30 Novembro 2021
Na sexta-feira, 26 de novembro, Monsenhor Aupetit confirmou ter entregado seu cargo para o papa. Na diocese, mistura-se a raiva de alguns contra o clamor midiático, de outros contra o governo do arcebispo e, em geral, os questionamentos sobre seu futuro.
A reportagem é de Céline Hoyeau, Clémence Houdaille e Christophe Henning, publicada por La Croix, 29-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Desde o início da semana, vê-se algo como o desenrolar de um drama, do qual se tem a impressão de que o final já esteja escrito... Mas, independentemente do papa aceitar ou não a renúncia do arcebispo, tudo isso é triste. Precisávamos de tudo menos disso". Entre o choque e o sentimento de cansaço, o padre Bruno Lefevre-Pontalis, pároco de Saint-François Xavier, soube, na sexta-feira, 26 de novembro, como os demais sacerdotes da diocese de Paris, que seu arcebispo havia entregado o cargo ao Papa Francisco. Há vários dias, o bispo Michel Aupetit estava no centro de uma série de artigos que questionavam tanto seu governo quanto sua vida privada.
O principal ataque partiu do Le Point que divulgou, desde segunda-feira, 22 de novembro, uma investigação que mesclava diversos acontecimentos complexos administrados nos últimos meses "brutalmente" segundo o semanário - o fechamento do centro pastoral de Saint-Merry, a demissão do diretor do instituto Saint Jean de Passy - mas também as demissões em rápida sucessão de seus dois vigários-gerais - padre Alexis Leproux em dezembro de 2020 e padre Benoist de Sinety em março de 2021 - além de um episódio muito mais antigo sobre sua vida privada e datado de 2012, quando era Vigário Geral da Diocese. Referindo-se a um e-mail que ele havia enviado por engano para sua ex-secretária, o semanário afirma que Monsenhor Aupetit supostamente teria tido um caso com uma mulher "adulta consensual".
O arcebispo se defendeu explicando que uma mulher “havia entrado em contato várias vezes comigo com visitas, e-mails, etc. a tal ponto que eventualmente tive que tomar providências para colocar uma distância entre nós”. No entanto, reconhecia: “O meu comportamento em relação a ela pode ter sido ambíguo, deixando assim subentender a existência entre nós de uma relação íntima e de um relacionamento sexual, o que nego veementemente (...). Decidi não voltar a vê-la e informei-a disso”.
Acrescentava que havia falado sobre tal "situação antiga" com os seus vigários gerais na primavera de 2020 e que a tinha "comunicado às autoridades da Igreja". Poderia ser esse episódio a causa das demissões dos Padres Leproux e Sinety? Ambos se recusaram a responder.
De qualquer forma, um dia após a publicação do artigo de Le Point nas redes sociais, foi convocado com urgência um conselho presbiteral para a terça-feira, 23 de novembro. De acordo com um padre em Paris, o D. Aupetit teria sido solicitado por seus padres a se justificar. “O arcebispo é muito amado e foi defendido”, desmente um dos participantes. Muito impressionadas, as pessoas próximas a D. Aupetit veem "um complô" nisso, uma "armação para destruir o arcebispo", "a partir de fatos condicionais". “Isso é o que se chama de uma execução online, uma investigação contra ele”, lamenta uma fonte próxima ao arcebispo.
Em geral, entre o clero parisiense, havia uma revolta contra os procedimentos midiáticos usados: “Com o pretexto de ser um padre, não teria mais direito a uma vida privada? Em que país estamos? Parece-me totalmente anormal que seja feito um julgamento público por algo hipotético, que aliás não é criminoso nem proibido e nem mesmo constitui crime no direito canônico”, lamenta um padre parisiense, sem, no entanto, querer defender hipotéticos desvios do empenho dos padres para o celibato. “Não acho certo colocá-lo no pelourinho, frisa uma leiga que atua na diocese. Às vezes me aconteceu de criticá-lo por sua desenvoltura, mas descobri um homem de fé, próximo das pessoas e que sabe delegar”.
Ela garante que não se preocupa com "a história que ele poderia ter tido". “E mesmo se os fatos fossem comprovados (…) com respeito aos abusos revelados na Igreja, é bastante reconfortante saber que aqueles fatos teriam ocorrido com uma adulta consensual, afirma ela. Muitos sacerdotes em seu ministério podem ter passado por momentos mais difíceis do que outros”.
Entre os poucos fiéis interrogados na saída da missa, domingo, 28 de novembro, parecia haver mais tristeza do que raiva. Alguns agora duvidam da autoridade e da credibilidade do arcebispo, outros esperam que o papa o mantenha no cargo, mas com "uma atenção à pedagogia" para não suscitar divisões.
O arcebispo confidenciou ao La Croix na sexta-feira que recebeu muitas mensagens de apoio. Bruno Lefevre-Pontalis, que foi vigário geral com D. Aupetit, confirma que pensa “muito nele, porque é uma humilhação, uma provação enorme, com decisões graves a tomar. Sua decisão mostra sua força de caráter e uma certa forma de liberdade. Para ele, o bem da diocese está em primeiro lugar”.
Os padres e os fiéis se perguntam: quem se beneficia com tudo isso? “Por que tornar pública essa informação justamente agora? E quem a vazou?”, se pergunta um padre. Esse artigo do Le Point revela apenas que existe uma coalizão de forças reacionárias de vário tipo, como os tradicionalistas, os descontentes de Saint-Jean de Passy e, do lado oposto, aqueles de Saint-Merry. Todos querem o couro do arcebispo”.
Por outro lado, esses artigos encontraram eco em vários padres ou responsáveis que criticam a sua forma de governar. São aqueles que o consideram um arcebispo "rígido", pouco diplomático em suas ações", que "não escuta ninguém" ou até mesmo governa "com brutalidade". “Vai ser muito duro, justamente como a dureza do arcebispo com seu clero”, reage um deles. “Qualquer pessoa pode ter um momento de desorientação na vida, mas é a dureza com que trata os momentos de desorientação dos outros que se volta contra ele”.
Em sua opinião, essa crise expressa um desconforto mais profundo na diocese. “Para mim, o momento de virada foi a saída dos dois vigários gerais, analisa um observador leigo da diocese. São pessoas de peso que deram muito pela vida da diocese. Não é a primeira vez que um arcebispo toma decisões impopulares. Lustiger, em seu tempo, era divisionista. É preciso ser forte em Paris, isso faz parte do cargo. Mas é mais preocupante que ele não tenha mais a confiança de seus vigários gerais”.
De qualquer forma, as suspeitas sobre sua vida privada ganharam peso e agora levantam questionamentos sobre sua capacidade de governar. “O problema de aptidão para aquele cargo surgiu com a saída dos vigários gerais, lembra um padre. “Sua inércia após o relatório da CIASE levantou questões. Mesmo que tinha ficado claro que ele não era um Lustiger e que preferia uma pastoral de proximidade, havia uma espécie de decepção diante de uma falta de orientação, de perspectiva, de conteúdos ... Mas - e é isso que temo - caso o papa não viesse a aceitar sua decisão, que palavra poderia pronunciar agora? Como recuperar-se? Este caso vai deixar uma marca. Que desastre...".
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O grande desconforto da diocese de Paris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU