A misericórdia de Deus na Encarnação: uma oração inédita de São Francisco de Assis

Legend of St Francis - 15. Sermon to the Birds, quadro atribuido a Giotto di Bondone (Foto: Web Gallery of Art | Wikimedia Commons)

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03 Agosto 2022

 

O historiador franciscano Aleksander Horowski apresenta de modo detalhado e “suficientemente validado” o significado desta descoberta.

 

A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada em Avvenire, 02-08-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Ele define a recente descoberta de uma “oração” inédita atribuída ao Pobrezinho de Assis, “desenterrada” no Arquivo Histórico Nacional de Madri (sobre a qual o Avvenire escreveu em junho [disponível em italiano aqui]), como “uma descoberta importante do ponto de vista religioso e histórico”. Quem fala é o frei menor capuchinho Aleksander Horowski. Historiador polonês e editor da revista Collectanea Franciscana, ele explica a relevância do texto dentro das fontes franciscanas.

A oração inédita de São Francisco

Foto: Avvenire

 

E foi o próprio religioso, em um artigo assinado por ele na publicação científica Frate Francesco, revista de cultura franciscana, que apresentou detalhadamente e “suficientemente validado” o sentido dessa descoberta. O artigo do Pe. Horowski intitula-se ‘Oratio composita’. Uma inédita oração de Francisco de Assis?”.

 

“A descoberta ou, melhor, a redescoberta desse texto, porque foi identificado ainda em 1974 e depois relegado aos escritos de autoria duvidosa, sem ter sido publicado – conta o frei Aleksander –, faz-nos entender sobretudo a importância da liturgia tanto para a formação cultural e teológica de Francisco quanto para o seu modo de rezar. Segundo o santo, de fato, os textos litúrgicos (as antífonas do breviário, as leituras bíblicas presentes no Missal, as sequências e os hinos) são uma fonte de inspiração para compor uma oração pessoal e também para rezar junto com os outros. O mesmo fenômeno pode ser observado, por exemplo, no ‘Ofício da Paixão’ que Francisco compilou para a primeira fraternidade e que Santa Clara de Assis também recitava todos os dias, tendo-o aprendido de cor.”

 

Aos olhos do capuchinho, a descoberta do texto tem o sabor sobretudo de “algo emocionante, porque de repente somos alcançados pela voz de Francisco que nos fala de ‘paz’. Algo ainda mais precioso no contexto de hoje”.

 

Com a mente, o religioso volta à descoberta de características tão originais. “Eu estava revisando a edição latina do ‘Testamento’ e da ‘Bênção’ de Santa Clara, que se encontram, entre outras coisas, no códice L.1258 do Arquivo Histórico Nacional de Madri. Por esse motivo, quis ver quais são os outros textos transmitidos por esse manuscrito. Assim, dei-me conta dessa oração que o copista atribui precisamente a São Francisco, escrevendo: ‘Oratio composita a beato Francisco’. Intrigado, verifiquei que, depois de Kajetan Esser, que em 1976 dedicou meia página de introdução à avaliação da autenticidade do texto, ninguém mais se ocupou do problema. Assim, fiz a sua transcrição, descobrindo, surpreendentemente, muitíssimas semelhanças estilísticas, lexicais e conceituais com outros escritos autênticos de São Francisco.”

 

O estudioso – que é membro do Instituto Histórico dos Capuchinhos de Roma – se debruça sobretudo sobre a singularidade dessa nova fonte franciscana. “A oração concentra-se no mistério da Encarnação do Filho de Deus: Ele – como diz Francisco – ‘mais do que todos nos demonstrou a misericórdia, quando assumiu a nossa natureza no seu santíssimo templo, sacratíssimo ventre da Virgem’. Para o santo de Assis, Deus é digno de louvor tanto na sua glória eterna, como ‘grande Rei sobre todos os deuses’, quanto na obra da nossa salvação, como ‘Redentor e Salvador’.

 

O frei Horowski – é o que também se deduz a partir do artigo sobre o texto – não sabe o motivo que levou o Pobrezinho a deixar para a posteridade a oração “redescoberta”. “Não temos nenhum testemunho externo relativo a essa oração. De fato, nenhuma das fontes biográficas ou hagiográficas nos dá notícias sobre as circunstâncias em que o texto nasceu. Resta-nos – é a reflexão final – apenas a análise do seu conteúdo. Podemos dizer que, como em uma das cartas nas quais Francisco convida os destinatários à veneração da Eucaristia, aqui também ele compartilha a sua experiência com os outros: amando Cristo encarnado, o santo de Assis convida os homens, os santos, os anjos e todas as criaturas a louvá-lo e bendizê-lo.”

 

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