01 Setembro 2022
“As religiões são instrumento de paz e não de ódio” é a chamada para uma Carta publicada por um grupo de cristãos em que condenam o uso e a manipulação política da religião para fins eleitoreiros.
A iniciativa da Carta partiu de lideranças cristãs do Estado do Paraná e está aberta à adesão.
Segundo a Carta, "a partir do momento em que se tenta colocar Deus e o Diabo como tema principal da campanha eleitoral, estamos nos desviando dos assuntos que realmente importam, como o custo de vida, a fome, a desigualdade social. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Esta é mensagem categórica de Jesus que deve orientar a ação na política".
“Ai daqueles que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal” (Isaías 5,20)
Nós, cristãos de diversas confissões e manifestações religiosas, abaixo subscritas, vimos a público manifestar a nossa preocupação com a forma como a religião vem sendo instrumentalizada nestas eleições pela campanha do candidato Jair Bolsonaro.
O Nome de Deus é sagrado e a Bíblia nos ensina que não pode ser banalizado e usado em vão (Ex 20,7), entretanto, nas últimas semanas temos visto manifestações inaceitáveis, absurdas, mentirosas e oportunistas do uso do nome de Deus e de Jesus Cristo com objetivos eleitoreiros.
Ainda mais grave, há uma clara manipulação dos textos bíblicos e dos ensinamentos de Jesus Cristo para apregoar uma espécie de “guerra santa” e estimular o ódio. Há uma tentativa de construção de uma narrativa de que Deus está de um lado, uma espécie de sequestro do cristianismo e o seu uso político.
O papel das Igrejas é sinalizar princípios éticos para a escolha de candidatos e não se transformarem em púlpitos de uma candidatura. As Igrejas não devem se transformar em linhas auxiliares de partidos ou ideologias políticas. A linguagem da fé é uma ferramenta poderosa e deve ser instrumento da paz, do amor, da solidariedade e da ideia de que nos constituímos como uma família humana.
Os cristãos, conscientes dos ensinamentos de Jesus Cristo, se opõem veementemente, a esta instrumentalização da religião cristã ou a estigmatização de qualquer outra expressão religiosa e não aceitam que a religião seja usada para incitar movimentos de ódio e violência política. A mensagem da bíblia é clara: “Não matarás!” (Ex 20,13) e Jesus nos ensinou a amar até os nossos inimigos (Mt 5,44).
Como cristãos, entendemos que as religiões, fiéis aos ensinamentos bíblicos e de Jesus Cristo, têm um compromisso com uma cultura da não-violência e do respeito à vida, compromisso com a solidariedade, a tolerância e, acima de tudo compromisso com os mais pobres e vulneráveis. Religião vem de “re-ligar”, portanto deve ser fonte de união e solidariedade, de respeito ao diferente, e não propagadoras de ódio e divisão.
As campanhas político-eleitorais são para apresentarem e discutirem projetos para o país. Temos muitos problemas para resolver, sendo que o mais grave é a desigualdade e a exclusão social. A partir do momento em que se tenta colocar Deus e o Diabo como tema principal da campanha eleitoral, estamos nos desviando dos assuntos que realmente importam, como o custo de vida, a fome, a desigualdade social. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Esta é mensagem categórica de Jesus que deve orientar a ação na política.
O compromisso de um verdadeiro cristão é com a defesa dos valores universais, do Direito à Vida, do Estado Democrático de Direito, do Estado Laico, das políticas públicas de proteção social, dos direitos humanos e do trabalho, da proteção da natureza e contra todas as formas de violência que se manifestam no racismo, no machismo, em todos os preconceitos e na intolerância religiosa.
A participação do cristão na política é importante e necessária, mas o imperativo desta atuação é para que todos tenham vida em plenitude.
“Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
https://forms.office.com/r/jN8FmW661g
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Cristãos publicam Carta: As religiões são instrumento de paz e não de ódio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU