17 Fevereiro 2022
Depois de constatado que administrara celebrações do sacramento do batismo proferindo palavras diferentes da fórmula sacramental, o padre Andres Arango renunciou, no dia 1º de fevereiro, ao cargo de pastor da paróquia de São Gregório, em Phoenix, nos Estados Unidos. Ele se dedicará, agora, num ministério de tempo integral, na ajuda “a remediar isso e curar os afetados”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Depois de receber retorno à consulta encaminhada à Congregação para a Doutrina da Fé, o bispo da Diocese de Phoenix, Thomas Olmsted, revelou, em carta pastoral à congregação, o resultado da nota doutrinal recebida, anunciando que não eram válidos os batismos realizados sob a fórmula alterada do sacramento.
Ao batizar crianças, Arango administrava o sacramento pronunciando as palavras: “Em nome de pai e mãe, padrinho e madrinha, avós, familiares, amigos, em nome da comunidade nós vos batizamos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. A Congregação para a Doutrina da Fé reconhece que tal administração enfatiza o valor comunitário do batismo, “para expressar a participação da família e dos presentes, e para evitar a ideia de concentrar o poder sagrado no sacerdote em detrimento dos pais e da comunidade”.
Mas “quando se batiza, é o próprio Cristo que batiza”, frisa a Congregação vaticana, inspirando-se em texto de Santo Agostinho. A igreja, ao celebrar um sacramento, ela atua como um corpo de Cristo. “Os sacramentos, de fato, na medida em que foram instituídos por Jesus Cristo, são confiados à Igreja para que sejam por ela guardados”. Assim, o Senhor é o protagonista do evento que se celebra.
Por isso, a fórmula batismal requer o uso de “eu batizo”, afirmou o bispo Olmsted. “O problema de usar ‘nós’ é que não é a comunidade que batiza uma pessoa, mas sim Cristo, e somente Ele, que preside todos os sacramentos, então é Cristo Jesus quem batiza”. O Concílio Vaticano II, enfatiza a resposta da Congregação, estabeleceu que ninguém, “mesmo sendo sacerdote, ousa, por sua própria iniciativa, acrescentar, remover ou alterar qualquer coisa em matéria litúrgica”.
Em mensagem dirigida à congregação de São Gregório, o padre Arango expressou tristeza ao saber que realizou batismos “inválidos” durante todo o seu ministério como sacerdote. “Lamento profundamente o meu erro e como isso afetou muitas pessoas em sua paróquia em outros lugares”. Arango foi ordenado em 1995 e até junho de 2021, quando foi apontado o uso incorreto da fórmula batismal, ele realizou milhares de batismos, inclusive as que celebrou no período em que trabalhou no Brasil.
“Não acredito que o padre Andrés tinha qualquer intenção de prejudicar os fiéis ou privá-los da graça do batismo e dos sacramentos. Em nome da nossa Igreja local, também lamento sinceramente que este erro tenha resultado na interrupção da vida sacramental de vários fiéis”. Fato é que, sob a ótica da Igreja Católica, os batismos realizados pelo padre Arango são inválidos. A Diocese recomenda aos que por ele foram batizados a buscar mais informações sobre como proceder, e convida-os a visitar o site da Diocese.
Arango ingressou na Igreja de São Gregório em 2017, depois de passar pelas paróquias estadunidenses de Santa Ana, em Gilbert, Arizona e de São Jerônimo, em Phoenix. Mensagem publicada no boletim paroquial em 30 de janeiro, a comunidade da igreja de São Gregório agradeceu Arango pelos serviços prestados.
“Você ajudou a dar um novo rosto a São Gregório. Durante o seu tempo aqui você compartilhou refeições, deu orientação espiritual, levantou nossa paróquia, levou jovens duas vezes à Jornada Mundial da Juventude, abriu oportunidades para várias viagens à Terra Santa: tudo isso com muita atenção à nossa comunidade e à nossa formação. O impacto que você causou em nossos alunos, paroquianos e funcionários ficará para sempre em nossos corações”, diz a mensagem.
Petição que circula em redes sociais solicita que Arango permaneça na igreja. “Os católicos são ensinados que Deus perdoa, é todo amoroso e mostra compaixão por todos”, lembra a petição.
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Padre celebrou milhares de batismos considerados “inválidos” pela igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU