27 Junho 2022
"Deveríamos estar cientes de que vivemos em um lugar especial, mas ao mesmo tempo frágil, com um equilíbrio que é resultado de uma evolução que ocorreu ao longo de milhões de anos e que nós estamos colocando em risco no espaço de uma geração. Vivemos uma profunda contradição existencial: temos informações globais, sabemos o que está acontecendo em muitas partes da Terra, mas só nos preocupamos com o que nos interessa de perto, no espaço e no tempo", escreve Perna Tonino, em artigo publicado por Il Manifesto, 24-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Reclamamos pelo calor, mas algo está mudando e não é insignificante. É inútil esconder a cabeça debaixo do travesseiro, pois a vida no planeta se torna cada vez mais complicada e posta à dura prova.
Em 28 de maio passado, em Turbat, na região do Baluchistão (Paquistão), foi atingido um novo recorde de alta temperatura, chegando a 53,7°C. Na última década, as temperaturas também subiram acima de 50°C em outros países asiáticos, principalmente na Índia, Irã e Iraque.
Mas esses dados não nos preocuparam, não nos questionaram sobre nosso futuro, como aconteceu com os conflitos armados que infectam tantos países da África à Ásia e à América Latina, até que a guerra chegou à porta da nossa casa, não nos preocupamos. Enquanto no verão os picos de temperatura estão subindo de ano para ano, no inverno ocorre o inverso com temperaturas abaixo de zero que romperam o teto de 60°C (fenômeno que tratei no passado, analisando algumas séries históricas, no ensaio "Eventi estremi", Milão, 2011).
Digamos melhor: enquanto a temperatura média do nosso planeta aumenta desde a época da revolução industrial, os picos de temperatura, para cima e para baixo, continuam a romper os limites extremos, tornando a vida dos seres vivos, das plantas aos animais, extremamente difícil. A vida em nosso planeta foi possível dentro dessa faixa de temperaturas. Em todos os outros planetas as temperaturas mínimas e máximas vão muito além dos 100°C, e sobretudo as variações de temperatura, como também acontece na Lua, são insustentáveis para como conhecemos a vida na Terra.
A fascinante Vênus que é entra em cena nas noites de verão tem uma temperatura de 475°C durante o dia e -185°C à noite, que é igual à temperatura média do gélido Saturno, enquanto Mercúrio é mais fervente que o inferno dantesco com seus 430°C que à noite caem para -185°C.
Deveríamos estar cientes de que vivemos em um lugar especial, mas ao mesmo tempo frágil, com um equilíbrio que é resultado de uma evolução que ocorreu ao longo de milhões de anos e que nós estamos colocando em risco no espaço de uma geração. Vivemos uma profunda contradição existencial: temos informações globais, sabemos o que está acontecendo em muitas partes da Terra, mas só nos preocupamos com o que nos interessa de perto, no espaço e no tempo.
Nós humanos que vivemos no planeta não desenvolvemos uma consciência à altura do progresso tecnológico, pelo contrário, nos fechamos em nosso "particular" no sentido de Guicciardini, ou seja, na única esfera em que pensamos que agir e contar. Somente quando somos diretamente afetados é que nos damos conta de um determinado fenômeno.
Isso está acontecendo com os efeitos das mudanças climáticas que até agora só nos tocaram de leve em comparação com aqueles eventos extremos que são registrados em outros países do Sul do mundo.
É bom saber, no entanto, que deveríamos nos preparar para enfrentar também esses picos de temperatura, que, como aconteceu na França em 2003, podem causar milhares de vítimas entre todos os seres vivos. Começando pelos entes locais, deveria ser previsto um plano de emergência para as ondas de calor de forma a proteger as camadas mais frágeis da população.
As medidas necessárias não são difíceis de identificar.
E preciso evitar os desperdícios do recurso hídrico que está se tornando, e percebemos isso nos dias de hoje, cada vez mais precioso, assim como deveria ser proibido o consumo irresponsável de ar condicionado com as portas abertas dos estabelecimentos comerciais, enquanto pessoas idosas e pobres não podem mais ligar um ventilador devido aos aumentos da tarifa da luz. Ao mesmo tempo, deveríamos começar agora a ver como poderemos nos aquecer no inverno se prevalecer o pior cenário (gás zero da Rússia), com um plano voltado para a economia de energia e um uso muito mais generalizado de energias renováveis. Deveríamos operar como as grandes marcas de moda que apresentam hoje as novidades para a próxima primavera/verão.
Por último, deveríamos unir os nossos esforços, pelo menos em nível europeu, para enfrentar esta crise climática e, em vez disso, fazemos tudo para alimentar a guerra na Ucrânia, voltamos a usar carvão, não queremos nenhuma redução nos nossos consumos poluentes, e tudo isso o chamamos de "retorno à normalidade".
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Como se defender da chegada de eventos climáticos extremos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU