10 Março 2022
O chefe da diplomacia do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, depois do telefonema de ontem com o Ministério das Relações Exteriores russo, Sergej Lavrov, está visivelmente alarmado com a guerra. Em muitos anos ele nunca viu nada assim, um sinal de que a diplomacia está patinando, não arranca. Agora até os acordos para os corredores humanitários não estão mais funcionando. “Deve haver uma abertura por parte de todos, apenas se houver disponibilidade em negociar e chegar a acordos. Mas se todos se entrincheirarem nas suas posições, bem, então não há mais nada a fazer e a guerra se tornará cada vez mais mortal, e com as perspectivas de que possa se ampliar. Espero que não".
O secretário de Estado Parolin acaba de voltar de uma importante lectio na universidade Angelicum diante dos parlamentares católicos, na primeira fila também estão Salvini (de volta da infeliz viagem polonesa), Meloni, Elena Boschi, Fassina, D'Urso, Gasparri, Paolo Ciani, Sacconi, Menorello, a quem, antes de deixar o anfiteatro e retornar ao Vaticano, fala sobre a conversa com Lavrov, ressaltando a disposição do Papa de intervir a qualquer momento como facilitador, embora no momento não haja margem de manobra para ninguém ("Não podemos entrar se não formos chamados em causa").
A entrevista é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 03-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Eminência, o prefeito de Mariupol informou que um hospital civil de 900 leitos foi destruído, que há crianças sob os escombros e uma criança morreu de desidratação: o que tudo isso tem a ver com a operação militar, segundo a definição dos russos?
É uma pergunta não apenas legítima, mas obrigatória, já que a primeira versão que foi dada desta guerra é que era uma operação militar destinada a destruir as instalações militares da Ucrânia e, portanto, a assegurar e garantir a segurança da Rússia. Mas bombardear um hospital pediátrico não tem nada a ver com esse objetivo.
É uma guerra. O senhor teve alguma garantia humanitária quando falou com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia?
Ele me ouviu e depois, naturalmente, apresentou seu ponto de vista, e assim ficamos. Mas não me deu garantias. No entanto, era importante insistir da nossa parte e reapresentar mais uma vez o apelo do Papa que ele fez tanto à embaixada russa junto à Santa Sé na semana passada, como em outras ocasiões, para que se possa parar.
Qual é o ponto de vista de Lavrov, ele por acaso lhe disse qual é o objetivo final, talvez a tomada de Kiev?
Ele disse que o objetivo de garantir a segurança da Rússia, que tudo o que aconteceu nos últimos anos, teria colocado em risco a segurança do país. É isso, este foi o telefonema.
Sinto que o senhor está preocupado desta vez, o senhor que já viu tanto...
Estou muito preocupado com o que está acontecendo. Agora é justamente uma guerra total.
Há crimes contra a humanidade que acontecem diante dos nossos olhos, civis são atingidos todos os dias....
Nós não damos definições, os órgãos responsáveis as darão. No entanto, é inaceitável que um hospital seja bombardeado. Não há razões, nem motivações para fazer isso.
Eles nem querem corredores humanitários para a Europa, mas apenas para o território russo ...
Deve haver uma abertura por parte de todos, apenas se houver disponibilidade para negociar e encontrar acordos. Mas se todos se entrincheirarem nas próprias posições, então não há mais nada a fazer e a guerra se tornará cada vez mais mortal, e com as perspectivas de que possa se ampliar. É terrível. Terrível. E eu espero que não.
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Guerra na Ucrânia, Cardeal Parolin: “Não vejo disponibilidade para negociar, assim o conflito não vai parar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU