15 Junho 2023
O bispo de Pittsburgh, dom David Zubik, cancelou uma missa de Corpus Christi em solidariedade à comunidade LGBTQ, a ser realizada no campus da Duquesne University, depois que um panfleto anunciando-a como uma "missa do orgulho" circulou nas redes sociais e influenciadores católicos anti-LGBTQ instaram seus seguidores a entrar em contato o prelado.
A reportagem é de Aleja Hertzler-Mccain, publicada por National Catholic Reporter, 15-06-2023.
O anúncio do cancelamento da missa ocorre quando os conservadores se mobilizaram para boicotar várias empresas por causa de suas iniciativas de inclusão LGBTQ, incluindo Target e Bud Light.
"Muitas das respostas ao panfleto chegaram à conclusão de que eu dei aprovação a este evento. Não dei", escreveu Zubik em uma carta que o bispo enviou ao clero e outros que lhe enviaram e-mails sobre a missa, dizendo que ele e o reitor da Duquesne University, Ken Gormley, não sabiam sobre a missa.
“Muitas das respostas também usaram uma linguagem condenatória e ameaçadora, e algumas, podemos dizer, odiosa, não condizente com a caridade cristã, especialmente com o mandamento do Senhor de que 'amem uns aos outros como eu os amei'”, escreveu Zubik.
O grupo Católicos pela Mudança em Nossa Igreja (Catholics for Change in Our Church), com sede em Pittsburgh, realiza missas mensais de justiça social na Duquesne University há mais de dois anos. O grupo foi formado após o relatório de um grande júri de 2018, que afirmava que mais de 300 padres da Pensilvânia foram acusados de agressão sexual ao longo de 70 anos.
O grupo convidou o setores pastorais que atuam na causa LGBTQ entre paróquias de St. Joseph the Worker e St. Mary Magdalene, Pax Christi e a Association of Pittsburgh Priests, um grupo de renovação da Igreja, para colaborar na missa de 11 de junho.
"Foi erroneamente chamada de Missa do Orgulho em um panfleto criado por uma das pessoas de um dos grupos que ajudava a planejar a missa. A designação correta era uma missa em solidariedade aos católicos LGBTQ", disse Kevin Hayes, presidente do conselho da Católicos pela Mudança em Nossa Igreja.
O grupo celebrou uma missa em solidariedade aos católicos LGBTQ na universidade ano passado com o apoio do ministro do campus e do padre Bill Christy. Por esse motivo, Hayes disse que não esperava nenhum problema este ano.
"O objetivo era ser solidário com os católicos LGBTQ e afirmar e encorajar os católicos LGBTQ como filhos e filhas amados de um Deus amoroso", explicou Hayes, que expressou confusão sobre o significado de uma Missa do Orgulho. "A missa não iria promover quaisquer ideias ou iniciativas contrárias ao ensinamento da Igreja", disse ele.
Quando o National Catholic Reporter entrou em contato com Gormley, Gabriel Welsch, vice-presidente de marketing e comunicações da Duquesne, referiu-se à carta de Zubik.
O padre Doug Boyd, que iacelebrar a missa de 11 de junho, disse que Zubik teve a intenção de alcançar a comunidade LGBTQ e que a palavra-chave que "detonou todo mundo foi Orgulho".
“Sou um pouco conservador, mas eles são meus amigos”, disse Boyd, explicando sua participação na missa.
Boyd, capelão do hospital e capelão do time de futebol americano da Pittsburgh University, disse que a linguagem do "Orgulho" era problemática porque conota "não apenas uma identidade, mas praticar e viver um estilo de vida contrário à nossa fé".
A carta de Zubik expressava sentimentos semelhantes. “Acolhemos, ouvimos e acompanhamos, mas não podemos endossar comportamentos contrários ao que sabemos ser a lei de Deus”, escreveu Zubik.
Em uma postagem no blog de 30 de maio sobre se os católicos podem celebrar o mês do Orgulho, o jesuíta pe. James Martin escreveu que o Mês do Orgulho é "um reconhecimento da dignidade humana de um grupo de pessoas que, durante séculos, foi tratado com desprezo, rejeição e violência".
Martin escreveu que é "especialmente importante para as igrejas marcar o Mês do Orgulho, já que grande parte da rejeição que as pessoas LGBTQ enfrentaram foi motivada pelo cristianismo", incluindo adolescentes LGBTQ que se tornaram sem-teto depois que seus pais os expulsaram por motivos religiosos.
Boyd disse que agradeceu a Zubik por tirar "um pouco da pressão" dos padres e diáconos envolvidos ao cancelar a missa.
"Estou preocupado com as pessoas", disse Boyd. "Eu nunca vi a saúde emocional tão ruim", disse ele, explicando que vê as mensagens raivosas que Zubik recebeu como pessoas tirando a mágoa e a raiva que sentem em outras áreas de suas vidas sobre esse assunto.
Consuelo Cruz-Martínez, mãe de dois filhos adultos que fazem parte da comunidade LGBTQ, disse estar "muito magoada" com o cancelamento da missa.
"Como mãe, não estão me enviando a mensagem de que somos uma igreja aberta, que está acolhendo meus filhos", disse Cruz-Martínez, psicóloga e ex-irmã do Sagrado Coração que agora é voluntária em vários ministérios católicos de Pittsburgh. “Não sinto que a instituição esteja apoiando muitos que a estão deixando porque não se sentem em casa”.
"Qual é o problema de ter uma missa para dizer à comunidade gay: 'nós amamos vocês, vocês são pessoas dignas de respeito'?", perguntou.
Cruz-Martínez falou que participa da parada do orgulho gay em Pittsburgh anualmente desde que chegou à cidade como imigrante do México, como parte de seu antigo interesse em defender os direitos dos homossexuais.
"Quero que esta situação que vivemos seja um momento para reavaliar nosso seguimento de Jesus", disse.
"Quem estamos realmente seguindo? Se nosso seguimento de Jesus é verdadeiro e profundo, então somos chamados a viver o amor e aceitar incondicionalmente nossas irmãs e irmãos", disse ela.
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Bispo de Pittsburgh, EUA, cancela missa LGBTQ após pressão on-line - Instituto Humanitas Unisinos - IHU