Rússia-Ucrânia, prefeito Klitschko: “Que o Papa venha a Kiev”. O Vaticano insiste com discrição para não romper com Putin e contar mais

Vitali Klitschko (Foto: Raimond Spekking | Wikimedia Commons)

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17 Março 2022

 

"Que o Papa Francisco venha a Kiev". O convite vem do prefeito da capital da Ucrânia, Vitaliy Klitschko, em carta endereçada diretamente a Bergoglio. Fora de qualquer norma protocolar, o prefeito explicou ao Papa o motivo do seu convite: “Acreditamos que a presença pessoal de líderes religiosos mundiais em Kiev possa ser a chave para salvar vidas, abrindo caminho para a paz na nossa cidade, no nosso país e além. Oferecemos nossa ajuda em tudo que for necessário à Sua Santidade. Se uma viagem a Kiev não for possível, solicitamos uma videoconferência conjunta, a ser gravada ou transmitida ao vivo. Esforços serão feitos para incluir o presidente Zelensky nesta videochamada. Nós nos dirigimos a você, como líder espiritual, para mostrar sua compaixão, para estar com o povo ucraniano, difundindo juntos o apelo pela paz”.

 

A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 16-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Um convite muito significativo que traz de volta o papel de mediação para o fim da guerra na Ucrânia que a Santa Sé, por vontade de Francisco, assumiu para si oferendo várias vezes a sua disponibilidade para facilitar as negociações. Uma posição que viu o empenho do Vaticano duas frentes paralelas: diplomática e humanitária. Precisamente para evitar quebrar o já precário equilíbrio diplomático, Bergoglio sempre usou palavras claras, mas com o objetivo de evitar uma condenação frontal do presidente russo Vladimir Putin e o Patriarca Ortodoxo de Moscou, Kirill. Ainda que, precisamente em relação a este último que abençoou a guerra, o Papa, ainda que não de forma explícita como lhe havia sido pedido pelo mundo católico ucraniano, enviou uma mensagem muito eloquente: "Deus é apenas o Deus da paz, não é o Deus da guerra, e quem apoia a violência profana seu nome".

 

Francisco afirmou que "perante a barbárie de matar crianças, pessoas inocentes e civis indefesos, não há razões estratégicas que se mantenham: só cabe cessar a agressão armada, antes que reduza cidades a cemitérios. Com dor no coração, junto minha voz à das pessoas comuns, que imploram pelo fim da guerra. Em nome de Deus, se escute o grito dos que sofrem e se coloque um fim aos bombardeios e aos ataques! Que o foco seja a negociação verdadeira e decisiva, e que os corredores humanitários sejam eficazes e seguros. Em nome de Deus, peço-lhes: parem esse massacre! Desejo, mais uma vez, exortar ao acolhimento de tantos refugiados nos quais Cristo está presente e agradecer pela grande rede de solidariedade que se formou. Peço a todas as comunidades diocesanas e religiosas que aumentem os momentos de oração pela paz".

 

A ação diplomática e humanitária do Vaticano está se movendo rapidamente. “Nos próximos dias - afirmou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé Matteo Bruni – o cardeal Michael Czerny partirá novamente para a Ucrânia, a pedido do Papa Francisco, para mostrar a proximidade do Santo Padre àqueles que estão sofrendo as consequências da guerra em curso. O cardeal chegará à Eslováquia na quarta-feira, 16 de março, e viajará para a fronteira ucraniana nos dias seguintes. O Papa Francisco segue esta missão com a oração, como aquelas dos últimos dias, e, através do cardeal, deseja estar próximo de quem está fugindo dos combates e sofrendo pela violência de outros homens”. Uma missão que se junta à do cardeal esmoleiro apostólico, Konrad Krajewski.

 

Também no dia 16 de março, na Basílica Vaticano, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, presidirá uma missa pela paz na Ucrânia para o corpo diplomático acreditado junto ao Santo Sede. Uma mensagem que o Vaticano quer enviar a todos os Estados com os quais mantém relações diplomáticas para uma mobilização em favor do fim do conflito. “A guerra - explicou o cardeal - é como um câncer que cresce, se expande e se autoalimenta. É uma aventura sem volta, para usar as palavras proféticas de São João Paulo II. Infelizmente, devemos reconhecer isso: caímos em um vórtice que pode ter consequências incalculáveis e prejudiciais para todos. Quando um conflito está em andamento, quando o número de vítimas indefesas cresce, é sempre difícil voltar atrás, ainda que não seja impossível, quando há uma vontade efetiva de fazê-lo, é difícil prosseguir com todo esforço as negociações, seguir todo caminho possível para chegar a uma solução, ser persistente em empreender iniciativas de paz. Não devemos ceder à lógica da violência e do ódio. Tampouco devemos nos render à lógica da guerra e resignar-nos apagando todo vislumbre de esperança. Devemos todos juntos levantar um grito a Deus e aos homens para que calem as armas e retorne a paz, como o Papa está fazendo”.

 

Ao chanceler russo, Sergej Lavrov, Parolin “repetiu o apelo do Papa por um imediato cessar. Pedi o fim dos combates e que se buscasse uma solução negociada para o conflito. Insisti no respeito pela população civil e sobre os corredores humanitários. Reiterei também, como o Papa já havia feito no Angelus, a total disponibilidade da Santa Sé para qualquer tipo de mediação que possa favorecer a paz na Ucrânia”. Do lado russo, o cardeal destacou que, apesar de ter tomado nota da proposta, "não houve sinais até agora" propensos a aproveitar essa oportunidade. Para Parolin "não é importante que a oferta da Santa Sé seja aceita, mas o importante é que, de qualquer forma, se chegue a pôr um fim a tudo o que está acontecendo ", na esperança de que os contatos em andamento e outras mediações em campo possam se concluir positivamente.

 

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