08 Agosto 2022
A interioridade é um exercício que todos nós estamos perdendo, imersos como estamos no fluxo frenético dos acontecimentos, sempre flutuando na superfície, em relações feitas apenas de contatos de pele e não de sentimentos e de almas.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado em Il Sole 24 Ore, 07-08-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Deves sempre lembrar que há uma pequena fazenda ou uma pequena vila de campo que é um refúgio à tua dor, e o seu nome é ‘Tua interioridade’. Cava dentro de ti. Aí está a fonte do bem, sempre pronta para brotar, contanto que caves sempre.”
As imagens são sugestivas: em campo aberto, um jardim cultivado com paixão; ao lado, uma casinha rodeada de árvores e, um pouco mais adiante, uma nascente que jorra criando uma fonte de água fresca. Quem as propõe é Marco Aurélio, nascido em Roma em 121, que se tornou imperador aos 40 anos e morreu em 180.
Homem de cultura, foi obrigado a administrar um período atormentado por guerras e revoltas na Britânia e na Germânia. Mas o seu sonho era o da solidão campestre, onde pudesse exercitar aquela reflexão que aterrissou nas páginas escritas em grego das suas “Memórias” (ou Pensamentos).
É delas que extraímos um pequeno parágrafo que toca um tema fundamental no pensamento filosófico clássico, a interioridade. Em chave cristã, Santo Agostinho se apaixonará pelo “retornar a si mesmo, ao homem interior”, com os seus segredos, os emaranhados das paixões, os esplendores dos anseios ao bem, as trevas da maldade, a emoção da inquietação.
Trata-se de um exercício que todos nós estamos perdendo, imersos como estamos no fluxo frenético dos acontecimentos, sempre flutuando na superfície, em relações feitas apenas de contatos de pele e não de sentimentos e de almas.
O apelo do imperador é claro: cava em ti mesmo e encontrarás uma fonte para viver, e não para sobreviver.
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#interioridade. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU