07 Junho 2022
Se, como disse ontem o Papa, "cem dias após o início da agressão armada contra a Ucrânia, sobre a humanidade caiu novamente no pesadelo da guerra”, o conflito também teve um "efeito colateral" inédito no campo religioso: a Igreja Ortodoxa Ucraniana (COU), ligada a Moscou, decidiu romper com o patriarcado russo.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
E o fez porque o chefe desta, Kirill, de fato endossou a "operação" decidida pelo Kremlin sobre a República vizinha.
Para a União Soviética, a Ucrânia era um exarcado - quase uma superdiocese - do patriarcado russo; com o fim da URSS, em 1991, essa Igreja dividiu-se em três partes: uma pequena Igreja autocéfala (independente), o patriarcado de Kiev, a COU: esta última era de longe a mais enraizada em número de bispos, paróquias e fieis.
No outono de 2018, o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, anunciou sua intenção de reunir as três Igrejas em uma única, autocéfala, ligada a ele.
Proposta rejeitada pelo chefe da Igreja Russa, que considerou aquela iniciativa uma "interferência intolerável" do "primus inter pares" entre os hierarcas ortodoxos do mundo.
Mas, com o apoio do então presidente ucraniano, Pedro Poroshenko, em 15 de dezembro de 2018, um "Conselho de reunificação" foi realizado em Kiev, que pediu a Constantinopla que concedesse a "autocefalia" à nova Igreja Ucraniana reunificada (Coau): pedido acolhido por Bartolomeu. Mas a COU recusou-se a entrar nela, e o Santo Sínodo russo declarou "ilegal", canonicamente, a decisão do patriarcado "grego"; portanto, se colocou em estado de cisma com ele: a partir daquele dia, a Igreja Russa e a COU romperam a comunhão eucarística tanto com Bartolomeu como com a Coau.
Em 24 de fevereiro último, o presidente russo Vladimir Putin lançou a "operação militar especial" contra a Ucrânia: esta foi substancialmente apoiada por Kirill; mas Onufry, primaz da COU e metropolita de Kiev, comparou a ação do presidente russo àquela de Caim que mata Abel.
Depois alguns bispos da COU cortaram a comunhão eucarística com Kirill; e, finalmente, em 27 de maio, em um Concílio que viu presentes os bispos da COU e representantes do clero e do laicato, todas as relações com a Igreja russa foram rompidas e foram iniciados os procedimentos para a criação de uma Igreja autocéfala. Não se sabe se esta se unirá à Igreja nascida em dezembro de 2018, ou se permanecerá autônoma. Pelo seu lado, o patriarcado russo disse que ainda não havia recebido, oficialmente, o pedido de "afastamento".
Mas isso agora é inevitável: e assim Kirill, ao qual talvez fiquem unidos apenas alguns bispos da COU, perderá de um só golpe cerca de oitenta dioceses e cerca de trinta milhões de fiéis: uma derrota muito pesada para quem havia "abençoado" a empreitada organizada por Putin.
E isso não é tudo: também na Igreja Ortodoxa da Lituânia, ligada a Moscou, está crescendo o número de “popes” (padres) que querem cortar relações com Kirill, defensor do Kremlin, para se juntar a Bartolomeu. Efeito inesperado da "operação Ucrânia".
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A Ucrânia abandona a igreja russa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU