10 Outubro 2022
"Nesta perspectiva, o conteúdo desta obra, estruturado em sete capítulos, oferece ao leitor os textos das conferências e dos seminários monotemáticos. As conferências foram articuladas em torno de três eixos, desenvolvidos nas três conferências, destinadas ao conjunto de participantes", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), da Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, sobre o livro Liturgia e eclesiologia: fragilidade e força da Igreja que celebra (Paulinas, 2022), organizado pelo Pe. Washington Paranhos.
Os textos reunidos no livro: Liturgia e eclesiologia: fragilidade e força da Igreja que celebra (Paulinas, 2022), organizado pelo Pe. Washington Paranhos, são os frutos maduros dos conteúdos das conferências do I Congresso Nacional de Liturgia, promovido pelo grupo de pesquisa “A Recepção da Reforma Litúrgica e o Debate Litúrgico-Sacramental Contemporâneo”. O grupo reúne pesquisadores/as e estudantes da FAJE, PUC-Minas, ISTA, UNICAP e outras instituições e ensino e pesquisa em teologia no Brasil.
Liturgia e Eclesiologia: fragilidade e força da Igreja que celebra
Foto: divulgação
O evento foi realizado nos dias 14 e 16 de setembro de 2021 em formato remoto e teve como tema: “Liturgia e Eclesiologia”. Segundo os organizadores, “O congresso pretendeu apreender um dos conteúdos explícitos do Vaticano II: a relação entre Igreja e liturgia, declinada sobre múltiplas perspectivas, da bíblica à ecumênica, para observar suas implicações e consequências” (p. 14). Observam ainda que “Liturgia e eclesiologia não são dois termos que podem ser abordados de qualquer forma, mas indicadores de uma mesma realidade. É a liturgia que manifesta a Igreja e, ao mesmo tempo, é a Igreja que se constrói, cresce e se desenvolve até o seu cumprimento por meio da liturgia” (p. 14).
Nesta perspectiva, o conteúdo desta obra, estruturado em sete capítulos, oferece ao leitor os textos das conferências e dos seminários monotemáticos. As conferências foram articuladas em torno de três eixos, desenvolvidos nas três conferências, destinadas ao conjunto de participantes. Por sua vez, os seminários monotemáticos versaram sobre aspectos desses eixos e permitiram maior aprofundamento sobre o tema. Mais especificamente, os capítulos 1, 3 e 7 trazem as reflexões das conferências e os capítulos 2, 3, 5 e 6 apresentam/reportam as reflexões dos seminários. Assim sendo:
1) Dr. Andrea Grillo, em “A liturgia entre a reforma e pandemia: a fragilidade e a força da Igreja que celebra” (p. 19-36) “pretende mostrar como, a propósito desta pandemia litúrgica, já tínhamos, por muitos anos, o seu ‘pressentimento´, e como hoje podemos reagir a ela com um acumulado de práticas e de teorias mais amplo do que imaginamos” (p. 15). Grillo antes de tudo esclarece o que é a ação litúrgica e como devemos tentar compreendê-la (p. 22-24). Mostra qual foi o impacto fundamental da Covid-19 em nossa maneira de viver a Igreja e a liturgia (p. 24), por isso detêm-se na importância da fragilidade não apenas fora da liturgia, as propriamente no seu interior, quase como uma condição de possibilidade do ato ritual (p. 26-31). Conclui vislumbrando o que podemos projetar para o pós-pandemia (p. 31-35).
2) Dr. Danilo César dos Santos Lima, em “A liturgia doméstica e o memorial” (p. 37-53), aborda a liturgia doméstica a partir do memorial, conceito-chave para a teologia litúrgico-sacramental, esclarecendo que na raiz da experiência litúrgica está a celebração pascal, seja a dos judeus, seja a dos cristãos. Entre ambas se constatam dois vínculos que interessam a abordagem feita nestas páginas: o ambiente doméstico-familiar e as prescrições celebrativas, postas sob o conceito-chave “memorial” (p. 40-47). O autor salienta “que a liturgia doméstica vem à tona, portanto, em contexto pandêmico, como uma resposta à situação contingencial, mas também como um valor a não ser mais esquecido, como ‘bônus’ dessa travessia que agora fazemos. Não só as máscaras de nossas mazelas foram tiradas como também emergiu para nós algo profundamente desafiador e coerente com a fé e com a Tradição mais genuína da Igreja” (p. 50).
3) Me. Joaquim Fonseca, em “A contribuição de Joseph Gelineau no incremento da participação ativa da assembleia no canto litúrgico” (p. 55-69), ressalta a importância do Pe. Joseph Delineau no que diz respeito à participação ativa da assembleia no canto litúrgico, salientando que a produção teológico-liturgica e as intuições pastorais desse músico e liturgista francês, antes mesmo do Concílio Vaticano II, já apontavam para a sacramentalidade da assembleia. O caráter mistérico da assembleia motivou Pe. Galineau a falar com propriedade, sobre diversos aspectos da teologia litúrgica, a partir da função ministerial de cada rito, à luz da Palavra de Deus e da mais genuína Tradição. Destacando os pilares da teologia litúrgica de Gelineau (p. 56-62) e alguns aspectos marcantes de seu fazer litúrgico-musical, bem como sua influência na Igreja do Brasil (p. 62-68), comprova-se o empenho desse incansável “servidor da assembleia” (p. 56).
4) Dr. Damásio Medeiros, em “Liturgia e eclesiologia na América Latina” (p. 71-91), ressalta que o tema liturgia e eclesiologia na América Latina impõe à nossa atenção, de forma imediata, três aspectos que consideram o enraizamento da liturgia, de modo indissociável, à natureza da Igreja e consequentemente de sua ação prática ritual no contexto da América Latina. Neste horizonte, a reflexão de Medeiros é, num primeiro momento, um esforço de leitura do argumento a partir da relação de circularidade entre liturgia e a eclesiologia (p. 74-80) para em seguida pontuar a assembleia celebrante como expressão simbólico-ritual na América Latina (p. 80-84). Finalmente, o autor tece algumas reflexões implicativas entre a liturgia e a vida da Igreja como realidade vivente (p. 84-89).
5) Dr. Washington Paranhos, em “Liturgia: teologia e vida celebrativa. O ‘vírus’ de uma transmutação eucarística?” (p. 93-123), tendo em conta o tempo de enfrentamento da pandemia, esclarece termos que criaram confusão: “corpo místico” e “assembleia litúrgica”, “assembleia celebrante”, “Igreja doméstica” desenvolvendo, frente a isso, as seguintes questões: 1) a Igreja como assembleia-povo de Deus (p. 98-101); 2) as missas transmitidas (p. 101-114), 3) um novo começo, tendo preocupação com o impacto do clericalismo que surge como resposta a enorme crise litúrgica e eclesial (p. 114-120). Chamando a atenção para o “vírus de uma transmutação eucarística”, Paranhos, esclarece que “este tempo pandêmico tem revelado que o horizonte religioso, bem como o cenário eclesial característico de muitos fiéis (ministros ordenados e leigos), tem sido tão somente o do ritual de 'rezar missa', mas não propriamente o da experiência de fazer/viver/celebrar a liturgia” (p. 16).
6) Dom Jerônimo Pereira Silva, OSB, abordando o tema “A eclesiologia emergente da eucologia do Rito de Dedicação de Igreja e Altar de 1977” (p. 125-159), observa que, por se tratar de um rito pouco conhecido, é importante destacar parte de sua história (p. 128-133), analisando a gênese dos seus elementos e o seu percurso através das variadas tipologias dos livros litúrgicos das diversas épocas (p. 133-139), até desembocar nos antecedentes imediatos do Rito de Dedicação de Igreja e Altar (p. 139-142), para em seguida proceder na análise da Prece de dedicação, observando de perto as figuras eclesiológicas presentes na sua parte anamnética (p. 142-155).
7) Dr. Francisco Taborda aborda o tema “Os congressos eucarísticos como Statio Ecclesiae: revivescência atualizada de uma prática eclesial na antiguidade” (p. 161-193), ressaltando que “os Congressos Eucarísticos Internacionais são um evento relativamente recente, se considerarmos os 21 séculos de história da Igreja. Foi no final do século XIX que se iniciou essa prática que, no decorrer desses 140 anos, se desenvolveu, evoluiu e se manteve viva, mesmo diante de obstáculos e vicissitudes, como as duas guerras mundiais e agora a pandemia do novo coronavírus” (p. 161). Assim sendo, Taborda apresenta uma reflexão teológica sobre esses eventos, situando-os na história e indica como foram evoluindo com a própria evolução da Igreja que neles celebra a sua fé e a sua comunhão, distinguindo, três etapas:
A fragilidade e a força da Igreja que celebra. No tocante à liturgia da Igreja os atuais documentos eclesiais insistem na necessidade de uma liturgia essencial, que não sucumba aos extremos do subjetivismo emotivo nem tampouco da frieza e da rigidez rubricista ritualística, mas que conduza os fiéis a mergulhar no mistério de Deus, sem deixar o chão concreto da história de fora da oração comunitária. Neste sentido, os textos que compõem esta obra confirmam que liturgia e eclesiologia não são dois termos que podem ser abordados de qualquer forma, mas indicadores de uma mesma realidade, isso porque é a liturgia que manifesta a Igreja e, ao mesmo tempo, é a Igreja que se constrói, cresce e se desenvolve até seu cumprimento por meio da liturgia.
Cada reflexão desta obra contribuirá por isso, para fazer avançar na discussão da teologia litúrgica no mundo acadêmico, com reverberações no domínio da ação celebrativa e pastoral das comunidades eclesiais, estabelecendo, assim, uma ponte entre a academia e Igreja, como serviço à inteligência da fé.
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Liturgia e eclesiologia: fragilidade e força da igreja que celebra. Artigo de Eliseu Wisniewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU