09 Março 2023
Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, o La Croix Africa, 08-03-2023, perguntou às mulheres católicas do continente africano como elas veem seu lugar na Igreja.
Uma delas é Françoise Diarra, professora e pesquisadora de Filosofia e membro da Paróquia Maria Auxiliadora dos Cristãos, na Arquidiocese de Bamaco, capital do Mali.
Françoise Diarra (Foto: La Croix International)
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Desde muito jovem, estou envolvida na Igreja Católica como cantora do coral e, ao mesmo tempo, como membro da Renovação Carismática. Essa escolha de compromisso resulta da missão evangélica de cada pessoa batizada, porque, uma vez que um filho ou filha de Deus recebe o Espírito Santo, seu dever é acima de tudo comprometer-se com a comunidade eclesial (coral, movimentos de Ação Católica, leituras, servidores da missa etc.). Para esse fim, toda pessoa que recebeu a confirmação se compromete a se engajar em uma dessas atividades. As mulheres são as mais numerosas.
De fato, em geral, as mulheres são corajosas quando se trata de desempenhar seu papel de batizadas (isso se explica pelo fato de terem uma estreita relação com a Santa Virgem Maria, nossa mãe). Sempre que se organizam eventos em nível comunitário ou paroquial, elas são as mais numerosas na realização dessas tarefas (coral, varrição, organização de momentos de oração).
Mas, quando se trata de dar as rédeas para as mulheres, isso não é tão fácil. Os homens estão no comando de tudo o que ocorre na Igreja, e as mulheres ficam no banco de trás. Como resultado, o lugar da mulher permanece secundário, apesar de todos os esforços que elas fazem pela causa da evangelização.
Esse problema revela a questão do estatuto das mulheres nas nossas sociedades. As mulheres são subitamente consideradas incapazes de assumir grandes responsabilidades, de modo que têm de se contentar com responsabilidades que não requerem a tomada de grandes decisões.
A história da luta das mulheres pela igualdade de oportunidades revela claramente que elas são tratadas de forma diferente dos homens. No entanto, todos os seres humanos, independentemente de seu sexo, possuem razão, que é a capacidade de reflexão e de saber a diferença entre o bem e o mal. Como tal, essa universalidade do bom senso é a base para a igualdade entre mulheres e homens.
Mas, apesar disso, o status das mulheres não mudou muito. A sociedade de hoje continua considerando as mulheres capazes apenas de desempenhar determinadas tarefas e continua convencida de que existem responsabilidades que as mulheres não deveriam assumir (por exemplo: serem presidentes da república, mesmo que tenha havido algumas).
No nível da Igreja, embora a emancipação das mulheres esteja se tornando cada vez mais evidente, o homem continua sendo o chefe da família, e só um homem pode ser padre, o primeiro responsável pela comunidade cristã.
Se olharmos para a vida de Jesus Cristo, vemos que ele experimentou a coragem e a tenacidade das mulheres durante sua paixão, morte e ressurreição. Mesmo no relato da ressurreição, foram as mulheres que foram de manhã cedo ao túmulo de Jesus para cuidar daquele em quem esperavam. Para a grande surpresa delas, um anjo lhes apareceu e perguntou-lhes por que estavam procurando entre os mortos aquele que estava vivo, e então Jesus se mostrou a Maria Madalena. Tudo isso mostra o quanto as mulheres estavam envolvidas no plano messiânico de Jesus desde o início.
Hoje, porém, está claro que, embora as mulheres ocupem cargos de responsabilidade, alguns são reservados aos homens de forma não oficial, e outros, oficialmente. Tomando o exemplo das comunidades cristãs de base aqui no Mali, a presidência é sempre exercida por um homem, e até mesmo a vice-presidência. Isso dá a impressão de que as mulheres ainda não têm seu lugar no topo da Igreja. Nessa situação, o que deve ser feito para encorajar o envolvimento das mulheres nas comunidades, dioceses etc.?
A mentalidade sobre as mulheres deve mudar no nível da sociedade e da Igreja, para que elas possam colocar sua capacidade intelectual e espiritual a serviço de suas irmãs e irmãos em Cristo. Além disso, seria oportuno organizar uma assembleia especial do Sínodo para analisar as preocupações das mulheres e tomar decisões concretas que lhes permitam saber que elas têm seu lugar no topo da Igreja.
Esse seria um dos meios eficazes no processo da nova evangelização, porque, em um tempo em que o nosso mundo está marcado por muitas crises, é essencial o envolvimento efetivo de todos os fiéis, especialmente das mulheres. O que estou dizendo não pretende tornar mulheres e homens indistinguíveis, mas ressaltar a capacidade intrínseca das mulheres, que há muito tempo tem sido ignorada.
A Igreja precisa de todos os seus fiéis para levar as almas perdidas de volta a Deus. Deus escolheu uma mulher (a bem-aventurada Virgem Maria) para ser a mãe de Jesus e a mãe da humanidade, uma escolha muito reveladora, que prova que Deus reconhece a capacidade das mulheres para cumprir as missões que lhes são confiadas.
Para isso, confiar às mulheres as rédeas de certas posições estratégicas na Igreja não deveria ser problemático, mas sim encorajado. Hoje, o compromisso massivo das mulheres se destaca como uma condição sine qua non para o futuro da Igreja universal em geral e da África em particular, porque a verdadeira mudança depende da vontade das mulheres.
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A Igreja precisa de um Sínodo sobre as mulheres. Artigo de Françoise Diarra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU