05 Junho 2023
Yunuen Trujillo é advogada especializada em imigração, pregadora leiga católica e organizadora de comunidades religiosas. É uma figura de destaque na pastoral católica com as pessoas LGBT nos Estados Unidos e atua como coordenadora de formação religiosa (em espanhol) na pastoral das pessoas gays e lésbicas na Arquidiocese de Los Angeles. Fundou a conta @LGBTCatholics no Instagram e publicou LGBTQ Catholics: A Guide to Inclusive Ministry (Paulist Press 2022), guia para um ministério católico inclusivo.
A reportagem é de Federica Tourn, publicada por Revista Jesus, 02-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não existem fronteiras para Yunuen Trujillo, essa jovem pregadora leiga e advogada de Los Angeles, mexicana de origem, especializada na defesa dos direitos dos migrantes. O seu nome, tão particular nos Estados Unidos, vem da cultura maia e significa "meia lua", ou também "princesa da água”, e é comumente usado para ambos os gêneros. “Nasci e cresci no México em uma família católica, embora minha mãe não fosse praticante: frequentar a paróquia era mais uma questão cultural e de vez em quando íamos à missa em ocasiões festivas”, conta. Quando Yunuen tinha 16 anos, a família mudou-se para os Estados Unidos e ali a garota se assumiu: “Quando contei para a minha mãe que era homossexual, então sim ela me disse para ir à igreja”, lembra com um sorriso.
Assim foi enviada a um retiro de jovens católicos que se reuniam com o lema "Deus te ama e nós também": “Minha mãe pensava que de alguma forma eles iriam me ‘curar’ e eu, de minha parte, estava convencida de que iria detestar". Porém, as coisas acontecem de maneira diferente: Yunuen se sentiu acolhida e vivenciou a Palavra de Deus: “Eu tinha encontrado Jesus e ele era um tesouro do qual não queria mais me privar”. Ao mesmo tempo, ao falar de acolhimento os pregadores que participaram do retiro colocavam continuamente um "mas" que a fez se sentir inadequada, com a consequência de que por mais dez anos se fechou em sua concha. Mesmo assim, a mosquinha da fé continuava a zumbir; tentou ter um namorado, mas não deu certo. "Em certo ponto eu senti em meu coração que Deus me pedia para ser eu mesma".
Após seu segundo coming out, Trujillo se envolveu cada vez mais na Igreja e, em especial, na arquidiocese de Los Angeles, onde hoje é pregadora leiga e se ocupa da pastoral para as pessoas LGBT. “Trata-se de pôr em evidência as discriminações que ainda existem na Igreja e de formar nas escolas secundárias católicas, nas comunidades, catequistas e seminaristas, para conscientizar que as pessoas LGBT devem ser tratados como seres humanos”, explica muito francamente.
LGBTQ Catholics: A Guide to Inclusive Ministry, de Yunuen Trujillo (Foto: Divulgação)
“Além de uma tarefa educacional”, acrescenta, “existe a exigência de acompanhar as famílias a aceitar plenamente um filho ou filha homossexual". Aliás, se certamente não há necessidade de curar a orientação sexual, porém, é preciso cuidar das emoções das pessoas: acolher os crentes homossexuais e ao mesmo tempo acompanhar o processo de compreensão das famílias. É preciso atenção e paciência no reiterar conceitos que parecem óbvios, mas não o são: “Muitos, por exemplo”, destaca Trujillo, “ainda confundem homossexualidade e pedofilia... No fundo, o meu trabalho é plantar sementes. O caminho a fazer ainda é longo, mas o que importa é discernir sobre esses temas, fomentar o diálogo: podemos discordar, mas o importante é que continuemos a falar sobre isso”.
De fato, a pastoral LGBT busca alcançar aqueles que estão à margem, com encontros informativos nas paróquias e nas dioceses, mas também fora dos espaços eclesiásticos, para interceptar quem não entraria na igreja por medo de ser rejeitado. Yunuen Trujillo em 2022 também publicou LGBTQ, Catholics: A Guide to Inclusive Ministry, um manual de pastoral prática que ajuda a se orientar entre as tantas questões que podem confundir os cristãos LGBT, começando por como ler e interpretar as Sagradas Escrituras, porque a Bíblia não deve ser uma pedra de tropeço, mas uma palavra de graça e amor. “Se uma interpretação bíblica específica não levar ao amor simultâneo por Deus, para si mesmos e para o próximo, então há algo de errado naquela interpretação”, escreve ele. Para divulgar as "boas novas", fundou o perfil no Instagram @LGBQCatholics, por meio do qual alcança pessoas em todo o mundo, especialmente aquelas que expressam um desejo espiritual, mas não querem ter um rótulo confessional.
Algo já está nascendo das sementes cuidadosamente plantadas e a pregadora experimenta isso todos os dias: “Os fiéis hoje são mais abertos, não se contentam com respostas prontas, mas a hierarquia na Igreja se opõe a mudanças por medo de perder o poder”, argumenta. No entanto, Trujillo está confiante porque, diz ela, “o Espírito Santo sopra entre as pessoas”.
Depois de ouvir seu discurso no Congresso de Educação Religiosa de Los Angeles, o maior encontro anual de católicos do mundo, muitos a abraçaram emocionados: "Eles se sentiram aceitos como homossexuais crentes", testemunha Trujillo, "e é uma meta muito importante porque se já é pesado ver-se rejeitados pela família, é terrível se sentir rejeitados em nome de Deus". Não é difícil, então, entender por que o sonho de Yunuen é que a Igreja se transforme em um lugar onde todos os grupos marginalizados possam se sentir em casa e ninguém seja perseguido ou excluído: “Uma Igreja, em suma”, conclui se iluminando, “ que volte às suas raízes e se pareça mais com Jesus".
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A hierarquia se opõe à abertura aos fiéis LGBT, mas o Espírito sopra onde quer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU