02 Dezembro 2022
O padre jesuíta Juan Antonio Guerrero diz que sua renúncia ao cargo de prefeito da Secretaria de Economia se deve a problemas de saúde, mas alguns dizem que pode haver mais do que isso
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 02-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Quase três anos depois de ter sido nomeado prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé, o padre Juan Antonio Guerrero Alves deixou o cargo de “ministro das Finanças” de fato do Papa Francisco.
A assessoria de imprensa do Vaticano anunciou na quarta-feira que o jesuíta espanhol de 63 anos renunciou ao cargo de chefe do secretariado por “motivos pessoais”, acrescentando que o papa “agradece calorosamente ao padre Guerrero pela dedicação que demonstrou a serviço do Santo Ver”. “O padre Guerrero conseguiu colocar a economia em ordem, foi um trabalho forte e exigente, que deu muitos frutos”, disse o comunicado vaticano.
Em uma carta aos 40 funcionários da secretaria, que La Croix teve acesso, Guerrero disse que renunciou por motivos de saúde relacionados a uma “operação cirúrgica” a que foi submetido no ano passado. Ele disse que sua lenta recuperação estava dificultando o cumprimento de seus deveres de escritório.
“Contribuímos para tornar as regras mais claras”, disse ele a seus ex-funcionários, “mas ainda há muitas coisas em andamento”. Entre elas, enumerou “a centralização dos investimentos, a continuação da regulamentação e a simplificação dos processos de aprovisionamento de forma a torná-los mais transparentes e agilizados”.
O padre Guerrero elogiou a “criação do departamento de recursos humanos” da secretaria, que ele chamou de “um novo desafio para melhorar as condições de trabalho e o clima na Santa Sé”. Ele observou que planos também estão em andamento “para maior uso de procedimentos computadorizados”.
Mas alguns no Vaticano dizem que sua decisão de renunciar também pode estar ligada à sua resistência a certos pontos da Praedicate Evangelium, a constituição apostólica que trouxe reformas à Cúria Romana. Segundo uma fonte de alto escalão do Vaticano, o jesuíta espanhol tinha um “desejo excessivo de controlar” o setor financeiro da Santa Sé. Por exemplo, a fonte disse que o padre Guerrero se opôs à decisão do Papa Francisco em agosto passado de transferir todos os bens móveis e líquidos da Santa Sé sob o controle do Instituto para Obras Religiosas – IOR, comumente chamado de “Banco do Vaticano”.
Guerrero desempenhou um papel importante ajudando a reformar as finanças da Cúria, que faz parte de um esforço contínuo para combater a corrupção no Vaticano e promover a transparência em questões financeiras. Ele também teve que administrar o delicado “Palácio de Londres”, referente a um investimento realizado a partir de 2014 em um prédio da capital britânica no qual o Vaticano perdeu quase 180 milhões de euros. O prédio foi finalmente vendido em janeiro de 2022.
Depois de aceitar a renúncia de seu confrade jesuíta, o Papa Francisco nomeou o vice de Guerrero, Maximino Caballero Ledo, como o novo prefeito da Secretaria de Economia. O espanhol de 62 anos é amigo de infância do prefeito cessante. Os dois cresceram juntos em Mérida e trabalham lado a lado no Vaticano desde 2020.
O mais notável, no entanto, é que Caballero é agora o segundo leigo a ser nomeado prefeito de um importante escritório do Vaticano. Ele segue Paolo Ruffini, um italiano que foi nomeado em 2018 chefe do Dicastério para a Comunicação.
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As razões da renúncia do “ministro das finanças” do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU