28 Julho 2022
Mãe italiana, cuja língua ela fala. Pai meio Cri e meio Metis. Uma avó que sobreviveu a doze anos de escola residencial sem perder sua cultura e que não hesitou em apoiá-lo quando escolheu se tornar sacerdote. Padre Cristino Bouvette, da diocese de Calgary, era a pessoa ideal para programar junto com o mestre de cerimônias litúrgicas do Papa as missas e os momentos de oração para a viagem.
A entrevista com Cristino Bouvette é editada por Elena Molinari, publicada por Avvenire, 27-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Cristino, já vimos muitos sinais das tradições indígenas nos encontros do Papa com os nativos. Quais foram escolhidos e como?
Cada passo foi feito juntos. Houve inúmeros encontros com lideranças indígenas, e só isso já é uma grande contribuição da visita do Papa. Certamente não foi preciso que eu achasse um ponto de encontro entre a espiritualidade indígena e a católica, porque existe há séculos. Eu apenas ajudei a destacar uma compatibilidade que foi encontrada há tempo.
Na segunda-feira, a igreja do Sagrado Coração em Edmonton foi purificada com incenso por um ancião pouco antes da chegada do Papa. O que significa?
Cedro, sálvia, erva doce e tabaco são queimados como dons do Criador que são restituídos ao Criador. As finalidades do ritual são a purificação pessoal e a purificação do espaço em que ocorre. Em um contexto católico, podemos ver semelhanças com o ritual de unção com óleo do Oratório de São José, em Montreal, uma prática iniciada por Santo André Bessette. Para os indígenas, ver o Papa acolhido em um lugar que foi assim purificado demonstra uma sua sensibilidade para com suas tradições que certamente não são contrárias à fé.
Outra prática indígena que estamos vendo é a oração em direção ao norte, sul, leste e oeste...
É um movimento semelhante à antiga orientação geográfica dos lugares cristãos. Por exemplo, as igrejas e, portanto, o altar, estavam voltadas para o Leste. O significado para os indígenas é duplo. Serve como um lembrete da onipresença do Criador e que toda a Criação pertence a ele. Em segundo lugar, cada direção está alinhada com as fases da vida: crianças para o leste; adolescentes e jovens para o Sul; pais e pessoas de meia-idade para o oeste; idosos para o Norte. Além de reconhecer a dignidade de toda a vida humana, também demonstra uma humilde submissão à passagem do tempo, seguindo a direção do sol no céu, à qual todos devemos nos submeter se quisermos viver em harmonia e paz.
O Papa foi recebido em cada etapa por nativos em trajes tradicionais, que falam suas línguas e executam suas canções e danças. É uma honra, imagino?
Sim, desta forma o Papa é reconhecido como um líder que traz uma mensagem de reconciliação às suas terras. Acho muito comovente ver a riqueza de uma cultura que, apesar dos esforços para eliminá-la, não desapareceu e ainda é capaz de compartilhar sua beleza conosco.
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“A espiritualidade dos indígenas? Uma riqueza para a Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU