06 Dezembro 2021
A violência de gênero á uma das mais comuns no Nepal, informou a diretora de programa do Serviço Mundial da Federação Luterana (FLM) no país, Bijaya Bajrachrya em mesa redonda virtual realizada em novembro com representantes da Ásia, África e América Latina sobre defesa e empoderamento de mulheres.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Um em cada três homens nepaleses acha aceitável bater na esposa por desobediência, revelou Bijaya. A violência no Nepal inclui tráfico sexual e assassinato de meninas, casamento infantil e agressões relacionadas ao dote. Dois terços das sobreviventes não têm como denunciar os agressores ou pedir ajuda.
Um dos trabalhos da FLM no país, junto com outras organizações da sociedade civil, é fortalecer a luta contra a violência de gênero e “mobilizar mais recursos e condenar o rompimento dessas práticas prejudiciais”, anunciou Bijaya.
A pastora Liria Consuelo Preciado, da Igreja Evangélica Luterana da Colômbia, relatou contratempos na aplicação dos direitos das mulheres porque “muitas pessoas acreditam que precisamos retomar aos papéis familiares tradicionais”, anotou o serviço de imprensa da FLM.
Ela revelou que igrejas estão sendo instrumentalizadas para suprimir direitos das mulheres “e a palavra de Deus é usada para justificar a cultura machista e o papel subordinado das mulheres na sociedade”. Junto com lideranças católicas, presbiterianas, menonitas e indígenas a Igreja luterana da Colômbia procura fortalecer os direitos das mulheres e se fazer presente onde há conflito armado e onde as mulheres mais sofrem.
Na África do Sul constata-se “a pandemia silenciosa da violência de gênero”, disse o pastor Denver Grauman, da Igreja Moravia. Neste ano, de abril a junho foram mortas 40 mulheres no país, contabilizou o pastor. Ao abrir o encontro virtual, a diretora do Departamento de Teologia, Missão e Justiça da FLM, Eva Christina Nilsson, apontou que os bloqueios impostos pela Covid-19 aumentaram significativamente o perigo para mulheres que “eram prisioneiras em suas próprias quatro paredes”. Mesmo antes da pandemia, dados mostravam que a cada dia uma média 137 mulheres em todo o mundo eram vítimas de feminicídio.
Como Igreja “somos chamadas a agir porque acreditamos que todos fomos feitos à imagem de Deus para viver com dignidade e com respeito aos direitos humanos”, enfatizou Nilsson. A pastora Preciado apelou a todas/os defensoras/es da justiça de gênero que elevem sua voz profética e falem sobre o que está acontecendo dentro e fora de nossas igrejas. “É importante não ficar em silêncio”, frisou.
No Brasil, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos de idade afirmou, em pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgada em junho, ter sofrido algum tipo de violência no ano passado durante a pandemia de covid, o que significa cerca de 17 milhões de mulheres.
Em artigo para o portal do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, a jornalista Dra. Magali Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser), reportando-se a estudos realizados no país, escreveu que igrejas do país reproduzem, em geral, práticas culturais, desprezando a dimensão evangélica do valor às mulheres.
“Valor evangélico às mulheres não significa apenas a concessão de cargos e microfones para que falem e cantem. Valor evangélico às mulheres quer dizer também tomar para si as suas dores relacionadas aos efeitos maléficos da cultural patriarcal de submissão moral e exploração de seus corpos. As igrejas, na sua maioria, silenciam sobre essas questões e, em certas situações, acabam atuando para perpetuar a violência, reafirmando leituras ideologizadas que indicam ser a submissão das mulheres objeto da vontade de Deus”, anotou Magali.
Conic e FLM se engajam na campanha anual “16 Dias Contra a Violência de Gênero”, da ONU. A campanha teve início no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, 25 de novembro, e se estenderá até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Igrejas devem denunciar agressões de gênero, enfatiza pastora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU