16 Novembro 2022
"A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e somente a diminuição da Pegada Ecológica e o aumento da Biocapacidade podem garantir a habitabilidade do Planeta", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador de meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 14-11-2022.
A população mundial era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950 e chegará a 8 bilhões de habitantes no dia 15 de novembro de 2022, segundo as novas projeções da Divisão de População da ONU. A população mundial mais do que triplicou em 72 anos, ocorrendo um aumento de 5,5 bilhões de pessoas no período. Para o final do século, a estimativa média das projeções da ONU indica um pico populacional em 2086 com 10,4 bilhões de habitantes e, a partir de 2087, uma etapa inédita de decrescimento populacional com uma população de 10,3 bilhões de habitantes em 2100. A tendência média global é fácil de ser desenhada.
Mas a dinâmica demográfica tem apresentado ritmos diferenciados e até opostos entre os países e as diferenças devem se manter até o final do século. A tabela 1 mostra os 22 países com maior crescimento absoluto do número de habitantes entre 1950 e 2100. A Índia tinha 357 milhões de habitantes em 1950, deve atingir o pico populacional de 1,67 bilhão de habitantes em 2063 e apresentar um decrescimento até 1,53 bilhão de pessoas em 2100. Considerando os 150 anos entre 1950 e 2100 o aumento absoluto da população indiana será de 1,17 bilhão, o mais elevado entre todos os países.
A Nigéria vai apresentar o segundo maior valor do aumento populacional, pois tinha apenas 37 milhões de habitantes em 1950 e vai crescer continuamente até 546 milhões em 2100, com um acréscimo de 509 milhões de habitantes em 150 anos. Em terceiro lugar vem o Paquistão com aumento de 449 milhões de pessoas em um século e meio. A República Democrática do Congo tinha 12,3 milhões de habitantes em 1950 e deve alcançar 487 milhões em 2100, com acréscimo de 420 milhões de pessoas em 150 anos. Em seguida aparecem Etiópia com acréscimo de 306 milhões de pessoas, os Estados Unidos da América (EUA) com acréscimo de 246 milhões e a Tanzânia com 237 milhões.
A Indonésia aparece em 8º lugar, pois tinha uma população de 70 milhões de habitantes em 1950, deve atingir o pico em 2061 com 319 milhões e decrescer para 297 milhões em 2100. Assim, o aumento será de 227 milhões de pessoas em 150 anos. A China tinha 544 milhões de habitantes em 1950 e alcançou o pico populacional em 2022 com 1,43 bilhão de habitantes. Entre 1950 e 2022 a China se manteve como o país mais populoso do mundo, mas vai perder esta posição para a Índia a partir de 2023 e vai perder 654 milhões de pessoas até o final do século. Mesmo assim, a China terá um aumento de 223 milhões de pessoas em 150 anos.
O Brasil é o 15º país com maior aumento demográfico em 150 anos. A população era de 53,9 milhões de habitantes em 1950, vai atingir o pico populacional em 2047, com 231,2 milhões e deve decrescer para 184 milhões em 2100. Assim, o Brasil terá um aumento de 130,6 milhões de pessoas entre 1950 e 2100. O outro país latino-americano na lista é o México que apresentará um aumento de 88 milhões de pessoas nos mesmos 150 anos.
No total, os 22 países vão apresentar um acréscimo de 5,46 bilhões de pessoas em 1950 e 2100. Alguns países cantes no mesmo período. Os demais países são pequenos e tinham menos de 10 milhões de habitantes em 1950.
omo China, Índia, Indonésia, Brasil, Bangladesh e México, embora cheguem em 2100 com uma população maior do que 1950, vão também atingir o pico populacional e começar o decrescimento da população ainda no século XXI. Os outros países só devem apresentar decrescimento demográfico no século XXII.
Em termos relativos, a tabela 2 mostra os países com maior velocidade de crescimento demográfico. O Níger que, em 1950, tinha uma população de 2,6 milhões de habitantes deve atingir 167 milhões de habitantes em 2100, um crescimento de 65 vezes em 150 anos. Em termos absolutos, o Níger está em 11º lugar (conforme mostrado na tabela 1) e, em termos relativos, o Níger está em 1º lugar entre os países com maior crescimento populacional.
A grande maioria dos 22 países com maior crescimento demográfico relativo tinham menos de 10 milhões de habitantes em 1950. As duas exceções são a República Democrática do Congo, que tinha 12,3 milhões de habitantes e deve crescer 35,2 vezes e a Etiópia que tinha 17,7 milhões e deve crescer 18,3 vezes em 150 anos. Pode-se observar também que quase todos os países com elevado e rápido crescimento demográfico são subdesenvolvidos e de baixa renda, com exceção da Arábia Saudita que é grande produtora e exportadora de petróleo.
Países com alto crescimento demográfico e sem grandes recursos minerais e energéticos tendem a cair na armadilha da pobreza, pois a estrutura etária rejuvenescida e a alta razão de dependência tende a reduzir as taxas de investimento, inviabilizando o crescimento do emprego e da renda e dificultando a ampliação das políticas de saúde sexual e reprodutiva. Os países com alto crescimento populacional são, em geral, os que possuem alta prevalência da pobreza.
No outro extremo, a tabela 3 mostra os 22 países com maior decrescimento absoluto do número de habitantes entre 1950 e 2100. O país com a maior queda absoluta é a Ucrânia que tinha 37 milhões de habitantes em 1950, ultrapassou 50 milhões na década de 1990 e iniciou um processo de queda que se acelerou depois da invasão russa em 2022 e a projeção média da Divisão de População da ONU indica somente 20,4 milhões de habitantes em 2100. Ou seja, entre 1950 e 2100 a Ucrânia deve perder 16,9 milhões de habitantes.
O Japão tinha 84,4 milhões de habitantes em 1950, cresceu até o pico de 128,1 milhões de habitantes em 2009 e já iniciou a trajetória de decrescimento que deve ir até 73,6 milhões de pessoas em 2100, apresentando uma redução absoluta de 10,7 milhões de habitantes em 150 anos. A Itália tinha 46,4 milhões de habitantes em 1950 e terá, na projeção média da ONU, 36,9 milhões em 2100, uma redução de 9,5 milhões de habitantes em um século e meio.
Outros três países demograficamente grandes da tabela 3 e que vão ter decrescimento no período são a Alemanha que deve perder até 2100 cerca de 2 milhões de habitantes em relação a 1950, a Polônia que deve perder 1,7 milhão de habitantes e a Romênia que deve perder 3,3 milhões de habit
No total, os 22 países da tabela 3 tinham 348,5 milhões de habitantes em 1950 e devem chegar a 282,9 milhões. Portanto, devem perder 65,6 milhões de habitantes no período de 150 anos. A maioria dos países com decrescimento demográfico são de renda alta, embora também haja alguns de renda média. Países como Japão, Itália e Alemanha passaram pela transição demográfica e aproveitaram a janela de oportunidade da mudança da estrutura etária para dar o salto para o clube dos países ricos. Eles enriqueceram antes de envelhecer e agora possuem uma estrutura etária envelhecida e baixas taxas de fecundidade. Desta forma, estão apresentando decrescimento populacional não porque são pobres, mas exatamente porque possuem uma estrutura social que não favorece a adoção de famílias numerosas. Já países como Jamaica e Albânia são de renda média e estão envelhecendo antes de enriquecer, embora sejam países que conseguem reduzir a incidência da pobreza.
Em termos relativos, a tabela 4 mostra os países com maior velocidade de decrescimento demográfico. A Bulgária é o país com o maior declínio relativo da população, pois a população búlgara de 2100 será equivalente a apenas 41,1% da população búlgara de 1950. A população da Letônia será em 2100 pouco menos da metade (49,6%) da população de 1950. Em 2100, a população do Japão será equivalente a 87,3% do que era em 1950 e da Alemanha de 97,1%. Portanto, todos os países da tabela abaixo, em ritmos diferenciados, assistirão uma redução do tamanho da população no período de 150 anos.
Em síntese, existe um fosso na dinâmica demográfica global, pois há países que vão apresentar grande crescimento populacional no século XXI e outros que vão apresentar grande decrescimento populacional. Casos extremos são, por exemplo, a Nigéria que tinha apenas 37 milhões de habitantes em 1950 e deve atingir 546 milhões em 2100, enquanto a Bulgária tinha 7,2 milhões de habitantes em 1950 e deve decrescer para 2,9 milhões em 2100.
A população mundial veio acelerando o crescimento entre o ano 1 da Era Cristã (quando havia cerca de 200 milhões de habitantes) até atingir 3 bilhões em 1960 e 4 bilhões em 1975. Nestes 15 anos o crescimento médio foi de 2% ao ano, maior valor em toda a história do Homo sapiens. Mas o ritmo já entrou em desaceleração, está atualmente abaixo de 1% ao ano e atingirá o crescimento zero em 2086A e o “crescimento” negativo a partir de 2087. Todos os países de renda média e alta vão passar a ter decrescimento demográfico em algum momento do século XXI. A transição demográfica é fundamental para a melhoria da qualidade de vida das populações. Assim, espera-se que os países pobres também aprofundem as suas transições demográficas para vencer a pobreza e a fome.
Acima de tudo, o decrescimento da população, o fim do consumismo e a mudança no padrão de produção são o caminho para se atingir uma sociedade sustentável, pois a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e somente a diminuição da Pegada Ecológica e o aumento da Biocapacidade podem garantir a habitabilidade do Planeta para os seres humanos
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022. Disponível aqui.
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. Escrito em colaboração com Francisco Galiza). Disponível aqui.
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Principais países com crescimento e com decrescimento populacional de 1950 a 2100. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU