01 Setembro 2022
"Lidia Maggi reflete sobre uma sociedade que passou do mito de Prometeu (o ser humano que rouba o fogo dos deuses, emancipando-se) ao mito de Narciso 'prontos a ouvir apenas o eco de si mesmos: uma sociedade onde difícil entender como se fazer escutar, mesmo quando se fala de Deus'", escreve Peter Ciaccio, pastor na Igreja Valdense de Palermo, em artigo publicado por Riforma, revista semanal das igrejas Evangélicas Batistas Metodistas e Valdenses, 02-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Recomeçar por Deus, colocando Deus de volta no centro das reflexões e das vidas dos indivíduos e das igrejas: sobre isso se falou na véspera da Assembleia-Sínodo, sábado 20 de agosto, na Galeria Municipal "Filippo Scroppo", a prestigiosa ambientação para a lotada apresentação de Deus. Apologia, décimo segundo volume da série "I libri di Paolo Ricca" pela editora Claudiana.
Dio. Apologia. Livro de Paolo Ricca
O autor foi apresentado pela pastora batista Lidia Maggi, que apresentou o texto como uma mão estendida, que relata brevemente o mundo que tentou se emancipar de Deus e a visão das outras religiões sobre Deus. No meio há uma reflexão que olha para o horizonte bíblico, para recuperar uma “gramática” para falar de Deus. Há, de fato, ressalta Maggi, uma espécie de analfabetismo em torno da Bíblia. Para abordar a questão de Deus, Ricca escolheu por embelezar o livro com uma estrutura incomum para um ensaio de teologia, fornecendo um "prelúdio", um "interlúdio" e um "poslúdio", ou seja, citações de importantes textos da crítica ao Deus dos cristãos, da resposta da igreja e da cultura judaica contemporânea.
“Deus é um artista. Deus é um poeta”, começou Ricca em sua apresentação, lamentando o quão pouco consideramos a arte, uma das maneiras pelas quais Deus fala. “O livro nasce de uma impressão: a Igreja já não fala de Deus. Não a Igreja Valdense ou a Igreja Católica, mas nenhuma Igreja. Espero estar errado". Claro, mas como se faz, quando uma característica fixa, por exemplo, dos profetas é a inadequação e a indignidade de falar de Deus?
Ricca observa que a igreja está mais ocupada em falar sobre sua própria obra, sobre o que foi feito e o que precisa ser feito, mas “Jesus fazia diaconia de manhã à noite e sete dias por semana; nem no sábado ele parava; mas ele nunca falava sobre isso. Quando falava, Jesus falava do Reino de Deus”. Não sem uma certa dose de (amarga) ironia, o autor observa que os ateus falam mais apaixonadamente sobre Deus (até para desacreditar sua fé) do que os cristãos, um pouco como “os homossexuais são mais apaixonados pelo casamento do que os heterossexuais”.
Mas quem ou o que o autor pretende defender com essa “apologia”? Certamente não Deus, que não precisa ser defendido, e que aliás defende os seres humanos, mas a fé cristã, que Ricca acredita ser uma coisa boa, a ser cultivada e transmitida: “entristece-me ver as igrejas vazias. Eu choro por essa derrota. Quando vejo conventos que se tornam hotéis de cinco estrelas, lugares de oração que se tornam lugares de luxo, não posso aceitar”. É por isso que o livro é uma oração dirigida aos crentes para não jogar fora um legado de séculos.
No encorpado texto de 411 páginas, Ricca dá conta da crítica a Deus e à religião, característica típica e exclusiva do Ocidente a partir do século XIX em diante. São críticas a serem consideradas, que devem poder ser expressas e que são o preço da liberdade. “Por que Salman Rushdie tem que morrer? Para nós é inaceitável”. Em seguida, o autor se debruça sobre o que a Bíblia fala sobre Deus, convencido de que muitos abandonam Deus porque não o conhecem e, para os cristãos, Deus é conhecido por meio das Escrituras.
Concluindo, Lidia Maggi reflete sobre uma sociedade que passou do mito de Prometeu (o ser humano que rouba o fogo dos deuses, emancipando-se) ao mito de Narciso "prontos a ouvir apenas o eco de si mesmos: uma sociedade onde difícil entender como se fazer escutar, mesmo quando se fala de Deus". A estrutura do livro foi enriquecida pelo acompanhamento musical de Sebastiano Reginato ao violino, que durante a noite ofereceu um prelúdio, um interlúdio e um poslúdio.
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“Deus é um artista. Deus é um poeta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU