01 Agosto 2022
Agora obrigado a usar uma cadeira de rodas para parte de seus deslocamentos, o pontífice parecia exausto durante esta viagem.
A reportagem é de Cécile Chambraud, publicada por Le Monde, 29-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sentado em uma poltrona branca colocada atrás do altar, sem as câmeras, o Papa Francisco dificilmente seria visível para os 1.500 fiéis reunidos na basílica de Sainte Anne de Beaupré, quinta-feira, 28 de julho, para a missa solene organizada não muito longe da cidade de Quebec. A visita do chefe da Igreja Católica ao Canadá, de 25 a 30 de julho, é a primeira em que o papa argentino não teve condições de presidir a Eucaristia da maneira habitual.
Impossibilitado de dar mais do que alguns passos devido à dor aguda no joelho que o obriga a permanecer em uma cadeira de rodas para se locomover desde o início de maio, Francisco teve que se contentar em presidir a missa sentado e proferir a homilia. Já tinha acontecido isso na terça-feira, no estádio Commonwealth em Edmonton (Alberta), onde 50.000 católicos se reuniram para ver o papa. Na cidade de Quebec, ele nem pôde subir o caminho para o coro, com os outros celebrantes, antes da cerimônia, momento geralmente muito esperado pelos fiéis, que nessa ocasião podem se aproximar dele.
Esta primeira viagem desde que seu joelho dolorido o impede de caminhar foi uma espécie de teste de seu estado de saúde. Desde que foi obrigado a cancelar sua visita à República Democrática do Congo (RDC) e ao Sudão do Sul em 10 de junho, apenas três semanas antes de sua partida programada, alguns observadores especularam sobre sua possível renúncia por motivos de saúde. Para acabar com os rumores, Francisco concedeu uma série de entrevistas no mês de julho.
Renúncia próxima? “Não tenho intenção de renunciar. Por enquanto não”, disse, embora a renúncia continue sendo uma opção. “No momento, penso que o Senhor não está me pedindo isso. Quando o Senhor me pedir, então sim”, acrescentou em entrevista à televisão mexicana. Ele especificou que sofria de uma "pequena fratura" no joelho, tratada com laser e magnetoterapia, e que se sentia "muito limitado" por essa patologia.
Enquanto nas primeiras semanas ele estava relutante em se mostrar na cadeira de rodas, agora esse meio se tornou indispensável. Durante a viagem, ele até substituiu duas vezes o papamóvel - o carro coberto que ele usa para percorrer determinada distância mantendo-se próximo das pessoas - conforme planejado originalmente. Na segunda-feira, em Maskawacis, e na terça-feira, no lago Sainte Anne, a cadeira de rodas permitiu que ele acompanhasse os líderes e "anciãos" das Primeiras Nações, empurrado por seu mordomo.
Ao final, esse modo de se apresentar nem pareceu deslocado nesses encontros destinados a mostrar a contrição e o arrependimento da Igreja e sua proximidade com as diversas comunidades indígenas, que sofreram com o tratamento infligido a 150.000 de seus filhos nas escolas-internato administradas por congregações católicas.
A logística se adapta. Uma plataforma permite que o papa suba e desça do avião. Na cabine foi colocado um assento “business” mais confortável. O programa canadense foi muito mais leve do que aquele das viagens anteriores: ele não proferiu mais do que dois discursos por dia. Pessoas próximas a ele dizem que a situação do joelho melhora. Durante o voo que o levou de Roma para o Canadá no domingo, Francisco chegou a caminhar até a área ocupada pelos jornalistas, para cumprimentá-los, sem muitas dificuldades aparentes. Mas quando ele se levanta ou se senta na cadeira de rodas por razões protocolares ou cerimoniais, duas pessoas o auxiliam e a operação é visivelmente dolorosa.
A "limitação" imposta a ele por sua perna dolorida acabará parecendo excessiva para ele? O Papa Francisco não gosta de publicidade sobre seu estado de saúde, que considera de âmbito privado. Exceto suas breves declarações sobre o assunto, nada se sabe sobre o tratamento a que está sendo submetido. Em certos momentos da viagem, ele parece exausto até pela mera leitura de seu discurso, que é então monocórdica. O tema da visita ao Canadá - que ele mesmo definiu de "peregrinação penitencial" – poderia ter algo a ver com isso.
Mas em outros momentos aparece sorridente e animado, mostrando-se feliz em abraçar as crianças que são colocadas perto dele, como durante a viagem no papamóvel para a basílica na manhã de quinta-feira. Ele também pareceu muito presente e pedagógico diante dos representantes do clero, na tarde de quinta-feira na Catedral de Notre Dame de Québec, alertando-os para não se fecharam sobre si mesmos diante da secularização. No final, bispos, padres, religiosas e leigos engajados aplaudiram por muito tempo aquele homem em cadeira de rodas, que pareceu emocionado.
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No Canadá, a peregrinação penitencial do Papa Francisco revela sua saúde em declínio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU