07 Novembro 2022
Dom Pedro Luiz Stringhini é Bispo da Diocese de Mogi das Cruzes (SP), e Presidente do Regional Sul1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que tem uma presença missionária no Regional Norte1, um intercambio missionário que segundo o bispo, “é sempre um enriquecimento para a Igreja, não é para aquela que recebe, isso temos muita consciência, mas é para aquela que envia também”.
Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo da Diocese de Mogi das Cruzes (SP). Foto: Reprodução | Luis Miguel Modino
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Dom Stringhini afirma que “aquela que envia não é que tem tudo, precisaria receber também, e por tanto, receber ajuda humana, pastoral, ministerial”. Ele insiste em que “esse intercambio intereclesial enriquece toda a Igreja”.
O Presidente do Regional Sul1 da CNBB visitou a Prelazia de Itacoatiara, com a qual tem relação pela sua experiência missionária na paróquia de Urucará nos anos 1975 e 1976, onde morou antes de fazer a Teologia participando durante dois anos do Projeto Igrejas Irmãs São Paulo-Itacoatiara, um projeto firmado entre Dom Paulo Evaristo Arns e Dom João de Sousa Lima, Arcebispo de Manaus, porque não tinha bispo em Itacoatiara naquele momento.
Dom Pedro Luiz Stringhini lembra que naquele tempo vieram padres, religiosas e alguns leigos de São Paulo. Nesse tempo chegou em Itacoatiara o Padre Jorge Marskell, de Scarboro, canadense, que depois se tornou Dom Jorge Marskell, “um bispo queridíssimo”, a quem sucedeu o também falecido Dom Carillo, lembra o bispo, os dois sepultados na Catedral de Itacoatiara. Lá, ele celebrou no dia 1ª de novembro a Festa de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira da Prelazia, junto com o bispo atual Dom José Ionilton.
O Projeto Missionário do Regional Sul1 já está no Amazonas há 27 anos, na diocese de São Gabriel da Cachoeira e na Prelazia de Tefé. Seu presidente lembra da presença missionária do Regional há 8 anos na Diocese de Pemba, em Moçambique, afirmando que “é assim que vamos tentando exercitar este espírito missionário”. Ele insiste em que “poderia ser ainda melhor se mais sacerdotes se oferecessem, estamos sempre motivando, porque no Estado de São Paulo há dioceses carentes de padres, mas há dioceses com um bom número de padres”, dentre elas a Diocese de Mogi das Cruzes, onde ele é bispo, que tem padres missionários na África, na França, na Bahia. “É este esforço de um intercambio missionário que dá vitalidade à Igreja e dá alegria para todos nós”, segundo o bispo.
O Bispo de Mogi das Cruzes afirma que “uma experiência missionária para um leigo, como foi o meu caso, para uma religiosa, um religioso, um padre, um diácono, um seminarista, marca a vida de todos nós, uma experiência missionária faz alargar o nosso olhar. Por isso que as dioceses hoje, a minha também, procuram que os seminaristas, seja no tempo de férias, seja depois que terminam o estudo, que façam também alguma experiência nesse sentido. Isso tem ajudado”. Dom Stringhini destaca a importância do COMISE, o Conselho Missionário dos Seminaristas, “porque aquele que faz missão, seja seminarista, padre, leigo, leiga, tem mais facilidade de olhar a realidade dos que sofrem”.
“Um que vai em missão, depois quando está na própria diocese também tem mais sensibilidade para olhar para o povo da rua, para olhar para os presos, para olhar para as periferias”, reflete o bispo. Ele lembra que o Papa Francisco, “ele trouxe essa expressão muito cara a todos nós, termos esta sensibilidade para com as periferias geográficas e existenciais”.
Em relação com a Amazônia e a Igreja da região, o Presidente do Regional Sul1 afirma que para o povo de São Paulo, do Sudeste, do Sul, em geral, “a Amazônia é uma realidade diferente e distante, e por isso, o Papa Francisco, com esse olhar preferencial para a Amazônia, ajudou também e ajuda a toda a Igreja”. Segundo o bispo, “ele falando, o Sínodo chamou a atenção, aí nós bispos falamos mais, os padres também e o povo vai entrando”. Ele destaca que “o mundo olha para a Amazônia no sentido da preservação da casa comum, da preservação ambiental. Com muita preocupação nesse governo que está se encerrando, que não só não olhou, como de propósito ajudou destruir mais”.
“O mundo olha, a sociedade mundial olha para a Amazônia, e temos que fazer com que a sociedade brasileira também tenha esta sensibilidade, esta preocupação”, ressalta o bispo. Ele diz que “no fundo é uma preocupação com a defesa da vida, salvar a Amazônia é salvar a vida da humanidade, o ar, a água, as chuvas, a biodiversidade. Não é todo lugar que tem uma preciosidade, uma beleza, além claro da contemplação da beleza de Deus”. Por isso não duvida em afirmar que “Papa Francisco tem nos ajudado neste e em tantos outros aspectos”, citando como exemplo a Laudato Si' e o Documento de Aparecida, que também se deve muito a ele quando não era nem Papa, como cardeal Bergoglio.
Segundo o bispo, “nós temos tantos meios para não sermos uma Igreja acomodada, e aqui na Amazônia, o que a gente sabe, eu pessoalmente até vi no meu tempo que estava aqui, vi também nestes dias, e é muito positivo, tanta participação dos leigos e das leigas, que não são só espectadores da vida da Igreja, mas que são participantes, que são agentes de pastoral lá na comunidade onde estão, seja na comunidade da cidade, no mundo urbano, que é um desafio, mas também nas comunidades ribeirinhas”. São elementos que o levam a dizer que “a nossa Igreja graças a Deus é viva, é dinâmica, cheia de desafios, mas cheia de esperança”.
Diante das ameaças que a Amazônia e os povos que a habitam estão sofrendo, Dom Stringhini vê preciso “uma postura eclesial sensível, mas é preciso também uma postura política, que muitas vezes falta no nosso povo, até o povo católico”. O Bispo de Mogi das Cruzes insiste em que “quando o povo católico não percebe isso, pessoas da nossa Igreja, porque se a sociedade ficou bastante dividida politicamente, dentro da Igreja também”. Isso o leva a dizer que “é um grande desafio, a gente olha com preocupação, eu pessoalmente vejo com preocupação quando irmãos e irmãs católicos, e até mesmo padres, não se colocam diante desse problema, não consideram a problemática da destruição ambiental. Pelo contrário, tomam posições políticas na direção contrária. Isso aumente o desafio”.
“Havendo mudança de governo, também olhamos isso com esperança e com novas perspectivas”, afirma o bispo. Ele cita como exemplo o fato da Noruega, cuja ajuda foi rejeitada e agora já está de novo oferecendo, como um sinal de esperança. Dom Stringhini diz ser discípulo de Dom Paulo Evaristo Arns, foi ele que lhe ordenou padre, sendo ordenado bispo por Dom Cláudio Hummes, que gastou se tempo de emérito, 12 anos, em prol da Amazônia. Isso o leva a afirmar que “se por um lado eu constato o lado dos católicos que estão alheios e são até contrários, a gente olha com bastante esperança a parte esclarecida e a parte dedicada, e esses testemunhos”, lembrando da Irmã Dorothy.
O bispo fala de seu trabalho no começo do seu ministério sacerdotal na região do Araguaia, na Diocese de Conceição do Araguaia, precisamente em São Geraldo do Araguaia, na época da prisão dos padres franceses, Aristides e Francisco. Lá foi enviado pelo bispo da Região Belém, onde era padre e depois foi bispo, Dom Luciano Mendes de Almeida, “que era secretário da CNBB e que se empenhou pela questão indígena, pela questão da terra, e sobretudo pela libertação desses padres e pediu lá em São Paulo que algum padre viesse socorrer e viemos em dois, e ficamos 3 meses ajudando”. Isso o leva a afirmar que “eu olho muito mais a Amazônia com olhar de esperança a partir da nossa Igreja e de novas perspectivas políticas do que com falta de esperança, com pessimismo. Muito mais com optimismo do que com pessimismo, sobretudo com o grande contingente de missionários e missionárias que por aqui estão”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Salvar a Amazônia é salvar a vida da humanidade”, afirma Dom Pedro Luiz Stringhini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU