08 Março 2023
O Ocidente não pode nos esquecer. O apelo de Pierbattista Pizzaballa, o carismático patriarca latino de Jerusalém, é muito mais que um apelo: é um grito desesperado em uma situação "que está piorando rapidamente". Na sede do patriarcado, Pizzaballa recebe uma delegação da organização diocesana de peregrinação de Turim, que há décadas se empenha em iniciativas de solidariedade com os cristãos da Terra Santa.
A entrevista com Pierbattista Pizzaballa é de Paolo Griseri, publicada por La Stampa, 07-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há muita preocupação entre os católicos de Jerusalém. Que elemento leva vocês ao pessimismo?
Não se trata de pessimismo ou otimismo. A esperança nunca se perde. Mas a situação está piorando rapidamente. Nós, cristãos, recentemente nos tornamos alvo de ataques de extremistas da direita religiosos israelenses. Entraram no local da flagelação e danificaram um crucifixo. Na cidade velha, os símbolos bizantinos foram cobertos porque tinham cruzes. Episódios, certamente. Mas indicativo de um clima.
Não foi sempre assim?
A situação piorou recentemente.
O que o governo de Tel Aviv responde a vocês?
O atual governo de Israel não gosta dos cristãos. Está se movendo cada vez mais para a direita, mas é uma direita religiosa, que considera os não-judeus como uma realidade não necessária. Este governo israelense não está interessado em falar conosco. Falamos com funcionários de terceiro escalão, a alta administração não nos atende. Temos a sensação de que os políticos consideram a relação conosco um problema. Falar com os cristãos não é apreciado pelos eleitores dos partidos religiosos.
É porque os cristãos são uma minoria?
Isso porque o critério da identidade religiosa está se radicalizando cada vez mais. As sociedades europeias estão orientadas para a integração; aquela israelense, como em muitas no Oriente Médio, à coexistência entre diferentes identidades. Isso significa que a confissão religiosa é decisiva independentemente das convicções pessoais. No entanto, todos devem indicar uma confissão religiosa em sua carteira de identidade, mesmo se for ateu. Isso investe. As escolas, por exemplo, são só para judeus e muçulmanos. Os cristãos não têm nenhuma. Nós mesmos temos que organizá-las.
Qual poderia ser o papel do Vaticano para ir ao seu encontro?
Estamos em constante contato com Roma. Claro que seria muito importante se o Vaticano fosse mais assertivo. Embora eu perceba que no momento as prioridades são aquelas da guerra na Ucrânia.
E a comunidade internacional?
Hoje a questão israelense-palestina e do Oriente Médio são secundárias. E Israel está demonstrando amplamente que, apesar das pressões estadunidenses, decide por conta própria. Não há condições para um diálogo, há uma desconfiança total. Falar não faz sentido, é preciso primeiro criar gestos que restituam a confiança e uma liderança que não seja desacreditada e com visão.
Os protestos estão crescendo na sociedade israelense, as ruas são ocupadas toda semana.
Sim, mas são minorias. Este governo representa a maioria da sociedade israelense. A direita está dividida internamente, mas apenas por razões que têm a ver com o peso da religião na sociedade. Mas a trajetória é clara: os judeus religiosos crescem 4% ao ano, os leigos diminuem 4%. É claro que na sociedade e nas urnas terão cada vez mais peso.
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Israel. “Para os cristãos a situação está piorando, a direita religiosa não fala conosco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU