15 Fevereiro 2023
Os católicos da Oceania concluíram recentemente sua assembleia continental do Sínodo, e uma alta autoridade do escritório de Roma que está facilitando o processo sinodal mundial disse que o encontro mostrou que a Igreja precisa se adaptar às culturas locais.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 14-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“É claro que a Igreja está se desenvolvendo em uma cultura local, enquanto muitas vezes temos uma visão muito eurocêntrica da Igreja”, disse a Ir. Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos. “Um dos pedidos foi dar espaço para uma teologia da Oceania, um sinal da necessidade de ancorar a Igreja nas realidades locais”, disse Becquart, que participou da assembleia continental de 6 a 10 de fevereiro, em Fiji.
O que a impressionou na Assembleia Continental para a Oceania?
Fiquei impressionada com os três temas escolhidos para esse trabalho, realizado por todos os bispos da região, que costumam se reunir a cada quatro anos. Em particular, refletimos sobre “tornar-se uma Igreja sinodal” e sobre a formação a ser realizada a fim de cumprir a missão. Mas também sentimos que a questão ecológica é extremamente premente, com um tema em torno do cuidado com o oceano. Essa região provavelmente também abriga a Igreja mais jovem do mundo, onde ainda existem missionários. Algumas ilhas foram evangelizadas nos anos 1950, pouco antes ou depois do Concílio Vaticano II. Não são herdeiros de 1.500 ou 2.000 anos de história: os debates hoje são muito diferentes do restante do mundo. As populações originárias marcam presença, com celebrações marcadas por um grande senso de inculturação.
Você sente que existe uma lacuna em relação à forma como as questões são abordadas em outras partes do mundo?
Para nós que viemos de Roma, experimentamos uma Igreja jovem ali. As preocupações não são muito diferentes de outros lugares, mas são expressadas com uma intensidade diferente. Vimos isso com a ecologia: durante uma semana, vimos com os nossos próprios olhos e ouvimos os testemunhos de quem foi vítima da erosão e da subida do nível das águas. As pessoas na Oceania estão experimentando as mudanças climáticas de uma forma muito intensa. Elas têm uma ligação muito forte com esse território, e perder suas terras significa perder sua identidade. Isso é terrível. Essa dinâmica do grito da terra e do grito dos pobres esteve presente nas reflexões durante toda a semana. É claro que a Igreja está se desenvolvendo em uma cultura local, enquanto muitas vezes temos uma visão muito eurocêntrica da Igreja. Um dos pedidos foi trazer à tona uma teologia oceânica, sinal da necessidade de ancorar a Igreja nas realidades locais.
Como essas diferentes abordagens serão integradas como resultado do processo sinodal?
É muito cedo para dizer. Precisamos ver o que emerge a partir de lá e de outros lugares. O documento de trabalho que será desenvolvido a seguir fará emergir a voz da Igreja dos vários continentes, com aquilo que os une e com aquilo que os diferencia. O que é comum a todos os sínodos continentais é a expressão da necessidade de a Igreja estar atenta ao sofrimento e ao clamor do povo. Isso vale para o Líbano com a pobreza, para a Turquia com o terremoto e para a Oceania com as ameaças das mudanças climáticas. Mas é claro que o caminho deste Sínodo não está traçado de antemão. Isso obviamente pode gerar medos, o que é normal. É normal que não seja confortável, como ocorre com todos os processos espirituais.
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“O caminho do Sínodo não está traçado de antemão.” Entrevista com a Ir. Nathalie Becquart - Instituto Humanitas Unisinos - IHU