19 Setembro 2023
"Os Estados Unidos da América (EUA) sofreram 371 desastres meteorológicos e ambientais desde 1980, onde os danos/custos globais atingiram ou excederam um bilhão de dólares (ajustados pela inflação)", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 18-09-2023.
“O colapso climático global já começou”,
António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas (setembro 2023)
O custo total destes 371 eventos ultrapassa a cifra de 2,62 trilhões de dólares, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
Faltando quatro meses para o final do atual ano, os EUA foram atingidos por 23 desastres que custaram pelo menos um bilhão de dólares cada um, de acordo com novos dados da NOAA, superando o recorde anterior anual de 22 eventos em 2020. Esses desastres incluíram 2 eventos de inundação, 18 eventos de tempestade severa, 1 evento de ciclone tropical, 1 evento de incêndio florestal e 1 evento de tempestade de inverno, conforme mostra o gráfico abaixo.
Este mapa indica a localização aproximada de cada um dos 23 desastres climáticos e meteorológicos separados, cada um deles causando prejuízos bilionários, que afetaram os Estados Unidos até agosto de 2023 | Reprodução: EcoDebate
No geral, estes acontecimentos resultaram na morte de 253 pessoas e tiveram efeitos econômicos significativos nas áreas afetadas. A média anual de 1980–2022 foi de 8,1 eventos e a média anual dos últimos 5 anos (2018–2022) foi de 18 eventos. A NOAA ainda está analisando se outros eventos, incluindo a seca no Sul e Centro-Oeste e a tempestade tropical Hilary, que atingiu o sul da Califórnia neste verão, podem ter ultrapassado a marca de um bilhão de dólares.
O impacto dos desastres climáticos nos EUA não se limita apenas às consequências imediatas, como danos à propriedade e risco à vida, mas também inclui custos econômicos significativos, como gastos com recuperação, seguro, perda de produção agrícola e danos à infraestrutura. Além disso, esses eventos têm implicações para a saúde pública, segurança alimentar, segurança da água e qualidade de vida das comunidades afetadas.
O fato é que a conjuntura climática mudou e as sociedades estão tendo de relacionar com eventos deseconômicos. Como disse o sociólogo Ulrich Beck, no livro Sociedade de Risco (2010): “O que estava em jogo no velho conflito industrial do trabalho contra o capital eram positividades: lucros, prosperidade, bens de consumo. No novo conflito ecológico, o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças”.
As tragédias climáticas não atingem apenas os EUA – um dos países mais ricos do mundo – mas se espalham por todo o globo. O ano de 2023 tem sido marcado por incêndios florestais nas florestas boreais do Canadá e da Rússia (locais frios e com grande presença de gelo durante grande parte do ano), incêndios e inundações catastróficas na Grécia, enchentes na China, Vietnã, Índia, etc. Destruição de uma cidade histórica, Lahaina, na ilha de Maui, no Havaí. Inundações apocalípticas na cidade de Derna, na Líbia. Inundações nunca vista na bacia do Rio Taquari no Rio Grande do Sul. A lista de desastres climáticos e ambientais é interminável.
Todos estes acontecimentos parecem dar razão ao jornalista David Wallace-Wells que publicou, no dia 09-07-2017, uma matéria denominada “The Uninhabitable Earth”, na revista New York Magazine (NYMag), pintando um cenário apocalíptico para o Planeta – um Armagedon climático – caso as tendências correntes se mantivessem ao longo do século. O artigo se tornou viral e foi comentado amplamente em diversos países do mundo e passou a ser o artigo mais lido da revista.
O texto começou de forma bem pessimista, “Prometo, é pior do que você pensa”, e foi criticado pelo tom alarmista (ALVES, 26-12-2019). Porém, contou com amplo apoio e se tornou um livro de grande repercussão dois anos depois, mostrando que áreas crescentes da Terra estão se tornando inabitáveis.
Evidentemente, existem muitas dúvidas sobre o desenrolar do colapso climático. Mas há uma certeza inquestionável que evidencia que os desastres atuais vão piorar na medida em que a humanidade continue emitindo, em grande quantidade, gases de efeito estufa que aceleram o aquecimento global e que fazem dos últimos 10 anos (2014 a 2023) os mais quentes do Holoceno. Portanto, “o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças”.
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Desastres climáticos de bilhões de dólares nos EUA em 2023 já batem recordes históricos. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU