03 Outubro 2022
"A originalidade da obra de Paranhos reside, no esforço de reunir um vasto material, ampliando seu campo de observação sobre a história da liturgia latina e dos sacramentos como um todo. Será oportuno e dirige-se a todas as pessoas que pretendem participar de forma cada vez mais consciente e frutuosa da liturgia vivida pela Igreja", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), da Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, sobre o livro O contexto litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica (Paulus, 2022, 208 p.), de Washington Paranhos.
“Fazer um estudo histórico da liturgia não consiste em enumerar dados, datas, nomes, documentos etc., mas em descobrir a experiência de um povo fiel que rezou, anunciou e celebrou o mistério de Cristo, em captar a expressividade de uma fé que se manifesta em gestos e palavras, e em acompanhar o processo de formação, aperfeiçoamento, fixação, renovação, inculturação, adaptação da celebração segundo a teologia, o conceito de liturgia e o mundo sociorreligioso-cultural circundante” (p. 10), assim, entende Washington Paranhos, doutor em Teologia com especialização em Liturgia e Sacramentária na obra: O contexto litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica (Paulus, 2022, 208 p.). Isso porque, o “conhecimento das grandes linhas da história é essencial para entender as estruturas celebrativas da liturgia atual. Além disso, o estudo crítico da história passada tem força de abertura para o futuro (p. 12).
O contexto litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica
Foto: Divulgação
Nesta perspectiva, o estudo de Paranhos estruturado em três momentos, “buscou fazer uma retomada do caminho realizado até o momento na reflexão teológica. Partiu de um discurso histórico-teológico da evolução do culto cristão no Ocidente, visitando e colhendo informações do dado litúrgico-sacramental, das comunidades apostólicas aos nossos dias, para concentrar-se nas formas litúrgicas dos dias atuais – também no âmbito não católico – e, por fim, colocar em evidência o sentido da liturgia na transformação da vida da Igreja. Procurou fazer, evidentemente, uma hermenêutica da Tradição, bem como uma contextualização histórica com as marcas de continuidade e de descontinuidade na liturgia e na sacramentária. Em todo o percurso histórico realizado, consideraram-se também, com mais atenção e detalhes, as informações mais importantes sobre os sacramentos da iniciação cristã” (p. 12).
Considerando que a história do culto cristão é muito vasta, Paranhos traz inicialmente um panorama histórico litúrgico-sacramental (p. 13-50), mais especificamente: a) a liturgia nos primórdios do cristianismo (p. 15-25), b) na era dos mártires (p. 25-42), ressaltando também as marcas significativas deste período (p. 43-50). Nesta parte observa que “ainda que a liturgia ocidental tenha como herança via o rito latino, maioria dos estudiosos afirma que ela realizou, pelo menos, três grandes enculturações: greco-helenística, latina pura e romano franco-germânica. E, quem sabe, poderíamos ainda falar de uma quarta grande enculturação a partir do Concílio Vaticano II. A celebração cristã nasceu inculturada na realidade judaica, marcada profundamente por todos os seus significados: o alimento, a ritualidade, a língua, etc. porém, o mundo em que Jesus viveu, bem como os seus discípulos, estava permeado pela cultura grega. Por isso, a religião cristã se confrontou desde o início com a cultura grega. (...). A liturgia, com o seu objetivo de celebrar o mistério de Cristo, não tem interesse e intenção de criar uma cultura paralela a fim de realizar o seu intento. Na própria intenção do cristianismo em se tornar universal, atinge o centro de todas as culturas para ali anunciar e celebrar o mistério de Cristo. Assim, a igreja primitiva fez uma grande síntese da cultura grega” (p. 49-50).
Os tópicos seguintes fazem considerações sobre o desenvolvimento e o declínio da Liturgia e da Sacramentária (p. 51-122), assim distribuídos: a) a liturgia em fase de estruturação plena a partir do século IV (p. 56-95), b) a questão da devotio moderna e a questão da Reforma Protestante e da Contrarreforma (p. 96-109), c) a liturgia e a sacramentária do século XVII ao século XIX (p. 110-122).
Na terceira parte de seu estudo, Paranhos destaca a continuidade e a descontinuidade no âmbito litúrgico-sacramental (p. 123-175). Destacando as mudanças trazidas pelo Movimento Litúrgico no campo da liturgia e da sacramentária (p. 124-148), a reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II (p. 148-159) e a recepção litúrgico-sacramental conciliar (p. 159 -175), o autor “considera de maneira essencial alguns personagens, eventos e problemas que caracterizaram o Movimento Litúrgico e o advento do Vaticano II” (p. 124), detendo-se, por isso, ao “pensamento de algumas pessoas, cuja reflexão teológica teve importantes implicações na compreensão e concepção da liturgia que continua nos influenciando até hoje” (p. 124). Ressalta que “a reforma litúrgica não é nem quer ser uma ruptura da liturgia cristã, mas quer garantir a continuidade com a grande tradição originária do rezar e do celebrar cristão. Não podemos cair na tentação de contrapor drasticamente continuidade e descontinuidade. A reforma, que é a consciência amadurecida na Igreja – e que não se pode improvisar -, busca a necessidade de favorecer a continuidade mediante uma certa descontinuidade. Porque, se é verdade que a reforma quer realizar uma continuidade mais autêntica e mais eficaz da Tradição, é igualmente verdade que só pode atingir esse objetivo á custa e algumas decisivas rupturas” (p. 124).
Nas páginas que compõe este estudo dedicado à história litúrgica, Washington Paranhos oferece “um olhar panorâmico, ou seja, uma passagem sobre uma realidade mais complexa, considerando não apenas a história da liturgia, mas também aquela da sacramentária, com uma atenção aos sacramentos da iniciação cristã desde as comunidades apostólicas até os nossos dias” (p. 13). Assim sendo, a originalidade desta obra reside, no esforço de reunir um vasto material, ampliando seu campo de observação sobre a história da liturgia latina e dos sacramentos como um todo. Será oportuno e dirige-se a todas as pessoas que pretendem participar de forma cada vez mais consciente e frutuosa da liturgia vivida pela Igreja.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O contexto litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. Artigo de Eliseu Wisniewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU