-2023.
Os pontos que causaram dores de cabeça e obrigaram os Cardeais Hollerich e Grech a fazer diversas mudanças no decorrer dos trabalhos sobre os critérios a adotar para evitar o surgimento de divisões feias foram os relativos às mulheres, ao celibato, ao gênero. Para dar um exemplo, o ponto 9, letra J, sobre o tema do diaconato feminino, aquele que registrou o maior número de votos ‘Não’, teve 69 votos negativos em cerca de 346. "A votação confirma que são pontos em aberto, que a discussão, a reflexão e a análise aprofundada estejam em andamento” explicou Mario Grech, secretário geral do Sínodo, apresentando o texto aprovado no final da assembleia geral. "Ficou claro que algumas questões encontrariam maior oposição. Na verdade, estou surpreso que muitos tenham votado a favor, significa que a resistência não é tão grande como pensávamos” sublinhou o relator geral, cardeal Hollerich.
O documento final servirá de base para a segunda parte do Sínodo que se realizará no próximo ano, entretanto algumas brechas foram abertas, enquanto outras portas se fecharam. "Diferentes posições foram expressas em relação ao acesso das mulheres ao ministério diaconal. Alguns consideram que este passo seria inaceitável, pois está em descontinuidade com a Tradição. Para outros, porém, afirmam que conceder às mulheres acesso ao diaconato restauraria uma prática da Igreja primitiva. Outros ainda discernem nesta passagem uma resposta adequada e necessária aos sinais dos tempos, fiel à Tradição e capaz de encontrar eco no coração de muitos que procuram renovada vitalidade e energia na Igreja. Alguns expressam o temor de que este pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, ao aceitar que a Igreja se alinharia com o espírito da época”.
"A Assembleia pede-nos que evitemos repetir o erro de falar das mulheres como uma questão ou um problema. Em vez disso, queremos promover uma Igreja na qual homens e mulheres dialoguem com o objetivo de compreender melhor a profundidade do plano de Deus, na qual apareçam juntos como protagonistas, sem subordinação, exclusão ou competição”.
“Considerar, avaliando caso a caso e dependendo dos contextos, a oportunidade de inserir padres que deixaram o ministério em um serviço pastoral que valorize a sua formação e experiência”.
"Algumas questões, como as relativas à identidade de gênero e orientação sexual, ao fim da vida, às situações conjugais difíceis, aos problemas éticos ligados à inteligência artificial, são controversas não só na sociedade, mas também na Igreja, porque colocam novas questões. Às vezes, as categorias antropológicas que desenvolvemos não são suficientes para captar a complexidade dos elementos que emergem da experiência ou do conhecimento científico e requerem refinamento e estudo mais aprofundado. É importante dedicar o tempo necessário a esta reflexão e investir nela as melhores energias, sem ceder a julgamentos simplificadores que prejudicam as pessoas e o Corpo da Igreja. Muitas indicações já são oferecidas pelo magistério e esperam ser traduzidas em iniciativas pastorais adequadas. Mesmo onde são necessários esclarecimentos adicionais, o comportamento de Jesus, assimilado na oração e na conversão do coração, mostra-nos o caminho a seguir.”
"Não existe apenas um tipo de pobreza. Entre os muitos rostos dos pobres estão aqueles de todos aqueles que não têm o necessário para levar uma vida digna. Depois, há os dos migrantes e refugiados; povos indígenas, originários e afrodescendentes; aqueles que sofrem violência e abuso, especialmente mulheres; pessoas com vícios; minorias a quem é sistematicamente negada voz; idosos abandonados; vítimas de racismo, exploração e tráfico, especialmente menores; trabalhadores explorados; economicamente excluídos e outros que vivem nos subúrbios. Os mais vulneráveis dos vulneráveis, para os quais é necessária uma defesa constante, são os bebês no útero e as suas mães. A Assembleia está consciente do grito dos “novos pobres”, produzido pelas guerras e pelo terrorismo que atormentam muitos países em diferentes continentes e condena os sistemas políticos e econômicos corruptos que são a causa”.
"Casos de abusos de vários tipos em detrimento de pessoas consagradas e membros de grupos leigos, em particular mulheres, sinalizam um problema no exercício da autoridade e exigem intervenções decisivas e adequadas”.
"Devem ser ativadas estruturas e processos de verificação regular do trabalho do Bispo, nas formas legalmente definidas, com referência ao estilo da sua autoridade, à administração econômica dos bens da diocese, ao funcionamento dos órgãos de participação e à proteção contra qualquer tipo de abuso. A cultura da denúncia é parte integrante de uma Igreja sinodal que promove a corresponsabilidade, bem como uma possível salvaguarda contra abusos”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Documento final do Vaticano aprovado no Sínodo: a questão das mulheres é a que mais incomoda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU