28 Março 2023
A reportagem é de Tiziana Campisi, publicada por Religión Digital, 27-03-2023.
O papa trouxe estas ideias em um discurso aos participantes dos Diálogos de Minerva, iniciativa do Dicastério para a Cultura e Educação que reúne anualmente cientistas, engenheiros, empresários, juristas e filósofos e representantes da Igreja para "promover uma maior consciência e consideração do impacto social e cultural das tecnologias digitais, em particular da inteligência artificial" e permitir "um debate sério e inclusivo" também "aberto a valores religiosos" sobre o uso responsável das tecnologias.
Reconhecendo que "a tecnologia é de grande ajuda para a humanidade", Francisco reiterou, como escreve em Fratelli tutti, que nos "benefícios da ciência e da tecnologia" surge "a prova da criatividade do ser humano e também da nobreza de sua vocação participar, responsavelmente, da ação criadora de Deus". E acrescentou que nesta perspectiva “o desenvolvimento da inteligência artificial e da aprendizagem automática” pode oferecer “um contributo benéfico para o futuro da humanidade”, que não deve ser descartado, desde que atuem “com ética e responsabilidade”.
O Santo Padre expressou seu apreço por aqueles que se esforçam para tornar a 'tecnologia centrada no ser humano' e 'orientada para o bem', e para que haja consenso sobre processos de desenvolvimento projetados para respeitar os valores de inclusão, transparência, segurança, justiça, privacidade e confiabilidade. E também elogiou “os esforços de organizações internacionais para regular essas tecnologias” para “deixar um mundo melhor e uma qualidade de vida abrangentemente superior”.
Mas é preciso considerar a "grande pluralidade de sistemas políticos, culturas, tradições, concepções filosóficas e éticas e crenças religiosas", apontou Francisco, o que revela como as discussões estão "cada vez mais polarizadas", de modo que "no ausência de confiança e de uma visão compartilhada do que faz a vida valer a pena, os debates públicos correm o risco de serem contenciosos e infrutíferos".
Somente um diálogo inclusivo, no qual as pessoas buscam a verdade juntas, pode levar a um verdadeiro consenso; e isso pode acontecer se compartilharmos a convicção de que “na própria realidade do ser humano, e da sociedade, existe um conjunto de estruturas básicas que sustentam seu desenvolvimento e sobrevivência”. O valor fundamental que devemos reconhecer e promover é a dignidade da pessoa humana.
O convite do papa, portanto, foi "fazer da dignidade intrínseca de cada homem e de cada mulher o critério-chave para avaliar as tecnologias emergentes", que são eticamente válidas se "contribuírem para manifestar essa dignidade e aumentar a sua expressão, em todos os níveis da vida humana".
“Preocupa-me que os dados disponíveis até agora pareçam sugerir que as tecnologias digitais serviram para aumentar as desigualdades no mundo. Não apenas diferenças de riqueza material, que são importantes, mas também diferenças de acesso à influência política e social.
Para Francisco, é preciso perguntar se “as instituições nacionais e internacionais são capazes de responsabilizar as empresas tecnológicas pelo impacto social e cultural dos seus produtos” e se “existe o risco de que o aumento das desigualdades mine o nosso sentido de solidariedade humano e social", pois o "objetivo é que o crescimento da inovação científica e tecnológica seja acompanhado de maior igualdade e inclusão social".
“Uma falsa concepção de meritocracia” pode minar “a noção de dignidade humana”, alertou Francisco, porque corre-se o risco de “conceber a vantagem econômica de alguns como conquistada ou merecida, enquanto a pobreza de muitos é vista, em certo sentido, como culpa deles", de modo que "se a pobreza é culpa dos pobres, os ricos estão isentos de fazer qualquer coisa".
“O conceito de dignidade humana exige que reconheçamos e respeitemos o fato de que o valor fundamental de uma pessoa não pode ser medido por um conjunto de dados. Nos processos de tomada de decisão social e econômica, devemos ser cautelosos ao confiar julgamentos a algoritmos que processam dados coletados, muitas vezes sub-repticiamente, sobre pessoas e suas características e comportamentos passados".
Pode acontecer que os dados sejam "contaminados por preconceitos e preconceitos sociais",- indicou o Santo Padre, que exortou a não usar "o comportamento passado de um indivíduo" para negar-lhe "a oportunidade de mudar, crescer e contribuir para sociedade".
“Não podemos permitir que algoritmos limitem ou condicionem o respeito pela dignidade humana, nem excluam a compaixão, a misericórdia, o perdão e, acima de tudo, a abertura à esperança de mudança na pessoa”.
A convicção de Francisco é que “somente formas de diálogo verdadeiramente inclusivas podem nos permitir discernir com sabedoria” como “colocar a inteligência artificial e as tecnologias digitais a serviço da família humana”. O papa recordou, falando espontaneamente, "a história bíblica da Torre de Babel", que "é frequentemente usada para alertar contra as ambições excessivas da ciência e da tecnologia", que podem levar a graves injustiças sociais.
Nessa história, os homens estavam mais preocupados em construir tijolos e não com o que poderia acontecer com cada trabalhador. Mas depois essas diferentes linguagens por intervenção de Deus – refletiu Francisco – devem ser vistas como “uma nova possibilidade”, porque convidam “a considerar a diferença e a diversidade como riqueza, porque a uniformidade não permite o crescimento”. Ao contrário, a diversidade "exige que aprendamos juntos uns com os outros", concluiu o pontífice, "e redescubramos com humildade o autêntico sentido e alcance da nossa dignidade humana", porque as diferenças estimulam a criatividade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco: “Não podemos permitir que algoritmos excluam a compaixão, a misericórdia e o perdão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU