12 Agosto 2016
Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso!
Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra!
Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas, e duas contra três.
Ficarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra.
(Correspondente ao 20º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
A liturgia oferece-nos estas palavras de Jesus do Evangelho de Lucas. No início do texto, Jesus fala de um grande desejo que ainda não está cumprido: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso”!
De que fogo está falando?
Assim como acontece em outras passagens, Jesus fala por meio de expressões enigmáticas! Podemos pensar que não se refere a um fogo destruidor como o que foi anunciado por João Batista, ou a algum outro tipo de fogo que aparece no Antigo Testamento.
No AT, o fogo representa diferentes realidades. Por exemplo, o fogo expressa a revelação de Deus como acontece na sarça ardente para Moisés (Ex 3,2), ou quando desce ao monte Sinai entre relâmpagos e chamas e também há um fogo que, muitas vezes, representa a ira de Deus contra seu povo infiel ou um fogo que destrói os inimigos como no profeta Amós (1,4.6.7.12), ou como aparece em muitos outros livros.
Mas, possivelmente, Jesus está falando de um fogo diferente. Um fogo que seja purificador e que ofereça uma renovação pessoal e comunitária.
Há calor, luz, vida na medida em que outros elementos são queimados e transformados. Somente dessa forma aparece uma nova realidade.
Jesus continua falando de um batismo, que ele sabe que vai acontecer na sua vida e anseia que se realize: “Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra”.
O batismo é ser submergido nas águas, símbolo de morrer a um tipo de vida, seus costumes e seus desejos de renascer a uma vida nova, diferente. Nela depositamos nossa confiança em Deus, nosso Pai, que nos cuida e nos ama como filhos e filhas únicos/as.
Para ter uma vida nova onde reine a paz, o amor, a liberdade, é indispensável morrer. Como disse Jesus aos discípulos: ”Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna” (Jo 12, 24-25).
Por isso, esta vida nova acontece só na medida em que há um desprendimento, uma renúncia aos costumes e práticas que não levam a nada. Morrer a um modo de vida! Unicamente assim é possível dar espaço a uma vida nova.
Lembremos que Jesus caminha para Jerusalém onde será condenado e morto.
E nesta passagem manifesta seus desejos, sua missão, e os sentimentos que o acompanham. Expressa a missão que ele veio realizar junto com o desejo de ser batizado e a angústia até que isso seja cumprido.
Será que o “fogo” aceso, depois de passar pelo batismo da morte, ninguém conseguirá apagá-lo?
Como disse Paulo na carta aos Romanos: “Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. Cristo morreu de uma vez por todas para o pecado; vivendo, ele vive para Deus” (Rom 6, 9-10).
Neste domingo, Jesus nos convida a nos aproximarmos do seu calor e assim perceber seus desejos para deixar-nos transformar até ansiar um batismo similar ao seu.
Mas, para isso é fundamental abrir nossa vida, desejos, debilidades e fragilidades, assim como também daquilo que nos temos aferrado, para colocá-lo nas suas mãos, nos desapegando de tudo.
Nestas últimas semanas, recebemos continuamente notícias dos indígenas que ficam sem terra, despossuídos do seu único bem. Inumeráveis pessoas que morrem afogadas quando tentam atravessar o mar, porque fogem de suas terras à procura de uma possibilidade de vida.
Todas estas pessoas devem desprender-se daquilo que tinham e procurar uma vida nova. Nós, como cristãos não podemos ficar indiferentes e continuar aferrados ao nosso bem-estar ou comodidade.
Como escreve Paulo aos Filipenses, hoje somos convocados a "Conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos".
E continua: "Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo." (Flp 3, 10-12)
Junto com a Igreja dispersa pelo mundo rezemos juntos esta oração.
Batiza-me Jesus
Batiza-me Jesus
com o sol e a brisa
de tua graça cotidiana,
discreta criação
escorrendo por minha fronte
Submerge meu corpo
na bondade do povo
que corre pelo leito
de seus caminhos fundos,
abertos com seus pés
de trabalho e encontro.
Veste-me de branco
ao emergir das águas
respiração contida,
e acolhe-me em teu peito
com o abraço comunitário
de mil braços abertos.
Unge-me a fronte
com tua cruz de sofrimento,
e unge-me o peito
com a dor do povo.
Carregarei até o calvário
a cruz de teu mistério.
Gonzalez Buelta, Benjamin
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
Referências
GONZALEZ BUELTA, Benjamin. Salmos para: Sentir e saborear as coisas internamente.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
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Evangelho de Lucas 12, 49-53 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU