17 Março 2023
Visibilizar a vida de outras mulheres, de mulheres consagradas no espírito sinodal, tem sido a pretensão da Ir. Gloria Liliana Franco Echeverri, alguém em quem reconhecemos a voz inspirada das mulheres que servem a Igreja em missão, no seu livro "Com elas: mulheres consagradas no espírito da sinodalidade", apresentado a 16 de março na sede do Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (Celam), em Bogotá.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Alguém que disse se sentir entre amigos, que com o seu livro queria "dar um rosto ao compromisso, à missão, à experiência das mulheres na Igreja, todas tão diferente, mas todas naquelas margens onde estão presentes, determinadas a ser luz, a acender o fogo". Uma luz que, segundo a presidente da Conferência Latino-americana e Caribenha de Religiosos (CLAR), "torna possível abordar uma Igreja mais afinada, mais coerente com o que Jesus nos propõe".
Um livro, salientou a autora, "para todos os que acreditam que o rosto da Igreja é também feminino", dedicado às mulheres que se esforçam por dar à luz a esperança, àquelas que se esforçam por iluminar a nova forma de ser Igreja, àquelas que me ensinaram que há uma forma alegre e frutuosa de caminhar com os outros, segundo a Irmã Liliana.
Foto: Luis Miguel Modino
No quadro da sinodalidade, a presidenta da CLAR quis com este livro "identificar a contribuição das mulheres consagradas na configuração de uma Igreja sinodal, simplesmente propor horizontes pastorais que, partindo do estilo e método sinodal, contribuam para consolidar uma Igreja com um novo rosto". Um livro com o qual "é uma questão de tornar visível e poder valorizar o que as mulheres, especialmente as consagradas, têm de contribuir para o método sinodal que está a moldar o rosto da nossa Igreja", sublinhou.
A autora percorreu o conteúdo do livro, mostrando como tem vindo a estudar a presença das mulheres no Magistério pontifício nos últimos 60 anos e nas Conferências do Episcopado da América Latina e Caribe, mostrando como "a presença das mulheres consagradas como sujeitos eclesiais e a sua missão na Igreja" é explicitada, como se afirma no primeiro capítulo do livro. "A necessidade de novas narrativas, a necessidade de novas hermenêuticas nas quais a missão da vida consagrada no tecido eclesial seja também valorizada, o discernimento seja priorizado, o potencial de alcance missionário seja desvendado, e às mulheres consagradas seja dado o seu devido lugar na construção da Igreja", é tratado no segundo capítulo.
O terceiro capítulo do livro analisa a história de 10 mulheres que participaram ativamente em assembleias sinodais universais. Liliana Franco insistiu, "mulheres que, de diferentes margens, estão a ajudar a construir o Reino de Deus, estão a ajudar a construir a Igreja". A partir daí, o livro propõe orientações pastorais para ajudar na formação das mulheres em sinodalidade.
Insistindo na necessidade de uma teologia empenhada na escuta da realidade, na transformação da história e no discernimento, o que torna possível a fidelidade criativa, a autora faz uma análise documental hermenêutica nos dois primeiros capítulos, juntamente com uma abordagem da experiência a partir da teologia narrativa presente no terceiro capítulo.
Foto: Luis Miguel Modino
"Estas são histórias de vida que se tornam inspiração, encorajamento, nesta travessia sinodal", disse Liliana Franco. Histórias acompanhadas de linhas que marcam as suas vidas: Nathalie Becquart e a sinfonia sinodal que emerge quando no brilho do plural, cada um e ao ritmo do Espírito, traz o seu dom; Silvia Vallejo Villa, com o coração centrado em Deus para ser a presença sapiencial que humaniza; Arizete Miranda, ser em autenticidade para estar com os outros e permitir que a graça flua em liberdade; María Luisa Berzosa, alargar o coração da Igreja até haver espaço para todos; Beatriz Acosta Mesa e a sua busca que ressoe a Palavra que dá sentido, dá estrutura e abre horizontes de renovação e compromisso.
Birgit Weiller, do lugar de presença e compromisso, é possível contribuir para a transformação; Serena Noceti, ouvir é o sussurro que traz conversão; Rose Bertoldo, construir o Reino na Igreja requer inserção nas profundezas da terra, fazendo moradia entre os pobres; Marcia Oliveira, não se trata de consenso, o desafio é o encontro; e Daniela Cannavina, o caminho sinodal requer tempo, processos e paciência.
Alguém que foi amigo, irmão e companheiro na viagem de Liliana durante 34 anos, o carmelita Pedro Arenas, autor do prólogo, falou sobre quem é esta religiosa, que disse ter encontrado em cada linha, em cada frase e em cada atrevimento bem ousado. Da mesma forma, três mulheres, três religiosas, duas delas protagonistas do livro, refletiram sobre o significado deste livro. Daniela Cannavina, uma companheira de caminho na CLAR, que salientou a presença cada vez mais visível das mulheres nos espaços eclesiais, sem esconder o fato de que este reconhecimento por vezes é apenas teórico.
Mónica Benavides, que quis tornar visíveis as comunidades e coletivos de mulheres que lutam e resistem na sua vida quotidiana para enfrentar as múltiplas formas sistemáticas de violência. Birgit Weiler lembrou-nos também que, como pessoas batizadas, partilhamos a mesma dignidade, homens e mulheres, sendo batizados e formando o povo de Deus, o que precede qualquer diferença entre ministérios, carismas e serviços.
Foto: Luis Miguel Modino
Num mundo em grandes mudanças, em que a Igreja não está isenta desta dinâmica de transformação, a autora encerrou a apresentação chamando a não esquecer que nesta dinâmica "as mulheres têm um papel inegável", insistindo no ser irmãos e irmãs como "a nossa identidade mais autêntica e definitiva", chamando a continuar a trabalhar "para que na Igreja possamos todos continuar a situar-nos do esplendor e dignidade que cada um tem pelo simples fato de ser filho de Deus, pelo simples fato de ser uma Filha de Deus, uma pessoa batizada".
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“Com elas: um livro para todos os que acreditam que o rosto da Igreja também é feminino” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU