11 Março 2022
Depois de votar uma série de propostas sugerindo mudanças profundas no Caminho Sinodal, os bispos alemães realizam sua assembleia-geral nesta semana.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada por La Croix, 07-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Caminho Sinodal, o qual a Igreja Católica na Alemanha lançou em dezembro de 2019, está levantando grandes expectativas depois das últimas revelações de abusos sexuais.
Organizados pela Conferência dos Bispos da Alemanha e pelo Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK), a principal organização leiga do país, esse processo de reforma sobre a organização e o futuro dos católicos na Alemanha aparenta ser apoiado pela maioria dos 67 bispos do país.
A mais recente sessão do Caminho Sinodal, a qual ocorreu de 3 a 5 de fevereiro, em Frankfurt, mostrou essa tendência.
Dos 14 textos discutidos, três foram aprovados na segunda leitura e obtiveram a maioria qualificada de dois terços entre os 230 membros da assembleia sinodal e os 67 bispos.
Uma dúzia de bispos votou contra
O primeiro texto propõe ao Papa Francisco um maior papel decisório dos leigos nos órgãos de governo da Igreja, com base no modelo de “uma sociedade democrática e aberta”.
O segundo texto preconiza a participação dos leigos na escolha dos bispos, enquanto o terceiro texto – mais teológico – pede que as fontes de verdade da Igreja sejam estendidas à “ciência teológica”, “os sinais dos tempos” e “o significado da fé para o povo de Deus”.
Nas várias votações, um punhado de bispos se absteve enquanto uma dúzia votou contra.
Entre aqueles que votaram “não” estavam dom Rudolf Voderholzer, de Regensburg, dom Stefan Oster, de Passau, o dom Wolfgang Ipolt, de Görlitz, e dom Florian Wörner, bispo-auxiliar de Augsburg.
Dessas vozes dissidentes, dom Voderholzer é o mais proeminente na mídia.
Em entrevista ao La Croix, em setembro de 2021, ele disse que a crise dos abusos sexuais estava sendo “instrumentalizada” por alguns para “reorganizar a Igreja Católica no modelo das ordenanças da Igreja Protestante, onde a palavra 'sínodo' tem um significado diferente e significa uma espécie de parlamento da Igreja”.
“Em minoria”
“A sopa do caminho sinodal é cozida em uma fogueira alimentada pela indignação contra os abusos sexuais”, disse ele.
Voderholzer reconheceu que estava “em minoria” na conferência dos bispos, mas disse estar “perplexo” com a lacuna entre as opiniões do Caminho Sinodal e a posição do Vaticano.
O bispo de 62 anos, que chefia a Diocese de Regensburg desde 2012, ganhou mais visibilidade como o principal crítico do Caminho Sinodal desde que o cardeal Rainer Maria Woelki, de Colônia, tem sido cada vez mais criticado por sua má gestão de casos de abuso sexual.
Woelki, de 65 anos, apresentou ao papa sua renúncia em 2 de março pela segunda vez.
Ele disse repetidamente que o processo sinodal poderia levar a uma séria “divisão” na Igreja e não participou da sessão de fevereiro.
“Não sei que papel ele poderá desempenhar no processo sinodal”, disse Claudia Lücking-Michel, membro do ZdK, que dirige um dos quatro fóruns do processo sinodal.
“Uma forma de vida cristã não politizada”
Além desses poucos bispos que são resolutamente contra as reformas, a maioria dos “conservadores” permanece discreta.
“Eles sabem que suas posições são minoritárias em suas próprias dioceses”, observou Michael Seewald, professor da faculdade de teologia católica da Universidade de Münster.
“A maioria dos bispos conservadores observa uma contenção que tem suas vantagens. Ela lhes permite preservar uma certa forma de vida cristã que não é politizada. Essa postura também é compartilhada por alguns reformadores”, disse ele.
Os “reformadores” também não necessariamente apoiam todas as propostas do caminho sinodal.
É o caso de dom Peter Kohlgraf, de Mainz, que se opõe a uma maior participação dos leigos na nomeação dos bispos.
Portanto, ele não implementará essa medida em sua própria diocese.
Isso porque cabe ao Ordinário local decidir se implementa ou não medidas que não são da alçada da Igreja universal.
Outras questões, como a possibilidade de ordenar mulheres, exigem necessariamente a aprovação do papa.
E em questões candentes como esta, os bispos alemães que desconfiam do Caminho Sinodal têm uma vantagem: eles têm muitos apoiadores na Cúria Romana.
“Isso é um fato”, diz Claudia Lücking-Michel.
“Diferente dos conservadores, os reformistas têm poucos apoiadores em Roma. Mas isso não deve impedi-los de fazer propostas”, insistiu.
“O importante é que eles cheguem a Roma”.
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Alemanha. Bispos caminham cuidadosamente pelo Caminho Sinodal alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU