13 Dezembro 2022
Magda Maya é doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFC e professora da UNIFOR.
A entrevista é de Helena Dias, publicada por Brasil de Fato, 11-12-2022.
A adaptação às mudanças climáticas é uma agenda urgente e mundial, principalmente em países como o Brasil, que lidam com a diversidade de clima em suas regiões de maneira tão forte. Entre os aspectos dessa adaptação está a necessidade da educação ambiental, assunto que tem sido debate central na atuação da professora e pesquisadora cearense Magda Maya.
Recentemente Magda lançou seu segundo livro, o "Plano Secreto da Natureza", uma obra infantil que tem como proposta conscientizar as crianças sobre as pautas da sustentabilidade. O Brasil de Fato Pernambuco conversou com ela sobre o livro, as decisões da 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas e a situação do Nordeste brasileiro no contexto das mudanças climáticas.
Magda Maya é doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Você lançou recentemente o livro infantil “O Plano Secreto da Natureza”. Como foi esse processo criativo e por que devemos falar com crianças sobre mudanças climáticas?
Esse livro veio de uma observação com relação ao que a gente está vivenciando hoje, toda essa demanda com relação às mudanças climáticas muito centrada nos adultos. A gente precisa entender que embora já estejamos sentindo os efeitos, essa necessidade de maior adaptação, resiliência e conhecimento sobre o que está por vir precisa imediatamente começar a ser passado para as crianças. Em 30 anos, elas serão os adultos e é quando se espera, infelizmente, os efeitos mais severos das mudanças climáticas. O livro vem com uma abordagem didática e lúdica, em que a própria natureza fala com as crianças.
Como você avalia as principais decisões apontadas na COP 27?
Infelizmente mais uma vez a gente percebe pouco avanço, muitas discussões repetidas, e o que temos são avanços muito pontuais. Há muito planejamento, muitas ideias e pouca ação prática. Eu sempre comento que tem as questões das gerações, em que tem as pessoas que estão nos espaços de decisão e que tem mais de 50 anos, que vem de uma escola econômica que coloca a economia como a grande solução para tudo. Na outra ponta, tem a geração dos millennials e a geração alfa, que já começa a fazer reivindicações, e a cabeça roda em outra lógica.
Então a gente tem esse conflito geracional, as decisões continuam sendo postergadas e a tendência é que esses conflitos de geração se agravem. Se a gente realmente quiser saber o resultado de uma COP, a gente deve observar principalmente os grupos que protestam em vez das decisões que são tomadas nas cadeiras, porque a gente não está vendo muita coisa mudar.
No Brasil, a gente vivencia uma desigualdade regional, que é influenciada pelas políticas de governo. Como você vê a situação da nossa região nesse contexto da mudança climática?
O Semiárido de maneira geral já é acostumado a lidar com questões climáticas severas e a Caatinga pode ser modelo da gente descobrir como se adaptar, como ser resiliente a longos períodos de estiagem. Agora, se a gente chegar ao ponto de que as mudanças climáticas provoquem uma inversão, em que a gente vai ter muito mais chuvas do que estamos vendo acontecer, vamos sofrer bastante.
Nossos ecossistemas e biomas não estão adaptados a chuvas extremas. Nossas cidades não são preparadas para chuvas um pouco maiores, quando mais chuvas extremas. O risco climático é para todo mundo em todas as áreas. Mas é como eu falei, a Caatinga deve ser estudada como referência pelas áreas que vão sofrer com estresse hídrico, secas e estiagem.
Para além de escritora e professora você é influenciadora digital nessa área da sustentabilidade. Qual o papel das redes sociais nessa pauta e qual a principal mensagem que você quer levar para as pessoas?
Eu realmente acredito que as redes sociais podem ser um caminho de comunicação entre as gerações diversas, desde que sejam produzidos conteúdos que possam trazer efetivamente informação e conhecimento relevante. A gente sabe que as redes sociais tem o lado de deixar as pessoas mais no automático, mas ela também pode ser utilizada de maneira mais qualificada. Eu sempre fiz questão de me colocar nesse lugar porque quero me comunicar com essas gerações mais jovens e acho que lá é o caminho.
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“A Caatinga deve ser estudada como referência”, diz pesquisadora sobre mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU