Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Primeira Leitura: Jr 38,4-6.8-10
Segunda Leitura: Hb 12,1-4
Salmo: 39,2.3.4.18
Evangelho: Lc 12,49-53
Um contexto comum aos Evangelhos Sinóticos é o da perseguição, embora o Evangelho dedicado a Teófilo, ou da Comunidade de Lucas, tenha sido sistematizado em um tempo de relativa calmaria (após a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C. e antes da grande perseguição de 94 d.C.). Neste caso Lucas faz uma versão própria da tradição, sendo esta muito mais universal e dramática. Para construir sua versão, Lucas cita literalmente, no centro (v.51), o texto que também aparece de Mateus 10,34a: “Não pensem que vim trazer paz à terra.” Assim, sempre com sua preocupação catequética, quer advertir que o projeto de Jesus e fortemente antagônico em relação ao sistema econômico, político e social vigente da “Pax Romana” (isto é a “paz” mantida pela força militar e repressiva, tendo a cruz como um dos seus símbolos).
Podemos dizer que Lucas parte do fogo e chega à espada! Nessa construção, a terra (que aparece nos vs. 49 e 51) e a divisão (que aparece no versículo 51 e 52), conectam o antagonismo entre o projeto de Jesus e a “pax romana”. <
v.49 – “Fogo na terra (palavra-chave: gostaria – telo – “é meu objetivo”).<
v. 50 – “Um batismo” (palavra-chave: angustiado – sunexomai – “oprimido, aflito, preocupado”).<
v. 51 – “Não vim trazer paz na terra, mas divisão” (palavra-chave: contrário – ouxí – “negativamente, de jeito algum”)<
v. 52 – “A casa de 5 pessoas dividida” (palavra-chave: contra – epi – “sobre, por cima de”).<
v. 53 – “pai x filho, filha x mãe, sogra x nora”. <
Desta forma, Lucas adverte que o sistema da “pax romana”, ou da “casa patriarcal” ou “patrícia” (que era outra estrutura comum no Império Romano) não corresponde ao projeto do batismo de Jesus, que se manifesta na denúncia da angústia opressiva. O poder que domina a terra precisa queimar a partir das novas relações sistémicas e familiares transformadoras (figura que aponta para ação do Espírito Santo, cf. Lc 3,16). A divisão, não é uma proposta do projeto de Jesus, mas a consequência da não superação do poder dominante na terra. <
Relacionando com as outras leituras
Jeremias, muito mal compreendido pelos governantes de sua época que o jogaram na cisterna para morrer, defendia que a superação do poder opressor babilônico não seria com as mesmas “armas” (Jr 38,4-6.8-10). O seguimento de Jesus, que enfrentou o sistema de morte na Cruz, nos capacita a não desistir, mas resistir (Hb 12,3-4).