A reportagem é publicada por Religión Digital, 23-03-2023.
“Você foi tirado do 'rebanho', você pertence a ele, não se esqueça do ar do povo, do pensamento do povo, do sentimento do povo. E isso não é comunismo, socialismo, não! Santo povo fiel de Deus que é infalível in credendo, não se esqueça! Vaticano I e depois Vaticano II". O Papa Francisco recebeu os membros da Pontifícia Academia Afonsiana e os participantes da conferência "Santo Afonso: Pastor dos Menores e Doutor da Igreja", pedindo-lhes que usem a "linguagem do povo" e desenvolvam propostas de vida moral praticáveis e humanizar para tornar acessíveis os frutos da reflexão teológica.
A exortação é “estar sempre ao lado do ser humano concreto”, “não esquecer o sentimento do povo” a que cada um pertence, utilizando as ferramentas da reflexão ética para construir sólidos diques que o defendam da mentalidade desenfreada de eficiência e descarte".
O apelo é "oferecer uma proposta de vida cristã" que "não seja, porém, uma moralidade fria de escrivaninha": uma proposta amadurecida pelo "discernimento pastoral carregado de amor misericordioso, orientado para compreender, perdoar, acompanhar e acima todos todos integram". De fato, toda proposta teológica moral é baseada no amor de Deus. O Santo Padre compartilha uma memória pessoal a esse respeito:
"Acho que não, foi proibido ler o primeiro livro de Häring, A lei de Cristo: "Não! É herético, não sabem ler!" E só eu estudei com aquela moral: "Pecado mortal se faltarem duas velas na mesa, venial se faltar apenas uma"... E toda a casuística assim e eu digo humildemente... Graças a Deus acabou, foi moralidade de mesa fria." – Papa Francisco
Tweet.Daí a exortação:
Os teólogos morais, os missionários e os confessores são chamados a entrar em relação viva com o Povo de Deus, assumindo sobretudo o grito dos últimos, para compreender as suas dificuldades reais, olhar a existência a partir do seu ângulo e oferecer-lhes respostas que reflitam a luz do amor eterno do Pai – Papa Francisco
Tweet.Pensando nas questões bioéticas, o papa pede que cultivemos “a paciência da escuta e do confronto, como recomenda Santo Afonso para as situações de conflito”. Esta é uma atitude fundamental para “a busca de soluções comuns que reconheçam e garantam o respeito pela sacralidade de toda a vida”.
“É preciso fugir das dinâmicas polarizadoras extremistas, típicas mais do debate mediático do que das sãs e frutíferas pesquisas científicas e teológicas: antes aplicar o princípio, sempre indicado por Santo Afonso, do “caminho do meio”, que não é o equilíbrio diplomático. Não, a via midiática é criativa, brota da criatividade e cria. Só quem estudou e quem praticou pode entender. Não estamos equilibrando? Não, isso não é via mídia. A proposta bioética deve estar atenta aos dramas de pessoas, muitas vezes confusas com os dilemas morais da vida".
Na complexa e rápida mudança dos tempos em curso, Francisco invoca o papel de pessoas dotadas de "consciência madura" que se colocam a serviço dos irmãos, capazes de desenvolver "argumentos razoáveis e sólidos, arraigados na fé, adequados às consciências adultos e responsáveis. "A consciência", explica, "é o lugar onde cada homem se encontra a sós com Deus", no qual ressoa a Palavra do Criador, em cuja escola “cada um aprende a dialogar com os outros”.
O olhar do papa também se estende às questões de moralidade social. A atitude sugerida para entrar no tecido complexo da sociedade em que vivemos é caminhar humildemente junto com o povo de Deus, evitando atitudes de condenação:
“A crise ambiental, a transição ecológica, a guerra, um sistema financeiro capaz de condicionar a vida das pessoas a ponto de criar novos escravos, o desafio de construir a fraternidade entre as pessoas e entre os povos: essas questões devem nos estimular à investigação e ao diálogo”. O Senhor é o fim da história' e o gênero humano, renovado em Cristo, está destinado a crescer como família de Deus." – Papa Francisco
Tweet.Às graves questões morais da emigração ou da pedofilia, hoje se somam as dos benefícios concentrados nas mãos de poucos ou da divisão das potências mundiais. Francisco nos encoraja a aceitar esses desafios com confiança, "dispostos a dar razão à esperança que há em nós", atentos à Verdade que salva e ao bem das pessoas.
A Pontifícia Academia Alfonsiana celebrará 75 anos de atividade no próximo ano. Fundada em 9 de fevereiro de 1949 pelos Missionários Redentoristas, faz parte da Pontifícia Universidade Lateranense. No espírito de Santo Afonso Maria de Ligorio, renovador da teologia moral no seu século, e em sintonia com o Magistério da Igreja, expresso de modo particular no Concílio Vaticano II, o Pontifício Instituto orienta-se para o conhecimento total do homem na sua dimensão pessoal e cristã.