13 Mai 2022
“Não ver o problema da desnatalidade é uma atitude míope; é renunciar a ver longe, a olhar para a frente. É virar para o outro lado, pensando que os problemas são sempre complexos demais e que nada pode ser feito. É, em uma palavra, render-se.”
Publicamos aqui as palavras de saudação que o Santo Padre Francisco enviou aos participantes da segunda edição dos Estados Gerais da Natalidade, que ocorrem nos dias 12 e 13 de maio no Auditorium della Conciliazione, em Roma, que foram lidas na abertura dos trabalhos.
O discurso foi publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, 12-05-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Caros irmãos e irmãs,
Saúdo-os com afeto, lamentando por não poder estar fisicamente entre vocês neste ano. Mas vou acompanhar com atenção os seus trabalhos, porque o tema da natalidade representa uma verdadeira emergência social. Ela não é imediatamente perceptível, como outros problemas que ocupam o noticiário, mas é muito urgente: nascem cada vez menos crianças, e isso significa empobrecer o futuro de todos; a Itália, a Europa e o Ocidente estão empobrecendo de futuro.
Há uma periferia existencial no Ocidente, pouco visível, que não é percebida imediatamente. É o das mulheres e dos homens que têm o desejo de ter um filho, mas não conseguem realizá-lo. Muitos jovens custam a concretizar o seu sonho familiar. E então se abaixa a barra do desejo, e as pessoas se contentam com substitutos medíocres, como os negócios, o carro, as viagens, a preservação ciumenta do tempo livre... A beleza de uma família rica de filhos corre o risco de se tornar uma utopia, um sonho difícil de realizar.
Essa é uma nova pobreza que me assusta. É a pobreza generativa de quem faz um desconto ao desejo de felicidade que tem no coração, de quem se resigna a diluir as suas maiores aspirações, de quem se contenta com pouco e deixa de esperar grande.
Sim, é uma pobreza trágica, porque atinge os seres humanos na sua maior riqueza: trazer vidas ao mundo para cuidar delas, transmitir a outros com amor a existência recebida.
Não ver o problema da desnatalidade é uma atitude míope; é renunciar a ver longe, a olhar para a frente. É virar para o outro lado, pensando que os problemas são sempre complexos demais e que nada pode ser feito. É, em uma palavra, render-se.
Por isso, gosto do título do evento de vocês, organizado pela Fundação pela Natalidade e promovido pelo Fórum das Famílias: “É possível fazer” [Si può fare]. É o título de quem não se resigna. É o título de quem espera contra toda esperança, contra números que pioram inexoravelmente de ano em ano. “É possível fazer” significa não aceitar passivamente que as coisas não podem mudar.
Caros amigos, as coisas podem mudar se, sem medo, indo além dos interesses de parte e dos cercados ideológicos, nos comprometemos juntos. Por isso, espero que em todos os níveis – institucional, midiático, cultural, econômico e social – sejam favorecidas, melhoradas e implementadas políticas concretas, voltadas a relançar a natalidade e a família. Penso em vocês e gosto de ver como o tema da natalidade é capaz de unir, não de dividir. Empresas, bancos, associações, sindicatos, esportistas, atores, escritores, políticos, todos juntos para refletir sobre como recomeçar a esperar na vida.
Os dados, as previsões, os números já são conhecidos de todos: é preciso concretude. É o momento de dar respostas reais às famílias e aos jovens: a esperança não pode e não deve morrer de espera. Peço a Deus que abençoe o compromisso de vocês. Estou perto de vocês e torço por vocês, para que juntos possamos inverter a rota desse frio inverno demográfico. Obrigado. É possível fazer!
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O Ocidente está empobrecendo de futuro. Uma nova pobreza que assusta. Uma pobreza trágica, segundo o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU