10 Outubro 2023
"O Papa quis lançar um grito de alarme nessa sua carta. Ele o expressou com uma clareza que nunca havia usado antes. Também há uma reflexão adicional que me ocorre a esse respeito", explica Carlo Petrini na entrevista a seguir.
Carlo Petrini é fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terra futura (editora Giunti e Slow Food), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre ecologia integral e o destino do planeta.
A entrevista é de Alessandra Arlachi, publicada por Corriere della Sera, 05-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Carlo Petrini, você que foi o fundador do Slow Food, teve a sorte de escrever um livro com o Papa.
Sim, Terra futura. Dialoghi com Papa Francesco sull’ecologia integrale.
Reprodução da capa do livro (Foto: Vatican News)
Vocês trabalharam juntos?
O livro é o resultado de três longos encontros, realizados entre 2018 e 2019, baseados principalmente em questões ambientais, mas também em conversas que tivemos em relação à fase histórica que estamos passando.
Teve a oportunidade de ler a exortação apostólica Laudate deum publicada ontem pelo Pontífice?
Sim, a vi. O Papa já a havia anunciado poucos dias atrás, então decidiu torná-la pública num dia simbólico.
O dia de São Francisco.
Exatamente.
O que você acha?
São reflexões muito importantes. Muito mais incisiva que a Laudato Si', a encíclica que ele escreveu em 2015.
São reflexões sobre o meio ambiente, sobre os desastres criados pelas mudanças climáticas.
Sim, são um estímulo fundamental para a COP28, a Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas que será realizada no final do ano nos Emirados Árabes Unidos.
A encíclica Laudato si' também precedeu a COP21, realizada em Paris no fim de 2015. Aquela também representou um aviso aos poderosos do mundo?
Sim, o Papa a escreveu por ocasião daquela conferência. Na COP21 foram assumidos compromissos importante. No entanto, não foram respeitados.
Os chamados Acordo de Paris, citados em todas as conferências subsequentes desde então...
Mas, repito, são acordos que nunca foram respeitados. Em Paris foi estabelecido que a temperatura da Terra não deveria subir mais de um grau e meio. Falou-se que com uma temperatura entre um grau e meio e dois estaríamos indo para o desastre.
E foi assim?
É o que está acontecendo. O que vemos todos os dias. O que está se deflagrando ao nosso redor. Inundações, secas.
Há quem negue firmemente que as alterações climáticas estejam ligadas à atividade humana. Negam que a concentração de dióxido de carbono seja responsável por desastres.
É também por isso que o Papa quis lançar um grito de alarme nessa sua carta. Ele o expressou com uma clareza que nunca havia usado antes. Também há uma reflexão adicional que me ocorre a esse respeito.
Qual?
É importante a tomada de posição que o Papa assumiu em relação aos negacionistas. Falou de um erro anticientífico. Mas o que cabe salientar é a sensibilidade que demonstrou em relação aos jovens.
O que ele escreveu sobre os jovens?
Ele mostrou apreço por sua mobilização que vem de baixo.
E não pelo que os poderosos da terra podem fazer?
É claro, a Laudate Deum foi escrita para exortar os políticos a implementarem comportamentos virtuosos.
O Papa, no entanto, chegou a demonstrar compreensão também para com certos radicalismos de movimentos, associações, as realidades mais variadas. A razão é simples: a situação está se tornando dramática.
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Laudate Deum. “Um alerta importante contra os negacionistas e um estímulo para os grandes”. Entrevista com Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU