13 Junho 2014
"É verdade, se poderá dizer, o Oriente Médio não vai mudar. Mas foi um momento importante que faz com que se entenda como, apesar de todas as dificuldades, se quisermos – basta quer – é possível dar passos à frente." A afirmação é do padre Pierbattista Pizzaballa, franciscano, custódio da Terra Santa, comentando o encontro de oração do domingo no Vaticano com o Papa Francisco, o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, o presidente israelense, Shimon Peres, e o palestino, Abu Mazen.
A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada no jornal Avvenire, 11-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Padre Pizzaballa, que reações o senhor pôde registrar ao voltar para a Terra Santa?
Aqui o eco foi mais suave. As populações aqui são ambas um pouco céticas quando se fala de paz entre israelenses e palestinos. Digamos que não é um assunto muito sensível. Não porque não se queira a paz, mas porque, depois de tantos fracassos, há um ceticismo natural. Dito isso, a atenção ao evento foi alta, embora tenha diminuído quase imediatamente.
Na Itália, um comentário do jornal Haaretz particularmente cético teve um certo eco...
Trata-se de um jornal muito secular e, portanto, tudo o que diz respeito a fé e religião não é um âmbito que ele compreende muito. Além disso, é preciso ver também os objetivos que nos damos. Ninguém – dissemos isso desde o princípio – teve jamais a pretensão de acreditar que o evento de domingo mudaria o curso da história política do Oriente Médio. Mas é uma maneira de fazer com que todos entendam – e com o tempo esperamos que se torne cada vez mais consciência pública – que a paz não é feita apenas com acordos políticos, mas também com um consenso popular que não pode abrir mão, para um crente, da oração e do envolvimento dos líderes e também das comunidades religiosas.
Como o senhor viveu o evento pessoalmente?
Foi muito bonito. Os problemas sempre foram muitos do ponto de vista organizativo, nunca estava tudo no seu lugar, mas sabíamos disso. Mas eu acredito que, naquele momento, se sentiu um sopro de graça um pouco sobre todos. O gesto em si mesmo de encontrar juntos os chefes dos dois pulmões da Igreja, ocidental e oriental, e os representantes dos dois povos que há anos não se falam e não se amam, foi muito importante.
A presença do patriarca greco-ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, era esperada ou foi uma surpresa?
Estava em suspenso por motivos técnicos, mas era desejada e depois foi confirmada. Ele é o líder da maior comunidade cristã de Jerusalém, e era impensável que ele não estivesse presente.
Alguns se queixaram que os textos das orações efetivamente recitadas não correspondiam aos antecipados...
Em alguns casos, sim. Os islâmicos tinham enviado correções, mas fora do tempo máximo.
Eram mudanças substanciais?
Em particular, acrescentaram uma quarta intervenção, a cantada, que não estava prevista. Mas não havia nada de polêmico.
Depois, também foi observado que os dois presidentes convidados, no passado. não tinham se destacado de maneira particular pela sua religiosidade...
Também falamos sobre isso. É verdade. Não são religiosos, mas são crentes. Ninguém precisa do imprimatur ou do copyright para poder rezar. Os religiosos não têm isso. Mas acredito, porém, que o fato de os dois presidentes terem se comprometido de maneira pública para fazer isso é um gesto significativo e importante.
Por aquilo que o senhor pôde entender, o fato de o governo israelense ter aberto caminho formalmente para que o seu presidente fosse a Roma pode ter um significado ou foi um gesto de pura cortesia?
Acredito que um gesto diferente não teria sido compreensível aos olhos do mundo.
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''A paz também é feita de oração.'' Entrevista com Pierbattista Pizzaballa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU