O ecocídio é também um suicídio. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Foto: @Dikaseva | Unsplash

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24 Agosto 2023

"É preciso abandonar a distopia do Antropoceno e abraçar a utopia do Ecoceno. A natureza não precisa das pessoas, mas as pessoas são totalmente dependentes da natureza."

A opinião é de José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador, em artigo publicado por EcoDebate, 23-08-2023.

Eis o artigo.

“A mentira é o único privilégio do ser humano sobre todos os outros animais”
Fiódor Dostoiévski (1821-1881)

A discriminação contra as espécies não humanas e a escravidão animal (Especismo) são crimes que podem ser considerados de maior volume e de maior ameaça existencial do que o racismo, o sexismo, o etarismo, a homofobia e o xenofobismo.

O Dia Mundial pelo fim do Especismo e por uma sociedade ecocêntrica, vêm se somar à luta pela justiça social e contra todas as formas de discriminação, ao mesmo tempo que busca combater a crise climática e ambiental com respeito aos direitos humanos e aos direitos da natureza, buscando soluções de sobrevivência humana, de maneira harmônica e amigável com o meio ambiente.

O mundo precisa de uma revolução paradigmática, pois a ideia do “desenvolvimento sustentável” tem se transformado em um grande fracasso global. Os empresários, banqueiros, políticos e muitos sindicalistas e líderes populares compartilham o sonho de um crescimento econômico ilimitado e de uma produção abundante de bens e serviços para gerar uma enorme prosperidade humana de forma ambientalmente sustentável.

Mas, na prática, o que tem ocorrido é que a expansão das atividades antrópicas está gerando um grande desequilíbrio no Planeta, acelerando dois vetores que são uma ameaça existencial à vida na Terra: 1) o aquecimento global e 2) a 6ª extinção em massa da espécies.

O aumento da temperatura é uma grande ameaça à vida na Terra. O crescimento das emissões de CO2 tem aumentado a concentração de gases de efeito estufa, o que provoca a aceleração do aquecimento global. Ou seja, uma espécie egoísta tem usufruído da riqueza natural e todas as demais espécies estão pagando o preço com a redução da biodiversidade.

O mês de julho foi o mais quente dos últimos 120 mil anos e superou o limiar de 1,5º Celsius em relação ao período pré-industrial. O gráfico abaixo, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), mostra a variação mensal da temperatura durante os meses de julho de 1850 a 2023 em relação à média do século XX. Nota-se que julho de 2023 se destaca em relação aos anos anteriores e que a reta de tendência da última década indica uma aceleração do aquecimento para 0,33º Celsius por década. Isto quer dizer que em breve o limite de 1,5º C do Acordo de Paris será ultrapassado e que o patamar de 2º C está cada vez mais perto.

Variação mensal da temperatura do mês de julho (Fonte: NOAA | Ecodebate)

O aumento da temperatura intensifica os eventos climáticos extremos como as enchentes, os furacões e as queimadas e incêndios. O Relatório Planeta Vivo 2022, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), revela uma queda média de 69% nas populações de animais selvagens em 4 décadas.

As cinco extinções em massa anteriores ocorreram ao longo da história da Terra devido a eventos cataclísmicos, como impactos de asteroides, erupções vulcânicas em grande escala e mudanças climáticas extremas. No entanto, a sexta extinção é única porque é predominantemente impulsionada por ações humanas, como desmatamento, poluição, mudanças climáticas, degradação do habitat, caça excessiva e introdução de espécies invasoras.

Os efeitos da sexta extinção em massa são preocupantes, pois além de erradicar espécies inocentes e inofensivas, a diminuição da biodiversidade é fundamental para a saúde dos ecossistemas e para o bem-estar humano. A perda de espécies pode levar a desequilíbrios ecológicos, afetando a polinização de culturas, a qualidade do solo e a produção de alimentos.

O manifesto do Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) diz: “A fronteira da espécie não é, e não pode ser, uma fronteira moral. Nossa sociedade deve evoluir para incluir os animais no nosso círculo de consideração moral”. O vegetarianismo e o veganismo são imperativos da ética de defesa animal.

Desta forma, é preciso abandonar a distopia do Antropoceno e abraçar a utopia do Ecoceno. Não custa lembrar que a natureza não precisa das pessoas, mas as pessoas são totalmente dependentes da natureza. A humanidade precisa ser menos autocentrada e necessita adotar uma perspectiva ecocêntrica.

Para evitar o especismo, o ecocídio e a Aniquilação Biológica, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 26 de agosto, do Dia Mundial pelo Fim do Especismo. 

Referencial bibliográfico

Dia Mundial pelo fim do Especismo: 26 de agosto de 2023. Veja aqui.

PIRES, Mathias. Aula 2 AM088 – Vivemos uma crise da Biodiversidade? IFGW,12/07/2021. Veja aqui.

ALVES, JED. Aula 11 AM088: Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta, IFGW, 11/04/21. Veja aqui.

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