23 Junho 2022
Nas semanas em que o conflito na Ucrânia é travado usando o trigo como “arma de guerra” – como o Papa Francisco denunciava há pouco tempo – e nos dias em que o Parlamento italiano se prepara para aprovar novas ajudas militares a Kiev, a Comissão Episcopal para os Problemas Sociais e o Trabalho, a Justiça e a Paz da Conferência Episcopal Italiana (CEI) lança uma mensagem pela proteção da agricultura e contra as agromáfias que envenenam o mercado, exploram os trabalhadores e destroem o ambiente, em nome do lucro. A ligação com a atualidade da guerra é o ponto de partida.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada em Il Manifesto, 22-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A agricultura é uma atividade humana que assegura a produção de bens primários”, escrevem os bispos na mensagem – divulgada nessa terça-feira, 21 – para o 72º Dia Nacional de Ação de Graças, do próximo dia 6 de novembro. É por isso que, prosseguem, “apreciamos hoje mais do que nunca essa atividade produtiva em um tempo marcado pela guerra, porque a falta de produção de trigo faz os povos passarem fome e os mantém em xeque. As escolhas absurdas de investir em armas e não na agricultura fazem voltar a ser atual o sonho de Isaías de transformar as espadas em arados, as lanças em foices.”
Além da decisão de privilegiar as bombas ao invés do trigo, há outra “indústria” que afeta a agricultura. Trata-se, afirma a mensagem da CEI, da “florescente atividade das agromáfias, que fazem deslizar para a economia subterrânea até setores e sujeitos tradicionalmente sadios, envolvendo-os em redes de relações corruptas. A lavagem de dinheiro ou a poluição dos terrenos onde são derramadas substâncias nocivas, o fenômeno das ‘terras dos fogos’ que evidenciam os danos sofridos pelos agricultores e pelo ambiente, vítimas de incêndios causados por mãos criminosas, são exemplos de degradação”. E depois “comportamentos que ameaçam ao mesmo tempo a qualidade dos alimentos produzidos e os direitos dos trabalhadores envolvidos na produção”.
“Estruturas de pecado – é como os bispos as chamam – que se infiltram na cadeia produtiva”, dando origem a várias “formas de contratação ilegal que levam à exploração e às vezes ao tráfico, cujas vítimas são muitas vezes pessoas vulneráveis, como os trabalhadores e as trabalhadoras imigrantes ou menores de idade, forçados a condições de trabalho e de vida desumanas e sem qualquer proteção.”
Mas as agromáfias também dizem respeito a “práticas de agricultura insustentáveis do ponto de vista ambiental e de sofisticação alimentar” e “uso de terrenos agrícolas para o armazenamento de resíduos tóxicos industriais ou urbanos”.
O apelo dos bispos dirige-se a dois sujeitos: às “autoridades públicas”, para que ponham em prática “uma ação contínua de prevenção e combate às infiltrações criminosas”; e os cidadãos, para que sejam consumidores críticos e responsáveis, ou seja, adquiram “produtos de empresas agrícolas que operem respeitando a qualidade social e ambiental do trabalho”.
Falando em contratação ilegal – especialmente na agricultura, mas também em outros setores – a Associação Vittorio Bachelet e a Fundação Don Tonino Bello, junto com a Universidade de Salento, lançaram as “Dez teses para o combate às contratações ilegais”: atividade investigativa e repressão para atingir os verdadeiros responsáveis, mais do que seus subordinados, mas também “contratos de cadeia produtiva”, reabertura dos fluxos migratórios, “integração e inclusão dos migrantes”, reforço do sindicato nos locais mais em risco, promoção do consumo consciente e responsável também por meio de informações corretas.
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“As agromáfias envenenam o mercado, exploram os trabalhadores e destroem o ambiente” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU