26 Outubro 2016
Em 2016, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região do Vale do Rio dos Sinos e Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.
O trabalho “Uma análise sobre o crescimento populacional e sua distribuição no espaço 'território' no município de Canoas - RS” foi realizado pelo Pós-Graduando em Geoprocessamento na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMINAS) Lucas Pereira Cabral em conjunto com a Mestranda em Ciências Sociais na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (CAPES/PROSUP) Thaís da Rosa Alves.
Eis o texto.
O fenômeno da urbanização vem modificando a compreensão das configurações e apropriações espaciais. Essas novas formas de pensar e viver em um território urbano estão atreladas às funções da cidade e da produção do espaço. (PIRES; LANDAU; MARTINS, 2013). Pensando a partir dessas novas configurações, este trabalho tem como objetivo analisar o crescimento populacional no município de Canoas a partir da sua expansão urbana.
O começo da urbanização de Canoas data do século XIX, devido à construção da Linha Ferroviária São Leopoldo no ano de 1874. No começo da década de 1900, a população do que viria a ser o município já contava com 600 habitantes e 100 edificações, além de áreas cultivadas. (SILVA, 1989). O crescimento econômico promovido pela integração dos territórios através da ferrovia motivou a urbanização do local com a chegada de população de cidades vizinhas que buscavam melhores condições econômicas próximas à capital do estado. (PIRES; LANDAU; MARTINS, 2013).
Na década de 1930, foi instalado em Canoas o 3º Regimento de Aviação Militar e o surgimento de novos assentamentos urbanos que impulsionaram os desejos emancipatórios para que, enfim, no ano de 1939, Canoas fosse emancipada de Gravataí, permanecendo como 4º Distrito do mesmo, até que, em 1940, fosse concretizada sua instalação como município. (SILVA, 1989).
Canoas localiza-se a leste da Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul e compõe a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) desde 1973. O município faz limites com Porto Alegre, Esteio, Cachoeirinha e Nova Santa Rita, sendo este último, até o ano de 1992, 2º Distrito de Canoas. A população do município, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2015, é de 341.343 habitantes distribuídos no território de 131 km².
Para a elaboração da presente análise, foram utilizadas as informações disponibilizadas pelo Instituto Canoas XXI (ICXXI), através da publicação Estado da Cidade: um retrato de Canoas, organizada pela Diretoria de Estudos e Pesquisas (DIEPE/ ICXXI). A publicação possui o objetivo de demonstrar a realidade da cidade aos cidadãos através da criação e monitoramento de indicadores nas dimensões socioeconômica e territorial, permitindo a avaliação do crescimento municipal em várias áreas.
A análise baseou-se nas áreas da população e território, a partir do monitoramento do percentual do crescimento populacional e da evolução da mancha urbana.
O percentual de crescimento populacional é construído a partir do incremento médio da população residente. Os dados são coletados nos Censos Demográficos realizados pelo IBGE, portanto, a variação do crescimento populacional, em percentual, a cada dez anos.
A evolução da mancha urbana é a relação entre a área ocupada em km² e a área total do município em km². O monitoramento do indicador é realizado de cinco em cinco anos, pois é necessário este intervalo de tempo para possibilitar a visualização de mudanças territoriais. As informações utilizadas para a construção do indicador foram coletadas e sistematizadas pela Diretoria de Cadastro Técnico e Geoprocessamento (DCTG/ ICXXI).
Para a realização da análise temporal da expansão urbana do município de Canoas, foram realizados diferentes tipos de levantamento. As primeiras informações sobre a ocupação urbana no município foram coletadas por meio de levantamento histórico do período de início da ocupação, em meados do século XIX, até a década de 1960. Para a análise da década de 1970, foram realizados levantamentos aerofotogramétricos e cartas topográficas, disponibilizadas pelo Exército Brasileiro. A partir da década de 1980, foram analisados, além do levantamento aerofotogramétrico, imagens de satélite que contaram com a interpretação de processamento digital de imagens. (Imagem 1).
Imagem 1 – Levantamento aerofotogramétrico (1973) e imagens de satélite (2012) do município de Canoas
Fonte: Elaborado pelos autores
A variação do percentual de crescimento populacional é um fenômeno de médio e longo prazo. O indicador contribui significativamente na formulação de políticas públicas sociais, econômicas, ambientais e territoriais. Como variáveis de base, utiliza-se o número da população residente no município nas áreas urbana e rural. (Tabela 1).
Tabela 1 – Percentual de crescimento populacional
Fonte: adaptado de Canoas (2015, p. 134).
Observa-se na tabela que, a partir do Censo Demográfico realizado no ano de 2000, Canoas deixa de ter população rural e passa a ter a taxa de urbanização de 100%. Essa característica é resultante da emancipação de Nova Santa Rita, em 1992, desmembrando-se do município de Canoas.
De acordo com a tabela, o município de Canoas apresentou um decréscimo do percentual de crescimento populacional no período de 1980 a 2010. A redução do indicador no período de 2000 a 2010 também é relevante, pois variou de 13,68% para 5,79%.
A evolução da mancha urbana de Canoas é a relação entre a área ocupada em km² e a área total do município. Essa evolução é monitorada em um período de cinco em cinco anos, a fim de visualizar as mudanças. (Tabela 2).
Tabela 2 – Evolução da mancha urbana
Fonte: adaptado de Canoas (2015, p. 148).
Observa-se na tabela que, até a década de 1950, o percentual da área ocupada pela urbanização não era muito elevado. Esta realidade mudou a partir da década de 1960, passando de 11,27% para 20,61% do percentual da área ocupada pela urbanização. Esta mudança no cenário ocorreu devido à instalação da Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP).
Na década de 1970, com a inserção do município na RMPA, ocorreu a ocupação de diversas áreas no município que correspondem aos bairros Rio Branco, Fátima, Estância Velha, São José e algumas partes que viriam a ser o Guajuviras. (Mapa 1).
Mapa 1 – Expansão urbana em Canoas
Fonte: adaptado de Canoas (2015, p. 151).
Outro período no qual houve o aumento significativo da urbanização do município ocorreu na década de 1980, no qual 41,62% do território passou a ser ocupado pela urbanização. Este aumento ocorreu principalmente nas zonas periféricas, como no bairro Harmonia, Mathias Velho, São Luís, Industrial e partes do Rio Branco e Niterói.
Nas décadas de 1990 a 2000, houve uma reconfiguração da mancha urbana, aumentando para mais de 50% a ocupação urbana no município. Uma das principais causas deste aumento foi o surgimento de loteamentos residenciais nos bairros Igara, São José e Guajuviras.
Observou-se que, no período de 2010-2014, o percentual de área ocupada pela urbanização em Canoas foi de 57,73%. No mapa acima, é possível visualizar que os bairros Mato Grande, São José, Brigadeira e Guajuviras foram os que mais ampliaram suas manchas urbanas neste período.
Atualmente, o município de Canoas encontra-se em um processo que pode ser considerado como de “estagnação horizontal” da expansão urbana em seu território. Apesar da diminuição significativa da mancha urbana e sua população nos últimas décadas, a tendência é um aumento da população devido à ampliação do solo urbano a partir da verticalização das construções de grandes empreendimentos no município que vem ocorrendo nos últimos anos.
O estudo do crescimento populacional e urbano de um município possibilita a análise e a identificação de tendências de ordem e deslocamento do crescimento populacional. Essas informações auxiliam no delineamento de estratégias de planejamento urbano que busca atender os aspectos sociais, econômicos e ambientais, pensados de forma transversal, para garantir o desenvolvimento includente, sustentável e democrático de uma cidade.
CANOAS. Instituto Canoas XXI. Estado da Cidade: um retrato de Canoas. 2015.
PIRES, C. L. Z.; LINDAU, H.G. L.; MARTINS, R. L. Representações do espaço-tempo: grafias de uma cidade. Revista FSA, Teresina, v. 11, n. 1, p. 220-241, jan./mar. 2014. Disponível em: < http://www4.fsanet.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/348> . Acesso
em: 8 ago. 2016.
SILVA, J. P. As origens de Canoas. Conquista, povoamento, evolução. Canoas: La Salle,
1989.
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Uma análise sobre o crescimento populacional e sua distribuição no espaço “território” no município de Canoas - RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU