Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
1ª Leitura - Is 55,10-11
Salmo - Sl 64,10.11.12-13.14 (R. Lc 8,8)
2ª Leitura - Rm 8,18-23
Evangelho - Mt 13,1-23
Em Mt 13 encontram-se sete parábolas do reino: o semeador (vv.1-23), o joio (vv.24-30), o grão de mostarda (vv.31-32), o fermento (v.33), o tesouro (v.44), a pérola (vv.45-46) e a rede (vv.47-50). Todas estas parábolas querem revelar a realidade escondida do reino.
A parábola do semeador se divide em três partes: a) a parábola (vv.1-9), provavelmente vinda de Jesus, b) a função da parábola (vv.10-17), em parte de Jesus, em parte um trabalho redacional, c) a explicação (vv.18-23), acréscimo posterior, ou explicação da comunidade. Nela a comunidade mudou a perspectiva da parábola.
a) A parábola (1-9): havia uma grande expectativa a respeito de Jesus, o Messias (Mt 16,16). Ele iria instaurar o reino, porém, aos poucos, estas esperanças foram se frustrando, pois ele não realizou nada daquilo que dele se esperava. Parecia um fracassado. Ele encontrou muita rejeição (Mt 11,20-24). Os discípulos entravam em desânimo e a credibilidade do mestre teve queda. Muitos o abandonaram (Jo 6,66). Jesus quer fortalecer os desanimados, mostrando que as sementes do evangelho produzirão frutos, mesmo que algumas se tenham perdido. Três tentativas foram nulas. Mas uma tentativa deu frutos muito acima do esperado. Em Israel se dizia que a colheita de trigo normalmente dava sete por um. Na melhor das hipóteses, dez por um. Mas na parábola se fala de cem, sessenta e trinta por um, o que é estupendo. Com isto, Jesus corrige o messianismo vigente. Ele não passa pelos sucessos, pelos triunfos costumeiros. Ele enfrenta derrotas e fracassos, mas os discípulos precisam mudar de mentalidade e crer na vitória que virá. Eles precisam semear, pois a semente da palavra, mesmo que muitas vezes não dá em nada, encontrará terra boa e frutificará. Os discípulos não podem se abater diante dos obstáculos, devem crer que, apesar dos fracassos, a vitória virá.
b) A função da parábola (10-17): quem se abriu a Jesus e o aceitou, facilmente entende que ele é a realização do projeto de Deus, ou seja, vê em sua ação Deus agindo na história. Quem não aceitou Jesus perde o senso de Deus revelado desde o Antigo Testamento. Como já em Is 6,9-10 os indiferentes se fizeram cegos e surdos, também agora esta indiferença torna impossível receber sua mensagem. Portanto, as parábolas, ou iluminam, ou cegam. Quem se abre ao mestre, cresce na compreensão e terá sempre mais. Quem se fecha, perde até o pouco que tinha. Os discípulos são felizes, pois superam até os profetas que não conheceram a Jesus, uma vez que ele é a chave de compreensão de todo Antigo Testamento (2Cor 3,14b). Pode ser uma resposta ao rabinato farisaico que mais tarde se revela em Jâmnia. Parece que os vv.11-12 e 16-17 sejam de Jesus, porém não estavam ligados a esta parábola, mas antes a Mt 11,25. Já os vv. 13-15 supostamente seriam redacionais.
c) A explicação (18-23): as comunidades primitivas tinham problemas completamente diferentes dos de Jesus. Elas aplicaram sua palavra ao seu contexto concreto, com isto mudaram o ensino original. Agora, o sucesso não depende da semente, como em 1-9, mas dos ouvintes refletidos na qualidade da terra. Cabe ao ouvinte se questionar, qual é sua terra (coração). Em 1-9 a adversidade era externa: rejeição a Jesus. Agora ela é interna: a disposição do ouvinte em acolher a palavra. É um apelo para os ouvintes se questionarem. Jesus queria incutir esperança nos discípulos diante das dificuldades (1-9). As comunidades querem incutir boa disposição nos ouvintes da palavra.
Is 55,10-11: O povo está no Exílio da Babilônia. Havia muitas promessas no Antigo Testamento de que Deus sempre estaria com seu povo. Em meio ao sofrimento, os exilados se questionam: teria Deus falhado em sua palavra? O profeta, cujo escrito é chamado de Livro da Consolação (Is 40-55), como mais tarde a parábola de Mt 13,1-9) mostra que, mesmo em meio aos fracassos, deve-se confiar na Palavra de Deus. Ela não falha nunca. No Exílio ela mantém a unidade e a identidade dos exilados, bem como a esperança de um retorno à pátria. A Palavra de Deus é eficaz e produz frutos.
Rm 8,18-23: Um novo céu e uma nova terra são a esperança dos humanos e de toda a criação. Para tanto, é preciso que os filhos de Deus vivam segundo o Espírito, isto é, encarnem o evangelho de Jesus em sua vida. Desta forma mudam as relações dos humanos com toda a natureza. Hoje, quando a natureza se encontra tão agredida, urge reavaliar a fidelidade à Palavra de Deus, para assim, a partir da obediência a Cristo, renunciar a toda ganância e entrar em harmonia com a natureza, nossa, casa comum. As opções do ser humano em Cristo e em sua palavra afetam o relacionamento com Deus, com os irmãos e com toda a natureza, criando harmonia e equilíbrio. Paulo, como também Isaías (1ªleitura) é homem de esperança. Mesmo nas dificuldades, nas dores de parto, nasce um mundo novo. Não se trata da remissão no céu. Paulo sonha com novo céu e nova terra aqui mesmo, quando se vive a Palavra de Deus.