21 Dezembro 2022
O nascimento de Jesus, considerado um palestino e profeta no Islã, oferece um momento de paz e esperança, unindo os corações de cristãos, muçulmanos e todos os palestinos.
A reportagem é de Marie Armelle Beaulieu, publicada por La Croix International, 19-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Dezembro é um mês imperdível em Belém. Quando dois bilhões de cristãos voltam os olhos para a cidade mais famosa da Palestina, tudo se parece bom.
Mapa da Cisjordânia, destaque para Belém. Fonte: Wikicommons
A assessoria de comunicação da Prefeitura trabalha o mais rápido possível, especialmente desde o dia 4 de dezembro, que marcou os 150 anos de fundação da Prefeitura de Belém. Mas a data que mais se destacou no calendário municipal foi a iluminação da árvore de Natal, no dia 3 de dezembro, na Praça da Manjedoura, que fica entre a mesquita e a basílica. É também onde se realiza o mercado anual de Natal.
A iluminação da árvore foi precedida por discursos, danças e cantos. Este ano, os moradores de Belém ficaram entusiasmados em receber Nomcebo Zikode, a cantora e compositora sul-africana que ganhou fama internacional no verão de 2020 com seu grande sucesso Jerusalema.
Diante de uma fila de bispos e padres de todas as denominações e diante de todas as autoridades civis e militares do governo, ela incendiava a multidão toda vez que mencionava o nome Palestina. A maioria das pessoas que vivem nos Territórios Palestinos não consegue chegar facilmente a Belém, mesmo estando a apenas 9 quilômetros de distância.
Como todos os anos, a Praça da Manjedoura estava lotada de pessoas e, também como em todos os outros anos, a maioria era muçulmana. Isso é verdade em todas as cidades da Cisjordânia que acendem uma árvore de Natal. A razão é que não há muitas oportunidades para comemorar. É o único momento em que é possível ver uma queima de fogos e testemunhar a magia das luzes. E não são apenas as crianças que olham para a tela com olhos infantis.
O Islã reconhece Jesus. E os moradores da Cisjordânia, sejam muçulmanos ou cristãos, o consideram palestino como eles. Eles não negam seu judaísmo, apenas está conscientemente oculto. O Sol da Justiça, o Príncipe da Paz é filho desta terra, filho desta aldeia. Foi aqui que sua mãe cuidou dele, foi aqui que ele sofreu perseguições, foi para lá que ele teve que fugir sob a pressão dos soldados, embora pudesse voltar. Um profeta do Islã, ele também é visto como um profeta da causa palestina. Como não celebrá-lo e à mulher que o deu à luz? A Virgem Maria também tem um lugar de honra, e as mulheres muçulmanas não hesitam em pedir-lhe favores quando vão à Gruta da Natividade ou à “Gruta do Leite”.
Os cristãos palestinos apreciam esses sinais anuais de respeito. E os muçulmanos palestinos têm orgulho de serem embaixadores para o mundo e seus companheiros crentes nesta época do ano. É também uma oportunidade para aproveitar a atenção midiática e testemunhar as dificuldades que têm de enfrentar na sua terra cercada de muros e privações.
Quaisquer que sejam as tensões que possam surgir de tempos em tempos entre cristãos e muçulmanos, todos saúdam este momento de apreço mútuo, porque este Jesus era, como eles, um filho da Palestina – que era, afinal, o nome da província romana no tempo de seu nascimento. Ele vem com a grande virtude de oferecer-lhes uma trégua, um momento suspenso onde o mais importante não é a batalha pela sobrevivência, mas sim a esperança.
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Natal na pequena cidade de Belém - Instituto Humanitas Unisinos - IHU