10 Mai 2023
Publicamos aqui a conferência do cardeal Mario Grech, secretário geral do Sínodo, que, na quinta-feira, 27-04-2023, abriu o congresso internacional intitulado “A teologia à prova da sinodalidade”, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
O objetivo do evento, que durou três dias, foi abrir um debate entre teólogos de diferentes origens para “explorar as condições para uma teologia que esclareça para si mesma a própria vocação à sinodalidade, a fim de identificar os percursos para uma teologia renovada, a ponto de lançar as bases para a implementação de um método sinodal em teologia”.
O congresso foi organizado pela Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, em colaboração com a Secretaria Geral do Sínodo.
O artigo foi publicado por L’Osservatore Romano, 06-05-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A sinodalidade como "bancada de teste da teologia": assim o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, que em seu discurso de abertura do congresso iniciado na manhã da quarta-feira, 27 de abril, na Pontifícia Universidade Gregoriana, destaca que "o processo sinodal em andamento propõe muitas perguntas à teologia" já expressando no título do Sínodo: 'Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão', questões enormes. Retomando as palavras de apresentação do próprio congresso, resume o objetivo dos três dias de encontro entre teólogos de diferentes orientações, ou seja, "explorar as condições para uma teologia que esclareça para si mesma a sua vocação à sinodalidade, a fim de identificar os caminhos para uma teologia renovada, até lançar as bases para a implementação de um método sinodal na teologia”.
Grech especifica que a sua reflexão pretende centrar-se no processo sinodal vivido até agora pela Igreja em todo o mundo, "para ressaltar os elementos de maior importância teológica" que surgiram ao longo do caminho. E parte de uma questão que define como " fundamental”, ou seja, a passagem do Sínodo “de evento a processo”, falando de “aperfeiçoamento” de tal instituição eclesiástica criada pelo Papa Paulo VI em 1965 como “Conselho Permanente dos Bispos para a Igreja universal” com caráter consultivo, chamado a ajudar o Papa. Desde então, 15 Assembleias Gerais Ordinárias, 3 Assembleias Gerais Extraordinárias, 11 Assembleias Especiais foram realizadas nessa forma. Mas, num discurso proferido em 17 de outubro de 2015, para a comemoração do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco apresenta pela primeira vez a ideia de uma Igreja sinodal que se abre à ideia de um "aperfeiçoamento" do Sínodo.
Grech cita as palavras que Francisco usou naquela ocasião, descrevendo a Igreja como 'uma Igreja de escuta (...) na qual todos têm algo a aprender. Povo fiel, Colégio episcopal, Bispo de Roma: um na escuta do outro; e todos na escuta do Espírito Santo. Numa Igreja assim, o Sínodo dos Bispos torna-se a manifestação de uma comunhão dinâmica que inspira todas as decisões eclesiais, através de um processo articulado por níveis, e é precisamente esta, diz o cardeal Grech, a lógica em que está se realizando o atual Sínodo, que começou em nível de Igrejas locais e depois continuou nas Assembleias continentais em vista da Assembleia Geral dos Bispos no Vaticano. "Tudo isso desafia a teologia", continua Grech, porque cabe aos teólogos demonstrar que a transformação do Sínodo de evento a processo garante que ele seja "uma expressão da colegialidade episcopal dentro de uma Igreja plenamente sinodal" e "que a Igreja sinodal é o fruto maduro do Concílio Vaticano II”.
A apresentação do cardeal aborda, portanto, as principais questões teológicas que emergiram dos trabalhos sinodais e, em primeiro lugar, o protagonismo do Espírito Santo na vida da Igreja. "O processo sinodal foi conduzido com o método da 'conversa espiritual' - afirma - que é uma escuta eclesial do Espírito".
A segunda questão é a relação entre o Povo de Deus, o Colégio Episcopal e o Bispo de Roma, todos empenhados na escuta e afirma que "desenvolver um processo sinodal em que todos os sujeitos sejam garantidos no exercício de sua função, sem prejudicar a função de outros, significa desenvolver um caminho católico para a sinodalidade, que respeite os dados que emergem da Tradição sobre o ministério petrino, sobre o ministério episcopal e sobre a capacidade do Povo de Deus de ser sujeito ativo na Igreja”.
O terceiro nó é a recuperação do sacerdócio comum dos fiéis, portanto a participação do Povo de Deus na função profética, sacerdotal e régia de Cristo”. A quarta questão é a relação entre Igrejas particulares e Igreja universal, não desprovida de tensões ao longo do tempo, e sua possível superação precisamente por meio de uma compreensão da Igreja em chave sinodal.
A reflexão do cardeal continua, passando dos conteúdos para o outro desafio posto aos estudiosos, ou seja, aquele do “método sinodal na teologia”. Sempre relendo a vivência das comunidades eclesiais no atual Sínodo, Grech afirma que "o teólogo deve partir da experiência, deixar-se interpelar pela situação que a Igreja vive, oferecendo respostas - ou pelo menos hipóteses de resposta - que mostram como seria possível encarnar hoje o Evangelho". A teologia, diz ele, “não é um produto de laboratório”, mas ela também se baseia na escuta, “a teologia é um ato segundo, que interpreta a vida eclesial”. Certamente, ressalta, uma escuta crítica, capaz de distinguir o que "na experiência eclesial é genuíno e autêntico, e o que ao contrário é fruto de mal-entendidos, abusos e obscurecimentos", e conclui: "se fizer isso, a teologia ajudará realmente a causa da sinodalidade".
Programada para a mesma manhã, a ampla apresentação de Christoph Theobald sobre o tema: "Imaginar uma teologia sinodal", na qual o jesuíta e teólogo francês de nacionalidade alemã, professor de teologia fundamental e dogmática no Centre Sèvres em Paris, confirmou como "o atual processo sinodal está trazendo a teologia de volta a refletir sobre a própria missão, engajando-a também em um processo sinodal de conversão e reforma”. Seguem dois testemunhos para aprofundar as palestras anteriores, um da África, outro da Ásia. À tarde, o relato e a reflexão comum sobre três experiências do processo sinodal em curso, vividas na América Latina, na Alemanha e na Austrália.
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Caminhar juntos: por uma teologia à prova da sinodalidade. Conferência do cardeal Mario Grech - Instituto Humanitas Unisinos - IHU