13 Dezembro 2021
O pastor Ed René Kivitz foi expulso da Ordem dos Pastores da Convenção Batista do Estado de São Paulo por defender a atualização da releitura de textos da Bíblia e o acolhimento de gays na Igreja. Oito minutos de uma pregação proferida em outubro na congregação de Água Branca motivaram o processo disciplinar que encerrou um pastoreio de 30 anos na Igreja Batista.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Na pregação Kivitz afirmou que “a Bíblia precisar ser atualizada e é um livro insuficiente”. Foram os oito minutos “mais polêmicos da minha história de pregador”, disse, ao tomar conhecimento do seu desligamento da Ordem dos Pastores batistas.
A polêmica provocada pelo pastor não vem de agora. Em vídeo de 49 minutos de pregação sob o título “Cartas vivas com letras mortas”, Kivitz enfatiza que a Bíblia precisa ser relida e ressignificada. “Se queremos ser cartas para o novo mundo, se a Igreja quer ser carta para o novo mundo, nós vamos precisar atualizar a Escritura e vamos ter de fazer essa atualização e ter essa coragem de enfrentar os pecados de gênero”. Ele também defende que gays não deveriam ser condenados ao inferno por causa de “dois ou três textos bíblicos que não foram atualizados”.
O pastor de Águas Claras recebeu um balde de críticas da partes de colegas. O pastor Carlito Paes, líder da congregação em São José dos Campos, São Paulo, declarou que quem precisa de atualização é o homem e não a Palavra. “Nossos problemas de intolerância, falta de amor e desumanidade nas igrejas podem e precisam ser encarnados, denunciados para serem resolvidos pela pregação e justamente pela aplicação integral da Palavra de Deus, e não de alguns textos seletivos e fora de contexto”, reportou o portal Pleno News.
Em coluna no portal, o pastor Renato Vargens apontou que Kivitz, “em nome do politicamente correto, nega de modo subliminar as verdades da Palavra de Deus”, defendendo o conceito de que a Bíblia precisa ser interpretada e contextualizada. O pastor Lucinho Barreto, da Igreja Batista da Lagoinha, postou em rede social que a pregação de Ed René é absurda e ridícula: “Antes eram os homens que mudavam por causa da Bíblia, mas agora estão querendo ‘atualizar’ a Bíblia por causa dos homens”.
Em defesa do colega Ed René, o pastor Harold Segura, da Costa Rica, lamentou a decisão dos batistas paulistas. Com a nota disciplinar, Ed René não perdeu tanto quanto a Ordem dos Pastore Batistas, avaliou. “Nós, evangélicos, somos os que mais perdemos tratando nossas diferenças ideológicas (entre elas as teológicas) com sanções. Perdemos porque assim demonstramos a nossa incapacidade de dialogar e de conviver com as diferenças e enriquecer-nos com elas. Tentando defender as doutrinas corretas, incorremos em falsas ortodoxias que nos enclausuram em nosso mundo privado de crenças anacrônicas”.
Segura lembrou exemplos de releitura mencionados por Ed René, como a passagem de Deuteronômio 22, 13-29. O texto regulamenta que, se for provado que, ao se casar, a mulher não era virgem, o marido poderá levá-la à porta da casa dos pais e os homens da cidade matá-la a pedradas, porque “ela fez uma coisa vergonhosa no meio do povo de Israel: antes de casada e enquanto ainda na casa do pai, ela teve relações com um homem”.
Sintonizado com Ed René, Segura frisou que são muitos os textos bíblicos que demonstram a necessidade de uma interpretação contextualizada e atualizada que faça diferença entre o que disse o texto na época e o que esse mesmo texto pode significar hoje. Sem fazer essa ponte, “poderíamos terminar legitimando, como em efeito acontece em muitos setores fundamentalistas, a escravidão, o machismo, o patriarcalismo, a discriminação racial e outros tantos males sociais e culturais”, explicou.
As polarizações políticas estão prendendo as igrejas e denominações, e a intolerância se torna doutrina, destacou Segura. “O que acontece fora, em praça pública, está se refletindo dentro, em nossos organismos sociais”, quando o fanatismo ideológico se traduz em mal-entendidos e o evangelho de Jesus Cristo se dilui e “fica sem força cultural para ser uma alternativa de transformações sociais”, assinalou.
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Batistas desligam pastor que defende releitura da Bíblia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU