25 Outubro 2023
"Mas foi sobretudo a razão crítica moderna que reabriu os jogos interpretativos. E começou a divulgar uma imagem de Jesus despojado das roupas velhas do imperador e apresentado como o messias fraco, o Crucifixo impotente, ou o crítico do sistema, rebelde, revolucionário, anarquista. Do Cristo da glória ao Jesus da cruz; da figura firmemente sentada no trono ao Jesus socialista. E agora, que a parábola da modernidade parece estar se concluindo, que outra figura surgirá aos olhos dos agora poucos leitores da história de Jesus?", escreve Lidia Maggi, pastora batista italiana, em artigo publicado por Servitium, nº 259, jan/mar-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo ela, "agora, que a parábola da modernidade parece estar se concluindo, que outra figura surgirá aos olhos dos agora poucos leitores da história de Jesus? Seremos sempre obrigados a medir-nos com o espírito dos tempos mais que com a singularidade do profeta de Nazaré? Não podemos arrancar nossos olhos, amaldiçoando o panorama que eles contemplam, que é mais projetivo do que real".
"Os Evangelhos produzem sentido ao contar a história de Jesus, - constata a pastora - oferecendo aos nossos olhos – e aos questionamentos pessoais e históricos que os movem - uma fenomenologia em forma de narrativa da relação entre Jesus e o poder. O que o corpo de Jesus pode fazer? E o que podem fazer os corpos dos quantos o circundam?"
A figura de Jesus emerge do testemunho das Escrituras. Mas essas últimas têm significado apenas graças a quem as lê. E o ato da leitura não coincide com o gesto neutro da coleta dos dados presentes no texto, na explicitação do que a câmera da narrativa registrou. Quem lê constitui “a outra metade do texto”: são os seus olhos, as suas lentes que focam ou deixam na sombra a paisagem do mundo da narrativa. Também a leitura da história de Jesus se vê confrontada com as sensibilidades pessoais e históricas que, como um farol, iluminam, num determinado momento, alguns aspectos e, num momento diferente, outros. Quanto à questão do poder, esse filtro com que abordamos o testemunho evangélico mostra todo o seu peso. As lentes dos antigos estavam mais inclinadas a realçar o seu carácter positivo, corolário necessário daquela onipotência divina conatural à natureza do Filho de Deus. Ao redor do poder de Jesus tomou forma a fé cristã e a sua teologia, a compreensão dos ministérios e a estrutura eclesiológica, a religiosidade popular e liturgia.
O reconhecimento do poder é, portanto, central para compreender o significado singular da figura de Jesus. As lentes dos modernos modificaram radicalmente essa compreensão, discutindo a suposta centralidade da questão do poder. Claro, também não faltaram anteriormente olhos penetrantes, não convencidos pela leitura oficial. Basta pensar no caso do primeiro monaquismo e de quantos, precisamente graças a uma compreensão diferente da narrativa evangélica, viram criticamente a "virada constantiniana" feita pela igreja.
Mas foi sobretudo a razão crítica moderna que reabriu os jogos interpretativos. E começou a divulgar uma imagem de Jesus despojado das roupas velhas do imperador e apresentado como o messias fraco, o Crucifixo impotente, ou o crítico do sistema, rebelde, revolucionário, anarquista. Do Cristo da glória ao Jesus da cruz; da figura firmemente sentada no trono ao Jesus socialista.
E agora, que a parábola da modernidade parece estar se concluindo, que outra figura surgirá aos olhos dos agora poucos leitores da história de Jesus? Seremos sempre obrigados a medir-nos com o espírito dos tempos mais que com a singularidade do profeta de Nazaré? Não podemos arrancar nossos olhos, amaldiçoando o panorama que eles contemplam, que é mais projetivo do que real. Podemos, em vez disso, valorizar a longa história que nos precedeu e, como anões nos ombros de gigantes, ir um pouco mais longe na tentativa de desvendar um problema particularmente complicado. Podemos, pelo menos, tentar ir além da seca contraposição entre o poder como verbo ou substantivo, entre o fascínio das possibilidades e a violência da imposição. E podemos fazê-lo não tanto com base num esclarecimento conceitual, mas seguindo aquela razão narrativa que sustenta a história evangélica.
Os Evangelhos produzem sentido ao contar a história de Jesus, oferecendo aos nossos olhos – e aos questionamentos pessoais e históricos que os movem - uma fenomenologia em forma de narrativa da relação entre Jesus e o poder. O que o corpo de Jesus pode fazer? E o que podem fazer os corpos dos quantos o circundam? Jesus é descrito como um homem marginal, certamente, que não faz parte do establishment político, religioso ou econômico, mas que pode atuar de forma significativa.
A releitura da sua história à luz da Páscoa poderia prestar-se à suspeita ideológica de uma subsequente atribuição de poder que, para citar Nietzsche, nasceria do ressentimento e da transvaloração dos valores de que é portadora. Suspeita legítima, mas pouco plausível para uma narrativa irônica, como aquela evangélica, onde a história de Jesus é narrada junto à incompreensão dos seus discípulos e à sua conclusão não tem medo de mostrar a real e dramática travessia do vale da sombra da morte, a imersão nas trevas da sexta-feira. Ou seja, a história – pelo menos aquela sinóptica; a situação é diferente para João –ele não teme colocar em cena um Jesus impotente, à mercê de outros poderes.
Mas esse é o desfecho de uma história que quis e pôde operar de uma determinada forma.
As narrativas evangélicas falam de um Jesus que percorre as estradas da Galileia, Samaria e Judeia, ao longo das quais pode ensinar.
Encontramos esse foco no seu poder de ensinar em pontos estratégicos da história. No final do discurso programático que o Mestre de Nazaré dirige à multidão e ao círculo de seus discípulos na montanha, o conhecido final do narrador oferece daquele longo e articulado discurso a impressão deixada nos ouvintes, piscando em certo sentido o olho para o leitor, para que também ele valorize aquele ensinamento singular: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas" (Mateus 7, 28-29). Lucas também fala sobre isso, logo após sua versão do discurso programático de Jesus, que aconteceu na sinagoga de Nazaré (4, 32). E Marcos o destaca por duas vezes ao narrar o início do ministério, mostrando um dia típico de Jesus (1, 22,27).
Além de considerar essa tradução mais ou menos adequada, que faz uso da oposição entre autoridade imposta e autoridade reconhecida, temos aqui o atestado de que o corpo de Jesus foi capaz de oferecer um ensinamento que tocou o coração dos ouvintes.
Além disso, o corpo de Jesus pode levantar os humanos dobrados pela doença ou por aquele sentimento de fracasso que as Escrituras chamam de “pecado”. O poder de perdoar e curar é contado pelos sinópticos na cena do paralítico, conduzido a Jesus por quatro amigos empreendedores e criativos (muito diferentes dos quatro amigos do bar, protagonistas da música de Gino Paoli!). Se os corpos daqueles homens podem destapar os telhados, o corpo de Jesus pode abrir o universo fechado da doença e do pecado: “para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico), A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa. E levantou-se e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos" (Marcos 2).
O corpo que pode dizer e fazer, que traz boas novas e opera maravilhas, é um corpo que deseja e pode combater o mal. Que deseja e pode restabelecer a justiça daquela vida boa, que é o sonho do Criador desde a fundação do mundo. Não é um corpo que uma vez quer e pode isso e outra vez quer e pode aquilo.
As possibilidades postas em prática por aquele corpo não são da ordem do arbitrário ou do interesse privado do sujeito que fala e atua. Usando as palavras de João, Jesus pode dispor de sua própria vida:
“Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la" (10, 18). Mas Jesus determina essa disposição livre, essa possibilidade aberta, em termos de dom: foi-lhe dado um poder que atua sobre cada corpo “para que receba a vida eterna” (João 17, 2). É o poder de quem não vem como “O ladrão que vem só para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10,10).
O poder implementado na história de Jesus é da ordem de “no começo”, ou seja, da mesma ordem da vontade e do poder originário do Criador, que contrasta o negativo, colocando uma barreira para o caos, separando os seres criados do abraço mortífero do indistinto. Para a história bíblica, há um mal original que deve ser combatido, não eliminado –operação julgada impossível – mas enfraquecendo-o, limitando-o para que não preencha toda a cena. Que o ponto de partida seja o não-bom, que seja aquele o lugar onde poder atuar tendo como objetivo o restabelecimento do bem, a reabilitação dos corpos, o narra o relato de Lucas, que se questiona precisamente sobre a origem do poder.
Na cena que serve de prelúdio ao ministério de Jesus, aquela que, no deserto, vê à obra o tentador, ouvem-se palavras diabólicas: “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás" (Lucas 4, 5-8). Há uma força negativa que sofre a condição humana e que Jesus nos convida a temer e combater: “eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei” (Lucas 12, 5).
Um poder violento que Jesus experimenta no momento da sua prisão, quando os corpos dos chefes avançam sobre ele “com espadas e varapaus, como se estivessem contra um salteador! Tenho estado todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas" (Lucas 22, 52f).
Aqui o poder negativo, os corpos que não desejam restabelecer a justiça, mas manter a ordem injusta, o poder das autoridades que se opõem ao poder de Jesus, o poder manifestado visivelmente por Pilatos – “Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?” (João 19, 10) – entra em cena com toda a sua violência.
O que os corpos podem fazer? E por que podem fazer escolhas divergentes e opostas? Por que no mundo se pode fazer tanto o bem como o mal, com uma preponderância por esse último? De onde vem esse poder? O questionamento chave, que intriga quem lê a narrativa do Evangelho e toda a Escritura, não se dissolve. Nesse sentido, é emblemática a cena da discussão de Jesus com as autoridades que o acusam de agir com base em poder injustificado: “E, chegando ao templo, acercaram-se dele, estando já ensinando, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: Com que autoridade fazes isto? e quem te deu tal autoridade? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Eu também vos perguntarei uma coisa; se a disserdes a mim, também eu vos direi com que autoridade faço isto. O batismo de João, de onde era? Do céu, ou dos homens? E pensavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que não o crestes? E, se dissermos: Dos homens, tememos o povo, porque todos consideram João como profeta. E, respondendo a Jesus, disseram: Não sabemos. Ele disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto” (Mateus 21, 23ss).
Somente no final serão revelados os pensamentos secretos do coração, fonte de onde brota o modo de exercer o seu poder. E Jesus revelará o que está escondido na raiz da existência, ele a quem foi dado o poder de julgar (cf. João 5, 27ss.).
Mas as narrativas evangélicas, apesar da sua estratégia narrativa distinta, mostram-nos unanimemente o corpo de Jesus que deseja e pode favorecer a possibilidade de outros corpos. O que pode um corpo em relação a outros corpos? O que ele pode fazer para que outros se descubram como corpos que também podem? O testemunho evangélico sobre Jesus fala de seu desejo e poder de dar poder a outros. Aos discípulos, em primeiro lugar: “E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal” (Mateus 10,1).
Não um poder temporário, apenas para tamponar o poder do Mestre, que não pode estar em todos os lugares.
Para Mateus, de fato, a mesma atribuição de poder também é enunciada no mandamento final do Jesus Ressuscitado: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra. Vão, portanto [...]” (28, 18s).
Uma potência que Marcos demonstra à obra não individualmente, mas na companhia do “dois a dois”:
“Chamando os Doze para junto de si, enviou-os de dois em dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos" (6, 7). E que Lucas especifica como garantia para não sucumbir ao mal: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum" (10, 19). Nas palavras de João: o corpo de Jesus “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (1,12).
Ou, na linguagem parabólica: o homem poderoso, que se coloca em viagem, dá a responsabilidade, “o poder para os seus servos, a cada um com a sua tarefa” (Marcos 13, 34); um poder enorme, que é oferecido aquele que foi “fiel nas mínimas coisas”, fazendo render as minas recebidas (cf. Lucas 19, 17).
Mas é especialmente com as protagonistas femininas da narrativa que o corpo de Jesus atua intencionalmente um empoderamento que o código patriarcal não considerava possível, que considerava perigoso.
Jesus liberta as mulheres do demônio do patriarcado; permite que elas sejam suas discípulas e o sigam e sirvam junto com os discípulos do sexo masculino. O que o corpo de uma mulher pode fazer? Nem mesmo a pergunta era possível. Até o poder de gerar era entendido como possibilidade masculina; a mulher só servia como recipiente. As mulheres moviam-se no horizonte do sofrimento, não no da ação.
Relegadas à reserva do espaço privado e sujeitas a inúmeras proibições – ou seja, indicações de não poder - são sobretudo elas que experimentam a força da libertação do mal levada a cabo por Jesus. Juntamente com os outros sujeitos marginais, excluídos do poder e incapazes de se pensarem como pessoas que podem falar e agir, pensar e inventar, que podem interromper a longa história de quantos são condenados a sofrer passivamente a existência, invadindo territórios onde os corpos podem redescobrir a sua capacidade de poder, as mulheres protagonistas da narrativa evangélica representam o caso sério da questão do poder posta por Jesus. Com uma estratégia narrativa surpreendente, que se alicerça na reticência, o primeiro a contar a história de Jesus, o evangelista Marcos, faz com que entrem em cena no final. Depois do aparecimento da mulher anônima, que unge Jesus, na casa de Simão, o leproso (cf. Marcos 14, 3ss), um fragmento capaz de expressar todo o sentido da paixão, morte e ressurreição de Jesus que justamente ali começa a ser contada, em inclusão, ao final, o narrador nos revela que, no momento da crucificação, também havia mulheres que olhavam de longe.
“E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé; as quais também o seguiam, e o serviam, quando estava na Galileia; e muitas outras, que tinham subido com ele a Jerusalém” (Marcos 15, 40s). Quem lê a história de Marcos só agora descobre que as mulheres estavam no seguimento de Jesus desde o início na Galileia. Que Jesus também deu às mulheres o poder de serem suas discípulas (como pode ser visto pelos dois verbos técnicos utilizados: seguir e servir). E, portanto, quem lê, à luz dessa nova e inesperada informação, é chamado a reler toda a história, prestando atenção não só ao que o corpo de Jesus pode fazer, mas também ao que permite fazer a quem, até aquele momento, não tinha tido nenhuma oportunidade de agir. Um poder inimaginável, que Marcos descreve como surpreendente e incrível, a ponto de terminar a sua narrativa mostrando as mulheres no sepulcro assustadas, mudas e em fuga (cf. Marcos 16, 8).
Da mesma forma que nós, leitoras e leitores, aliás, ainda incapazes de olhar para a vida em termos de um poder tão ilimitado, capaz de derrubar os poderes estabelecidos e as suas políticas de exclusão e subjugação.
O mínimo que se pode dizer é que Jesus reabriu a questão do poder, mostrando as possibilidades de redenção do mal e revelando o uso perverso que dele fazem os poderosos que criam injustiça. A capacidade de Jesus de dar poder a outros, de fazer com que eles se tornem capazes de fazer, está no centro do seu agir, Marcos destaca isso com o verbo “chamar”. No início da história de Jesus, Marcos narra seu chamado aos discípulos, aquele Jesus que não é reticente, mas age com determinação. E também para os Doze “chamou para junto de si” quem ele queria, não para impor a sua autoridade, mas para compartilhar com eles a sua missão.
Isso também é muito claro quando Jesus diz aos Doze: “quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se vosso escravo" (Marcos 10, 43f).
Isso significa que Jesus dá poder a quem o segue e é capaz de servi-lo e aos outros.
Ou seja, Jesus age de acordo com a lógica do seu próprio corpo, que deseja e pode o bem. Não para impedir os outros de agir, mas para abrir o caminho a outros corpos, para que eles possam fazer, tanto quanto se deseja, o bem. Não porque a grandeza do ser humano esteja em calar os outros e tirar-lhes o poder de falar, mas na partilha do poder e na abertura de novos horizontes.
Em suma, Jesus enuncia e implementa uma lógica de poder que não se baseia na supressão ou submissão de outros, mas na potencialização e empoderamento de outros.
Isso é o que Jesus pode fazer e faz. E também é o que Jesus nos convida a fazer. Em uma lógica de respeito e reconhecimento recíproco, de partilha de possibilidades e não de negação, de controle ou de manipulação do poder.
O caminho da seguidora ou do seguidor de Jesus – das mulheres que quiseram servir, estar ao seu lado e servi-lo – é aquele da transformação do próprio poder para que ele possa ser usado para fazer o bem aos outros. Portanto, Jesus é um mestre de poder, mas não no sentido do poder descontrolado que suprime os outros, mas do poder controlado que sabe, como Mateus descreve, servir a liberdade e a dignidade dos outros. Porque se um corpo tem poder, não é só para fazer e acontecer para si mesmo, mas para oferecê-lo em partilha com outros, a fim de que também eles possam viver de maneira boa e digna. O poder de Jesus é um poder que sabe servir, doar, compartilhar.
As narrativas do Novo Testamento, em particular os Evangelhos, fornecem um quadro complexo da relação entre Jesus e o poder. Jesus é apresentado como alguém que exerce um poder notável, capaz de ensinar, curar e perdoar pecados. No entanto, ele também é retratado como um profeta marginalizado e crucificado pelas autoridades políticas e religiosas da época. Essa tensão entre o poder de Jesus e sua marginalização levanta questões importantes sobre como entender seu papel e influência.
O poder de Jesus é multifacetado. Ele ensina com autoridade e realiza milagres, demonstrando seu domínio sobre as forças espirituais e físicas. Sua capacidade de curar os doentes e perdoar pecados é vista como um poder divino. No entanto, seu poder também é desafiado e questionado por aqueles que representam o status quo, como os líderes religiosos e as autoridades romanas.
Além disso, Jesus apresenta uma visão diferente de poder. Ele ensina que o maior é aquele que serve e que seus seguidores devem buscar o bem-estar dos outros. Ele desafia as estruturas de poder opressivas de seu tempo e prega a justiça, a compaixão e o amor ao próximo. Portanto, Jesus não busca o poder no sentido convencional, mas promove um poder baseado na justiça e no serviço.
A crucificação de Jesus é a expressão máxima dessa tensão. Ele é condenado à morte por representantes das autoridades religiosas e políticas, mas sua morte é vista como um ato redentor que revela o poder divino de perdoar pecados e trazer salvação.
Em última análise, a compreensão do poder de Jesus depende da perspectiva de quem o interpreta. Para alguns, ele é visto como um mestre divino com autoridade sobre todas as coisas. Para outros, ele é um líder marginalizado que desafia as estruturas de poder opressivas. Em qualquer caso, as narrativas do Novo Testamento oferecem uma visão rica e complexa da relação entre Jesus e o poder.
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O que pode um corpo? O poder de Jesus e daqueles que o encontraram. Artigo de Lidia Maggi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU