11 Abril 2023
Não esconjurar a morte / para deixá-lo aqui na Terra: / já sentiu o perfume de Deus, / deixe-o andar por seus jardins.
Sempre me impressionou o fascínio que Alda Merini despertava espontaneamente nos jovens quando a escutavam e falavam com ela. Como se sabe, sua linguagem era muitas vezes oracular, às vezes até brusca ou indecifrável. Mas a sua própria pessoa, marcada por duras vicissitudes e imersa em ambientes degradados, criava uma aura de respeito e atração ao seu redor. A sua obra poética, na última fase de uma existência conturbada, recebera uma espécie de inspiração religiosa e se transformara em contemplação de Cristo ou de Maria ou de Francisco de Assis.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 09-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi naquele período que Alda se afeiçoou a mim, e seus intermináveis telefonemas eram repletos de uma sequência incessante de imagens, de questionamentos, de narrativas teológicas. Quis propor - no fio das memórias pessoais - alguns versos que ela me enviou na véspera do funeral do meu pai, em abril de 2007.
Na sua límpida essencialidade são uma profunda meditação pascal sobre a morte. O afastamento da pessoa amada é sempre doloroso e não vale a justificativa da idade ou da transitoriedade comum. Mas o olhar poético e crente se debruça além daquela fronteira, aspira o vento do espírito, respira o perfume dos jardins paradisíacos. Devemos, então, ter a coragem de não segurar a mão do ente querido que está nos deixando para que ele siga aquele aroma e entre no eterno e no infinito de Deus.
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#os Jardins de Deus. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU