06 Setembro 2022
A 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi encerrada nesta sexta-feira, 2 de setembro com uma celebração eucarística no Santuário Nacional de Aparecida, Padroeira do Brasil, presidida pelo Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, que definiu a celebração como momento para louvar e agradecer a Deus que acompanhou o caminhar da CNBB ao longo de 70 anos.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Refletindo sobre as leituras da liturgia do dia, Dom Leonardo, criado cardeal pelo Papa Francisco no consistório celebrado na Basílica de São Pedro no dia 27 de agosto, afirmou que “somos sempre novos surpreendidos pelo amor com que somos amados, amadas, um amor redentor, libertador, gratuito”. Segundo o Arcebispo da capital do Amazonas, “somos todos participantes do verdadeiro banquete onde fomos conquistados, atraídos pelo amor que nos amou primeiro”.
Dom Leonardo questionou sobre a possibilidade de que “nos tenhamos descuidado e entrado na sonolência, no distanciamento, da relação, do convívio”. Segundo o cardeal, “perdemos o cuidado e o cultivo da proximidade, da maturação, de uma relação de amor”. Desde a presença do esposo, ele fez ver que isso “exige maior maturidade, despojamento, liberdade, sintonia, pois é uma relação santificadora onde somos sempre mais revestidos do esposo”.
Recordando as palavras de São Paulo, onde diz “já não eu vivo, mas Cristo vive em mim”, Dom Leonardo lembrou que quando vivemos na proximidade do Esposo, “somos sempre alimentados pela sua presença, mas também dos apareceres do caminho”. Nessa perspectiva, falando sobre o jejum, o cardeal afirmou que “jejuar por jejuar não desperta para a grandeza e a nobreza do seu seguimento”, definindo o jejum como “o exercício do vazio, do esvaziamento, uma abertura de receptividade, uma espera, uma saudade. Jejum, abrir espaço, ser receptividade do mistério que transforma”, referindo esse jejum ao Mistério da Cruz.
No jejum da relação, afirmou Dom Leonardo, “há possibilidade de uma intimidade transformativa, vida nova, Ressurreição”, ressaltando que “no esvaziamento de nós mesmos nasce a possibilidade da fecundação da vida nova, pela suavidade da gratuidade Cruz-Ressurreição, isto é amor”. Aprofundando na reflexão sobre o jejum, o purpurado se referiu à ausência do esposo, que “nos leva â saudade, saudade do tempo da graça, saudade do tempo do amor”.
O cardeal questionou: “as intempéries da vida que cobrem às vezes a nossa cotidianidade, a nossa nobreza e dignidade, justiça, fraternidade, paz, democracia, ética, estão a nos despertar para um jejum?”. Uma questão que cada vez mais cobra uma resposta da sociedade brasileira diante da atual situação pela qual o país está passando, como foi recolhido na Mensagem ao Povo Brasileiro sobre o Momento Atual. Dom Leonardo chamou a “despertamos para a necessidade da ética, da democracia, da justiça, da dignidade”.
A ausência de democracia, de paz, “começamos a perceber a importância de todos esses elementos”, enfatizou Dom Leonardo, pois “caso contrário perderemos os olhos, o olfato, as cores, os sabores da nossa convivência social”. Um jejum que na parábola do Pai misericordioso “trona-se caminho de retorno”, recebendo o filho “beijos e abraços que o devolvem ao banquete do amor". Por isso, ele chamou a “sermos fiéis e não abandonarmos o convívio”, e junto com isso a “permanecermos fielmente no aconchego da graça do amor”.
Falando sobre a Assembleia presencial, Dom Leonardo vê isso, depois de 3 anos de ausência de encontro entre os bispos em consequência da pandemia, como oportunidade para “estarmos na comunhão, na colegialidade”, como momento “para percebermos as graças e as belezas das nossas igrejas particulares”.
O novo cardeal da Amazônia, citando Querida Amazônia, disse que “expressamos uma Igreja que busca uma hermenêutica da totalidade”, afirmando que “todas as realidades necessitam de transformação, dignificação, santificação”, insistindo mais uma vez em “como nos fez bem estarmos juntos, na mesma comunhão, com as nossas diferenças, com os nossos sonhos”.
O Arcebispo de Manaus chamou a “voltarmos nosso olhar para a Amazônia, a Querida Amazônia, os povos, as culturas, a prodigalidade na natureza, a força suave das águas, a solidariedade, o acolhimento do nosso povo, a alma religiosa dos pequeninos, a pobreza e os pobres, a originalidade dos povos, a Amazônia que nos ensina e sempre nos acolhe”.
Uma região onde “essa Igreja missionária que navega nas contrariedades e que constitui comunidades de base com a força dos leigos, uma verdadeira presença viva, com a força e a presença da Vida Religiosa e de tantos missionários presbíteros”. Uma Igreja, citando palavras do Documento de Santarém, “encarnada e libertadora”. Isso, “numa Amazônia de mil rostos e mil sonhos, sempre mais delapidada, destruída, poluída, violentada, no entanto sempre mais amada”.
Por isso, o cardeal fez ver que “não necessitemos jejuar por ter perdido a poesia, os lares, as culturas, as criaturas, tudo o que abriga e deixa ser”. Mas também que “não necessitemos jejuar, sentir saudades do tempo em que tínhamos uma casa para a qual sempre podíamos voltar, uma casa para todos”. Palavras que Dom Leonardo encerrou pedindo que “permaneçamos sempre com o Esposo, permaneçamos sempre a caminho”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Leonardo Steiner chama a “voltarmos nosso olhar para a Amazônia que nos ensina e sempre nos acolhe” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU