#a jugular. Artigo de Gianfranco Ravasi

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28 Março 2023

Criamos o homem e sabemos o que a sua alma lhe confidencia, porque estamos mais perto dele do que a (sua) artéria jugular.

O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 26-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Para compreender o poder dessa frase, deve-se imediatamente assinalar que aquele "nós" é o próprio Deus que fala, como é evidente pela referência à sua qualidade de criador. Para intuir sua ousadia, no entanto, é preciso saber que é a citação de um versículo do Alcorão, mais precisamente o 16º da surata (ou capítulo) 50 chamada Caf da letra árabe com a qual a primeira palavra começa.

Falávamos de ousadia porque é sabido que na visão teológica muçulmana Deus é radicalmente diferente e distante da humanidade frágil e pecadora. Como afirma um aforismo, Deus é semelhante ao sol e o homem a uma poça d’água: ela pode refletir a luz do sol, mas continua sendo uma poça.

E eis, porém, essa corajosa profissão de intimidade: Deus sente até os mais remotos e ocultos suspiros, desejos, pensamentos da nossa alma, aliás, Ele está tão perto de nós a ponto de estar mais perto do que a nossa "grande veia do pescoço", como afirma o original, ou seja, da nossa jugular. Se for cortada, a vida logo esse esvai. Deus está, portanto, ao nosso lado, é necessário para a nossa própria existência. É nessa intuição que se desenvolveu a mística muçulmana, especialmente aquela sufi.

Um famoso poeta persa, Sa'di, falecido em 1291, escreveu: "O Amigo [Deus] está mais próximo de mim do que eu de mim mesmo. Estranho, então, que me sinta distante dele! É inexplicável, então, que eu sofra as dores da separação quando na verdade Ele está entre os meus braços!”. Paralelamente, o salmista judeu cantava diante de Deus: "Acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe" (131,2).

 

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